Mauricio Ribeiro Damaceno


A HISTÓRIA DAS ENFERMIDADES: DA POSSÍVEL CAUSA DA PESTE NEGRA AO SURGIMENTO DO MÉDICO DA PESTE [SÉC. XIII-XIV]



A proposta deste trabalho é trazer uma nova perspectiva para a análise da Peste Negra, relacionando a perseguição aos hereges e a emissão de decretos pelo papa e pela Santa Inquisição. Um destes documentos, fez nascer a crendice do gato preto como animal usado nos rituais heréticos. A caça a estes felinos fez diminuir o seu número em toda Europa, propiciando a proliferação de ratos e o aumento de hospedeiros transmissores da Peste Negra. Neste cenário de caos e mortandade elevada, surgiu a figura do médico da peste. Este personagem foi envolto em uma áurea de simbolismo e crenças que precisam ser estudadas e analisadas. Enfermidades como a Peste, certamente alteraram os rumos da sociedade medieval, sendo papel do historiador fazer tais análises e ponderações.

Esta doença matou 1/3 da população europeia a partir do século XIV, sendo com absoluta certeza a maior e mais funesta epidemia registrada pela história. As manchas escuras que apareciam na pele dos infectados deram origem ao nome desta doença. Ela teve suas origens na Ásia Central, espalhando-se por terra e pelo mar. No ano de 1334 foram registradas cinco milhões de mortes na região do norte da China e na Mongólia. A peste seguiu matando em lugares como a Mesopotâmia e Síria, onde suas estradas ficaram cobertas de cadáveres daqueles que tentavam fugir das cidades. Em Alexandria os mortos permaneciam insepultos e na cidade do Cairo eram atirados em valas comuns. Só no Oriente, o número de mortos chegou a 24 milhões.

Nos anos seguintes, ainda no século XIV, a epidemia seguiu deixando seu rastro de morte pela Criméia [1347] e no ano de 1348 chegou a Marselha na França, graças ao ancoro de embarcações genovesas. A doença dizimou a maioria da população de Marselha em apenas um ano. Em 1349 a peste alcançou a região central e norte da Itália e dali se desdobrou por toda a Europa. Enquanto avançava, a Peste espalhava desolação e morte tanto nos campos, quanto nas cidades, a ponto de povoados inteiros virarem cemitérios [Lopes, 1969, p.172].

Assim, cientes do poder destrutivo e das mudanças provocadas por esta enfermidade, cabe à historiografia contemporânea se perguntar qual a relação do surgimento e propagação desta doença com as ações do Papa e da Santa Inquisição? Qual o papel e a concepção simbólica que envolveram os profissionais da saúde que ficaram conhecidos como médicos da peste?

A perseguição aos gatos pretos: uma crença mortal
Os estudos parecem se desviar de um dos motivos que possivelmente ocasionou a morte de milhares de pessoas em todo Oriente e Ocidente durante a Baixa Idade Média. As causas para o elevado número de mortos parece ter recebido uma grande colaboração de ações mal pensadas pelos membros da Igreja e por consequência, da Santa Inquisição. Para discorrer sobre isto, é preciso analisar dois importantes documentos emitidos por esta instituição: as bulas Licet ad capiendos e Vox in Rama.

A primeira bula foi um importante documento emitido pelo papa Gregório IX [1145-1241] em 20 de abril de 1233 e se destinava aos dominicanos, que passaram a conduzir o trabalho de investigação, julgamento, condenação/absolvição daqueles que houvessem cometido algum ato de heresia. Este documento fundou oficialmente a Inquisição como é conhecida atualmente. O decreto destaca que:

“Onde quer que lhes [hereges] ocorra pregar, estais facultados, se os pecadores persistirem em defender a heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre dos seus benefícios espirituais e a proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis” [Gregório IX, 1233].

No trecho acima fica evidente que, para o Papa, o ato de heresia, ou seja, de seguir em desacordo com as leis da Igreja Católica e com os mandamentos de Deus, deveriam ser censurados e “cortados pela raiz”. Aquele pego em desacordo com os ensinamentos passaria por um tribunal responsável por julgar seus atos e lhes aplicar punições, se necessário. Isto certamente permitiu que no decorrer de seis séculos, a Inquisição trabalhasse de maneira impiedosa, atingindo as camadas políticas, econômicas, sociais e culturais da sociedade medieval e moderna. O suspeito da prática de heresia muitas vezes era investigado por pessoas nomeadas pelo Santo Ofício antes de ser julgado por três inquisidores no tribunal, onde um deles era o inquisidor-mor, responsável pela sentença final.

No entanto, os decretos de Gregório IX não pararam por aí. No dia 13 de junho de 1233, o Papa promulgou outro documento que abria precedentes para a caça aos felinos, em especial aos gatos pretos. A bula não condenou este animal, mas ao ligá-lo à prática de seitas demoníacas, o envolveu no ato e assim o colocou em condição desfavorável perante a sociedade medieval. Tal decreto foi encaminhado a Henrique [1211-1242], Rei da Alemanha e filho do Imperador Frederico II [1194-1250], tendo início com um prólogo que, envolto com imagens bíblicas, fez a descrição de infortúnios que se abatiam sobre a Igreja, tais como rumores de práticas de bruxaria no norte da Alemanha. A carta não foi tímida em seus detalhes e muito menos em expressar a angústia do Papa. Ela descreve que:

“Quando um noviço deve ser iniciado, é levado perante a assembléia dos ímpios pela primeira vez, uma espécie de sapo lhe aparece; um sapo de acordo com alguns. Alguns dão um beijo sujo nas suas partes traseiras, outros na sua boca, a chupar a língua do animal [...]. O novato se apresenta e fica diante de um homem de palidez temerosa. Os seus olhos são negros e o seu corpo tão fino e macilento que parece não ter carne e ser apenas pele e osso. O novato beija-o [...]. Depois de beijar ele deixa cada resquício de fé na Igreja Católica que permanecia no coração de noviço. Então todos se sentam para um banquete e quando se levantam depois de terminado, um gato preto emerge de uma espécie de estátua que normalmente fica no local [...]. É tão grande como uma estátua de tamanho parecido com um cão, e vira para trás com a cauda ereta. Primeiro o noviço beija as suas partes traseiras, depois os Mestres de cerimônias continuam a fazer o mesmo e finalmente todos os outros por sua vez; ou melhor, todos aqueles que merecem a honra. O resto, que são aqueles que não são considerados dignos deste favor, beijam o Mestre de Cerimônias” [Gregório IX, Junho/1233].

E mais adiante completou:

“[...] Todos os anos, na Páscoa, quando recebem o corpo de Cristo do sacerdote, guardam-no na sua boca e atiram-no para a terra como um ultraje contra o seu Salvador. Além disso, estes mais miseráveis [...] na sua loucura dizem que o Senhor fez o mal ao condenar Lúcifer para o poço sem fundo” [Gregório IX, Junho/1233].

As duas passagens mostram uma preocupação do papa com os rituais de bruxaria e de adoração ao demônio, mas também revelam um acontecimento marcante tanto para a Peste Negra, quando para o surgimento de superstições que até hoje existem. É verdade que ela não diz que o gato era considerado um ser satânico ou algo desta natureza, mas o simples relato de sua presença nos rituais se encarregou disto. Outrossim, é importante ressaltar que não era qualquer felino: o documento relata a presença de gatos pretos.

A Vox in Rama apresentou os rituais depravados do culto com riqueza em detalhes, representando o diabo idolatrado pelas bruxas como um meio gato sombrio [preto] e meio homem. Seu efeito a longo prazo, no entanto, foi criar uma nova visão do gato na sociedade europeia em geral, convertendo-o de um animal sagrado pagão a um agente do inferno. Essa demonização possivelmente levou à perseguição generalizada e violenta de gatos pretos. Essa perseguição teria sido tão brutal que acredita-se que, por volta de 1300, o contingente de gatos na Europa estava suficientemente esgotado ou drasticamente reduzido para impedir a proliferação de ratos e camundongos.


Figura 1- Perseguição aos gatos
Fonte: Ilustração de um manuscrito produzido na Bretanha, datado de 1430 – 1440

Na miniatura acima, criada na metade do século XV, mostra no centro, um gato em cima de uma árvore, acuado por cães e homens    que certamente o seguiram. A cena revela uma prática de caçada, pois um dos homens toca uma trompa [instrumento símbolo da prática], enquanto os demais seguram arcos e flechas, disparando contra o animal que já se encontra ferido e ensanguentado em função de um ferimento causado por uma seta ainda cravada em seu corpo. Esta imagem comprova a tese de que estes animais foram perseguidos após a promulgação da bula de junho de 1233.

A Igreja parece ter dado “um tiro no próprio pé”, já que com o massacre de gatos devido a crenças religiosas infundadas, houve um enorme aumento da população de ratos em toda a Europa, e como estes roedores eram ótimos hospedeiros para as pulgas, não é leviano pensar que as bactérias Yersinia pestis [ainda não conhecidas no medievo], tenham encontrado, sem esforços, transmissores em larga escala da mais devastadora pandemia da história da humanidade, que matou aproximadamente 200 milhões de pessoas na Idade Média. Os Inquisidores acabaram então, cavando a própria cova.

Agentes da cura: a representação dos Médicos da Peste
Até aqui abordou-se o possível motivo para o surgimento e a propagação da Peste por toda Europa. No entanto um personagem importante neste período e que em raras ocasiões aparece nas narrativas historiográficas da Peste, foi o indivíduo que ficou conhecido como Médico da Peste. Estes profissionais faziam parte de uma categoria especial que tratava aqueles que foram contaminados pela peste. Esses físicos foram contratados para atuarem nas cidades que tiveram muitas vítimas em tempos de epidemias. O tratamento publico, ou seja, para a população rica e pobre dependia do pagamento de seus salários pela cidade. No entanto, certamente não seria incomum os tratamentos particulares a pacientes e seus familiares. Eles tratavam os pacientes segundo seus acordos e eram também conhecidos como médicos municipais ou comunitários. Além disto, tinham a responsabilidade de gravar em registros públicos as mortes em decorrência da praga [Cipolla, 1977, p. 65-68; Rosenhek, 2011; Byrne, 2006, p. 170].

Normalmente, não eram físicos treinados ou cirurgiões com ampla experiência, e muitas vezes eram médicos que ainda não haviam conseguido estabelecer-se na profissão ou jovens que estavam tentando conseguir o seu lugar de destaque. Em lugares como a França e nos Países Baixos não era incomum encontrar aqueles que não possuíam nenhuma formação médica e eram referidos como "empíricos".

Por outro lado, esses médicos comunitários foram de grande valia e receberam privilégios exclusivos, tais como autorizações para realizar autópsias, que foram proibidas ou limitadas para outros médicos de categorias diferentes na Europa Medieval. Em algumas situações, estes profissionais eram tão estimados que cidades como Orvieto chegou a contratar homens como Matteo fu Angelo [?]  em 1348 por 4 vezes a taxa normal de um médico que era de 50 florins por ano. Autoridades eclesiásticas também deram grande importância a esta função: o Papa Clemente VI chegou a contratar vários médicos extras durante o surto da doença, para atender os enfermos de Avinhão. No entanto, em cidades como Veneza, dos dezoito médicos que ali trabalhavam, apenas um permaneceu na cidade em 1348, pois cinco teriam morrido da peste e doze estavam desaparecidos ou fugiram [Cipolla, 1977, p. 65-68; Ellis, 2004, p. 202; Byrne, 2006, p. 168-169; Simon, 2005, p. 3].

Outra particularidade destes profissionais eram suas vestimentas. Alguns médicos de peste usavam um traje especial, apesar das fontes gráficas mostrarem uma variedade de peças de vestuário. O traje de proteção incluía um sobretudo de tecido pesado, que era encerado, uma máscara com aberturas de olhos de vidro e um nariz em forma de cone [como um bico] com interior composto por ervas aromáticas e palha. As vestimentas também incluíam na maioria das vezes um chapéu de aba, tipicamente utilizado para identificar sua posição como médico [Boeckl, 2000, p. 15-27; Byrne, 2008, p. 505].

Dentre as substâncias presentes nas máscaras estavam o âmbar, folhas de hortelã, erva-cidreira, cânfora, cravo, láudano, mirra, pétalas de rosa e estoraque. O aroma perfumado servia para proteger o médico do ar contaminado. A palha servia como um filtro para o "mau ar". Já o bastão ponteiro de madeira na mão do físico, foi usado para ajudar a examinar o paciente sem a necessidade de tocá-lo e, quando solicitado, como um meio de se arrepender dos pecados através de golpes com este instrumento, pois muitos acreditavam que a praga era um castigo divino [Byrne, 2006, p. 170; Loudon, 2001, p. 189; Pommerville, 2010, p. 9; O’Donnell, 1936, p. 14].

O médico da peste com maior prestígio teria sido Guy de Chauliac [1300-1368]. Ele estudou Medicina em Toulouse antes de ir para Montpellier, de onde seguiu para Paris, onde viveu entre 1315 e 1320 e em 1325 tornou-se mestre de Medicina e Cirurgia. Com a conclusão de seus estudos no reino da França, foi para Bolonha estudar a anatomia onde recebeu os ensinamentos de Nicolau Bertuccio [?-1347], com quem possivelmente aprendeu técnicas cirúrgicas. Com o crescimento de sua fama, foi convidado para a corte papal em Avinhão, para servir como médico pessoal do Papa Clemente VI [1291-1352]. Mais tarde, tornou-se médico pessoal do Papa Inocêncio VI [1282-1362], e do Papa Urbano V [1310-1370] [Thevenet, 1993, p. 208].

Com a chegada da Peste Negra a Avinhão em 1348, os médicos fugiram da cidade, mas Chauliac ficou, tratando de doentes de peste e registrando os sintomas. Ele chegou a alegar ter sido contaminado, mas se curou graças às suas técnicas. Em sua obra intitulada Cirurgia Magna relata a chegada doença e suas categorias. No relato ele disse que:

“[...] apareceu em Avinhão, no ano de nosso Senhor de 1348, no sexto ano do pontificado de Clemente VI, ao serviço do qual eu era então, por sua graça, o servidor indigno. [...] A dita mortalidade começou para nós no mês de Janeiro e durou pelo espaço de sete meses. Ela foi de duas espécies: a primeira durou dois meses, com febre continua e expectoração de sangue; e morria-se disso em três dias. A segunda ocupou todo o tempo restante, também com febre contínua, abcessos e carbúnculos nas partes externas, principalmente nas axilas e nas virilhas: e morria-se dela em cinco dias. E era de tal modo contagiosa [...] que as pessoas morriam sem ajuda e eram sepultadas sem padre. O pai não visitava o seu filho, nem o filho os seus pais. A caridade estava morta e a esperança abatida [...]” [Chauliac, 1363, p. 167].

No trecho acima é possível contatar o ano em que a doença chega ao reino da França [1348], tendo um período de auge nos sete meses que se seguiram após sua primeira aparição. Outro ponto importante é a classificação feita da doença em duas formas: a conhecida como peste negra [peste bubônica] com ocorrência de febres e aparição de abcessos; e aquela que ficaria conhecida mais tarde como peste pneumônica [peste pulmonar] com sintomas de febre e infecção pulmonar com escarros de sangue. Por fim, cabe ressaltar o medo que se espalhou por toda sociedade medieval a ponto de os filhos abandonarem seus pais ou igualmente ao contrário. Não havia mais o princípio cristão da caridade, restando apenas a desesperança.

Nas linhas seguintes a este trecho, Guy afirma que o mundo nunca havia visto uma doença tão poderosa como esta: nem a que surgiu região da Trácia, ou a relatada por Hipócrates em sua obra Epidemias, ou a que aconteceu no tempo de Galiano abordada no livro De euchimia, ou ainda, aquela da cidade de Roma no tempo de Gregório. As razões para sua aparição, segundo Chauliac, seria de natureza universal (posição de Saturno, Júpiter e Marte, em 24 de março de 1345, no 14º grau de Aquário, indicando grandes mortandades) e particular (disposição dos corpos, o enfraquecimento e o fechamento dos poros, levando à morte a populaça, os laboriosos e os que viviam mal) [Chauliac, 1363, p. 167-170].

Em relação aos tratamentos, os físicos da peste praticavam sangria e prescreviam diversos tipos de medicamentos e técnicas, como colocar rãs ou sanguessugas nas ínguas para reequilibrar os humores. A interação com o paciente era limitada já que havia a possibilidade de propagação da doença, estando eles também sujeitos a quarentena (Byfield, 2010, p. 37; Gottfried, 1983, p. 126]. Segundo Chauliac, os métodos preventivos incluíam:

“[...] fugir da região antes de ser infectado; purgar-se com pílulas aloéticas, diminuir o sangue por flebotomias, purificar o ar pelo fogo, confortar o coração com teriaga, com frutos, com coisas de bom cheiro, confortar os humores com bolo armênio e resistir à putrefação com coisas ácidas [...]” [Chauliac, 1363, p. 170].

Em suma, a peste foi absolutamente uma das doenças mais mortais de toda história da humanidade e por isto, desperta bastante interesse dos trabalhos acadêmicos. No entanto, fatores importantes são deixados de lado, como é o caso das bulas emitidas durante a Inquisição e sua possível relação com peste. Percebe-se, que apesar de não condenar explicitamente os gatos, o documento emitido por Gregório IX em Junho de 1233 com absoluta certeza serviu de pretexto para a caça deste animal. Sua morte em larga escala, provocou em médio e longo prazo o aumento do número de ratos e possibilitou a proliferação da peste. Esta doença mudou os rumos da sociedade medieval e abriu caminho para outra profissão: os médicos da peste. Nomes como Guy de Chauliac conseguiram destaque e deixaram um importante registro para as futuras gerações de físicos e cirurgiões que ainda teriam um longo e mortífero período até o controle de tal pestilência.

Referências
Mauricio Ribeiro Damaceno é professor efetivo de História pela SEDUC-MT, graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás, Mestrando em História pela Universidade Federal de Goiás, e Especialista em Ensino de História pela Faculdade Única de Ipatinga-MG.

Fontes:
CHAULIAC, Guy. “Cirurgia Magna de Gui de Chauliac.1363”. Tradução de: E. Nicaise. Paris: Bibliothèque Nationale de France. 1890.
GREGÓRIO IX. “Licet ad capiendos”. 1233. In: RIPOLL, Thomás; BRÉMOND, Antonin Bullarium Ordinis Fratrum Praedicatorum. Roma, 1729, I, 47.
GREGÓRIO IX. “Vox in Rama”. Junho/1233.  In: CITÉ DU VATICAN, Archivio segreto Vaticano, Registra Vaticana 17, fol. 53-55, c. 177.
BOECKL, Christine M. Images of plague and pestilence: iconography and iconology. Truman: State University Press, 2000.
BYFIELD, Ted. Renaissance: God in Man, A.D. 1300 to 1500: But Amid Its Splendors, Night Falls on Medieval Christianity. Dallas: Christian History Project, 2010.
BYRNE, Joseph Patrick. Daily Life during the Black Death. Westport: Greenwood Publishing Group, 2006.
BYRNE, Joseph Patrick. Encyclopedia of Pestilence, Pandemics, and Plagues. Califórnia: ABC-Clio, 2008.
CIPOLLA, Carlo M. “A Plague Doctor”. In: MISKIMIN et al. [eds], The Medieval City. Yale University Press, 1977, p. 65–72.
ELLIS, Oliver C. A History of Fire and Flame 1932. Montana: Kessinger Publishing, 2004.
GOTTFRIED, Robert S. The Black Death: natural and human disaster in medieval Europe. Nova Iorque: Simon & Schuster, 1983.
LOPES, O. C. A Medicina no Tempo. São Paulo: Edusp/Melhoramentos, 1969.
LOUDON, Irvine. Western Medicine: An Illustrated History. Oxford: Oxford University Press, 2001.
O'DONNELL, Terence. History of Life Insurance in its Formative Years. Chicago: American Conservation Company, 1936.
POMMERVILLE, Jeffrey. Alcamo's Fundamentals of Microbiology. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2010.
ROSENHEK, Jackie. Doctors of the Black Death: The infamous plague doctors of the Middle Ages were a fearsome sight, 2011. Disponível em: http://www.doctorsreview.com/history/doctors-black-death/.
SIMON, Matthew. Emergent Computation: emphasizing bioinformatics. Nova Iorque: Springer, 2005.
THEVENET, Andre: "Guy de Chauliac [1300–1370]: The Father of Surgery". In: Annals of Vascular Surgery. vol. 7, n. 2, p. 208-212.

26 comentários:

  1. Olá,
    Apesar de não ser historiadora, trabalho com História da Educação no Mestrado e me interesso pela História de modo geral. É muito interessante perceber que crendices estão no cerne de práticas como estas negativas sobre os gatos pretos, que acabaram por aflorar doenças. Sugiro evitar a demarcação de certezas absolutas ao longo do discurso, mesmo que seja evidente entre os pesquisadores cabe ponderar a utilização dos termos. Parabenizo pelo trabalho e evidencio que você cita diversas lacunas como as bulas para investigações, seria documentalmente possível realizar uma discussão a este respeito? Em caso afirmativo seria uma ótima indicação para trabalhos futuros de pesquisadores interessados na temática.
    Manuela Ciconetto Bernardi

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    1. Olá Manuela, como está? Espero que esteja bem!
      Agradeço pelas considerações e pela leitura! A Idade Média ainda é pouco revisitada se comparada aos estudos relacionados a outros períodos da história, talvez pela dificuldade de acesso a fontes ou nas traduções. No entanto, tenho me dedicado a alguns anos nesta aventura, apesar de ser meu primeiro artigo sobre a peste (um ensaio, na verdade)! No meu Mestrado em História pela Universidade Federal de Goiás e em pesquisas particulares tenho buscado fortalecer a ideia de um medievo visto também a partir do estudo da medicina, da saúde e das doenças!
      Você tem razão em relação ao uso das verdades absolutas na História! Como historiador, tenho buscado evitá-las, no entanto, a historiografia ou mesmo as fontes podem promover um discurso que pareça convencer o leitor de que é uma informação irrefutável! Mas, isto não é a proposta aqui! A ideia é promover novos debates e alternativas para os discursos nas pesquisas!
      Queria eu poder escrever mais sobre o assunto ainda neste artigo, porém, existe um limite de palavras, dificultando um pouco esta tarefa! O estudo sobre a Peste Negra pode ser revisitado nesta perspectiva e em outras também, já que a obra “Cirurgia Magna” de Guy de Chauliac, bem como as bulas “Vox in Rama” e “Licet ad capiendos”, não estão na integra! São documentos grandes e com um número igualmente significativo de informações e lacunas que podem ser preenchidas por outras fontes também disponíveis a exemplo do “Regimento Proveitoso contra a Pestilência” composto em 1357 pelo médico Johannes Jacobi. Assim, acredito que é possível aprofundar e desenvolver novas pesquisas sobre a temática! Na verdade, é uma demanda urgente!
      Cordialmente,

      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  2. Caro autor,
    Duas perguntas. Vc conhece algum filme ou documentário para abordar com os alunos a questão da peste em sala de aula?
    Você vê alguma relação entre a reação das pessoas com a peste medieval e o coronavírus atual, reações, caminhos? Obrigada.
    Ass. Nathany A. W. Belmaia

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    1. Olá Nathany, como está? Espero que esteja bem!
      Assim como existe uma carência em pesquisas sobre o medievo e em especial sobre a Peste Negra, o número de produções cinematográficas sobre o tema também é pequeno, no entanto, posso te indicar o filme “Morte Negra (Black Death) ” que retrata a perseguição às Bruxas, mas mostra também os efeitos da Peste!
      Bom, está muito claro que a história não se repete e que relembrar o passado é fundamental para que possamos não cometer erros parecidos no presente. No entanto, podemos fazer algumas comparações: a falta de informações ou as informações erradas, provocaram a morte de 1/3 da população do medievo, assim como, as informações erradas na atualidade, pode provocar uma mortandade muito parecida. Perceba que uma autoridade (O papa), ao descrever um ritual de iniciação, pode ter condenado os gatos e com isto, abriu caminho para a propagação da doença. Na atualidade, quando governantes minimizam a situação atual ou passam informações incorretas, poderá causar efeitos semelhantes que outrora.
      Outra semelhança é que desde a Idade Média o uso da máscara (Pelo médico da Peste) é indicado como método preventivo para evitar a contaminação do outro e da própria pessoa. O bastão usado pelo Médico da Peste servia para promover um distanciamento seguro entre o médico e a pessoa cuidada, assim como é recomentado hoje (distanciamento de pelo menos 1,5 m).
      Por fim, cabe ressaltar o depoimento de Guy de Chauliac (médico da Peste) onde ele diz “E era de tal modo contagiosa [...] que as pessoas morriam sem ajuda e eram sepultadas sem padre. O pai não visitava o seu filho, nem o filho os seus pais. A caridade estava morta e a esperança abatida [...]”. Neste trecho achamos uma situação muito semelhante aos dias de hoje, pois os familiares de vítimas do Covid-19 não podem fazer uma despedida adequada e o medo da contaminação e a necessidade de isolamento social, causam também na atualidade uma desesperança e um distanciamento (mesmo que momentâneo) entre pais e filhos.
      Espero ter respondido suas dúvidas!

      Cordialmente,

      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  3. Olá! Que delícia de texto!Parabéns!!!
    Seria correto afirmar que a Peste Negra inaugura a representação de imagens de ordem patológica de quase todos os agentes históricos de uma época?
    Obrigada.
    Celimara Solange da Silva Orlando Curbelo

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    1. Olá Celimara Solange da Silva Orlando Curbelo, como está? Espero que esteja bem!
      Agradeço pelas considerações e pela leitura! Eu diria que sim e não!
      Uma doença como a Peste Negra mudou com certeza toda a sociedade medieval e isto inclui o início de uma representação de imagens de ordem patológica. Com a chegada desta doença e com o passar dos anos, o homem teve que mudar seus hábitos e suas formas de encarar o mundo! A Peste pode ter escancarado os problemas de higiene e sanitários do período, bem como a formas de lidar com estes males e com o corpo, tido até então como inviolável e sagrado. Os equipamentos mudaram, os remédios e as superstições. A morte passa a ser vista como uma situação cada vez mais presente. Estar bem com o corpo (saudável) passou a ser fundamental. Do mesmo modo, com a morte da população mais pobre (camponeses) fica escancarado o grau de miséria deste povo e o quanto eram dependentes de seus trabalhos! A Peste pode ser vista então como um dos marcos divisores daquela sociedade!
      No entanto é preciso cuidado ao dizer que afetou igualmente todos os agentes, afinal, a doença, apesar de não escolher posição social ou lugar, atingiu de forma diferente nobres e camponeses e teve intensidades diferentes nos diversos lugares. A ressalva aqui é para que não haja uma padronização dos costumes e culturas no medievo.
      Espero ter respondido!
      Cordialmente,
      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  4. Olá!É possível destacar características do flagelo da peste negra que abateu fortemente a Europa do século XIV. As consequências se manifestaram assustadoras. Quando metade da população sofre subitamente de uma doença cruel, surge uma pergunta. Como se constituía o imaginário popular a respeito dos acontecimentos catastróficos das epidemias? Gostaria muito de saber mais sobre isso. Agradeço desde já!

    Cordialmente,

    Fernando Moreira Dos Santos Da Costa.

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    1. Olá Fernando Moreira Dos Santos Da Costa, como está? Espero que esteja bem!
      Agradeço pelas considerações e pela leitura! Não sei se entendi bem sua pergunta, mas irei falar um pouco da construção do imaginário medieval a partir da Peste Negra!
      Sabe-se que a Peste Negra afetou profundamente as relações sociais e econômicas da Europa, além de aguçar os problemas da França e da Inglaterra, que estavam vivendo os anos iniciais da Guerra dos Cem Anos. Ela afetou o imaginário dos europeus ao tornar a ideia da morte ainda mais presente em seu cotidiano. Havia ainda a crença de que a epidemia era um castigo divino, pensamento que era reforçado pelos castigos que a Igreja Católica pregava aos pecadores, desde a Alta Idade Média. O corpo, tido como sagrado por muito tempo e, por isto, inviolável, passou a ser melhor estudado em busca de soluções aos males que os infligiam.
      As grandes doenças possuem o poder de alterar não só a concepção a respeito da saúde e da medicina, mas da sociedade como um todo, incluindo a relações sociais. A Peste escancarou os problemas da sociedade feudal e na medida que as estruturas ruíam, as classes populares sofriam as consequências, já que os senhores intensificavam a exploração sobre a massa de camponeses e aumentavam os impostos na tentativa de resolver seus problemas.
      Com a morte de 1/3 da população europeia, os senhores de terras presenciaram uma diminuição considerável da mão de obra disponível, ocasionando também a fome e o aumento da exploração sobre os sobreviventes. Assim, os servos decidiram reivindicar melhorias, provocando sérias revoltas camponesas. Ao mesmo tempo, a burguesia revoltava-se também contra a opressão exercida pelos senhores sobre as cidades. Caminhava-se para o início do período que conhecemos como Idade Moderna!
      Percebeu como uma pandemia pode alterar todos os setores de uma sociedade? Espero ter respondido!

      Cordialmente,
      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  5. Olá, boa noite, adorei o texto e achei bastante didático. De alguma forma é possível a comparação entre os médicos da peste e os médicos contemporâneos que estão trabalhando com a pandemia do covid-19 ?

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    1. Olá Leticia, como está? Espero que esteja bem!
      Agradeço pelas considerações e pela leitura! Apesar de ter acontecido em tempos e lugares diferentes, a Peste Negra pode sim nos fornecer espaço para comparações, atentando sempre para o anacronismo!
      Os médicos (físicos) foram sempre figuras fundamentais ao longo da história. Nos séculos XIII e XIV, com o surgimento dos Estudos Gerais (futuramente, universidades), a profissão ganhou destaque e estas profissionais ganharam espaço inclusive nas campanhas militares, nas cortes reais e papais e nos hospitais. A esperança de cura estava agora dividida entre os doutores da alma (padres) e os médicos do corpo (não me parece muito diferente, não é mesmo?).
      Então, o que mais a Peste Negra pode nos ensinar? Podemos aprender que a falta de informações ou as informações erradas, provocaram a morte de 1/3 da população do medievo, assim como, as informações erradas na atualidade, PODE provocar uma mortandade muito parecida. Perceba que uma autoridade (O papa), ao descrever um ritual de iniciação, PODE ter condenado os gatos e com isto, abriu caminho para a propagação da doença. Na atualidade, quando governantes minimizam a situação atual ou passam informações incorretas, PODERÀ causar efeitos semelhantes que outrora.
      Outra semelhança é que desde a Idade Média o uso da máscara (Pelo médico da Peste) é indicado como método preventivo para evitar a contaminação do outro e da própria pessoa. O bastão usado pelo Médico da Peste servia para promover um distanciamento seguro entre o médico e a pessoa cuidada, assim como é recomentado hoje (distanciamento de pelo menos 1,5 m).
      Por fim, cabe ressaltar o depoimento de Guy de Chauliac (médico da Peste) onde ele diz “E era de tal modo contagiosa [...] que as pessoas morriam sem ajuda e eram sepultadas sem padre. O pai não visitava o seu filho, nem o filho os seus pais. A caridade estava morta e a esperança abatida [...]”. Neste trecho achamos uma situação muito semelhante (mas não igual) aos dias de hoje, pois os familiares de vítimas do Covid-19 não podem fazer uma despedida adequada e o medo da contaminação e a necessidade de isolamento social, causam também na atualidade uma desesperança e um distanciamento (mesmo que momentâneo) entre pais e filhos.
      Espero ter respondido!
      Cordialmente,
      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  6. Olá boa noite, gostaria de deixar minha inquietação quanto ao texto. Na época medieval existiam muitas crendices e noticias de várias formas envoltas em respostas religiosas para a pandemia. Hoje nota-se um mesmo comportamento, em tempos de pandemia atual. Que aprendizagens podemos ter com a pandemia do passado para o presente? Como combater "fake history" em tempos de pandemia, Já que foram e são disseminados de que são "castigo divino" ? Uma outra questão que observei é que foi espalhado pela internet, por meio de um vídeo de Miguel Falabella contanto essa história sobre os gatos, observando a repercussão na internet, também encontrei afirmações de que a história ligando bula papal, massacre dos gatos seria uma "fake history" disseminada. Encontrei o outro lado dessas notícias sobre os gatos em https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/tubo-de-ensaio/mais-fake-history-o-papa-que-mandou-matar-os-gatos-pretos/
    Eu não tenho todas as respostas e não temos acesso a todos os documentos para apurar a história, mas seria interessante termos mais informações. Agradeço por compartilhar o texto.

    Antonio Marcos de Almeida Ribeiro
    macribial@yahoo.com.br

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    1. Prezado Antonio Marcos de Almeida Ribeiro! Agradeço pela leitura!
      Acredito que terei que fazer um trabalho de desconstrução aqui para poder responder suas inquietações.
      Em primeiro lugar, a sociedades, ações, concepções e representações devem ser estudadas e entendidas em seu tempo! Os deslocamentos são potencialmente perigosos! O imaginário medieval não é o mesmo da atualidade e por isto, não serve para justificar erros do presente! A História não é um ciclo! Ela não se repete! No entanto, a história nos serve para entendermos como em diferentes momentos o homem lidou com as doenças, por exemplo, para tentar encontrar através dos recursos que temos no presente, saídas para determinados problemas! Ponto!
      Então, o que a Peste Negra pode nos ensinar? Podemos aprender que a falta de informações ou as informações erradas, provocaram a morte de 1/3 da população do medievo, assim como, as informações erradas na atualidade, PODE provocar uma mortandade muito parecida. Perceba que uma autoridade (O papa), ao descrever um ritual de iniciação, PODE ter condenado os gatos e com isto, abriu caminho para a propagação da doença. Na atualidade, quando governantes minimizam a situação atual ou passam informações incorretas, PODERÀ causar efeitos semelhantes que outrora.
      Outra semelhança é que desde a Idade Média o uso da máscara (Pelo médico da Peste) é indicado como método preventivo para evitar a contaminação do outro e da própria pessoa. O bastão usado pelo Médico da Peste servia para promover um distanciamento seguro entre o médico e a pessoa cuidada, assim como é recomentado hoje (distanciamento de pelo menos 1,5 m).
      Por fim, cabe ressaltar o depoimento de Guy de Chauliac (médico da Peste) onde ele diz “E era de tal modo contagiosa [...] que as pessoas morriam sem ajuda e eram sepultadas sem padre. O pai não visitava o seu filho, nem o filho os seus pais. A caridade estava morta e a esperança abatida [...]”. Neste trecho achamos uma situação muito semelhante (mas não igual) aos dias de hoje, pois os familiares de vítimas do Covid-19 não podem fazer uma despedida adequada e o medo da contaminação e a necessidade de isolamento social, causam também na atualidade uma desesperança e um distanciamento (mesmo que momentâneo) entre pais e filhos.
      Perceba que em momento algum trabalho com a ideia de persistência absoluta ou de uma verdade absoluta. A História não trabalha com verdades absolutas! Não somos uma ciência exata! A qualquer momento PODE surgir uma fonte nova que sirva para desconstruir uma ideia formada e trabalhada até então. Peço que volte em meio artigo, agora com MAIS atenção! Note que ao analisar a FONTE HISTÒRICA, escrevo as seguintes frases “É verdade que ela não diz que o gato era considerado um ser satânico ou algo desta natureza” e “Essa demonização possivelmente levou à perseguição generalizada e violenta de gatos pretos”. Se examinar com cuidado as frases perceberá que eu saliento da NÃO condenação direta do gato, mas informo sobre esta possibilidade. O uso do termo “possivelmente” mostra a ideia de que a História não é uma ciência exata!


      Continua...

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    2. Assim, para se debater sobre um artigo construído com base nos métodos historiográficos, é preciso construir uma narrativa usando dos métodos adequados, atentando para o uso de fontes que são pilares fundamentais neste processo, evitando assim, aquilo que você chama de "fake history". Mesmo em um artigo curto como este, utilizei duas bulas papais (Licet ad capiendos e Vox in Rama) encontradas no Bullarium Ordinis Fratrum Praedicatorum e no Arquivo Secreto do Vaticano, respectivamente. Ambas receberam tratamentos adequados, sendo traduzidas do latim para o português, por nós. Trago ainda, um relato médico presente em uma obra médica escrita originalmente em latim, traduzida no século XIX para o francês e para o português (por nós), tendo sido encontrada na Biblioteca Nacional da França. Por fim, usei uma fonte iconográfica, que aparentemente comprova a perseguição aos felinos, mesmo depois do século XIV. É preciso lembrar que nem sempre um documento tem um efeito imediato em seu tempo, afinal, nem todos sabiam latim e os documentos eram escritos nesta língua! Os efeitos só teriam sido sentidos a médio e longo prazo, a medida que a sociedade foi tomando conhecimento do efeito deste documento! Isto pode ter demorado décadas!
      Para concluir, faço uma análise de um artigo de blog que você aparentemente quer usar como fonte: Este artigo não fez uso de nenhum método que possa dar credibilidade e que o faça aceitável em uma discussão cientifica como esta! Marcio Antonio Campos faz jus à sua formação de jornalista e sua função de blogueiro! Seu texto está repleto de impressões pessoais e juízos de valores, além de não apresentar qualquer fonte que comprove evidências contrárias ao que foi apresentado no meu artigo! Entenda: o historiador não é um “juiz da verdade” e as pesquisas em História, mesmo que feitas por profissionais de outras áreas, não podem se prestar a este papel, assim como não podem ignorar os métodos de pesquisas! Meu trabalho tem o propósito de lançar possibilidades para que novas pesquisas sejam feitas levando em conta esta nova alternativa! Não é possível (ainda) saber como foi exatamente, pois não temos uma máquina do tempo, mas é possível seguir uma “trilha de migalhas” até encontrar aquilo que possa nos dar um panorama aceitável do passado!
      Fica aqui uma sugestão pesquisa: como mostrou interesse pela temática, busque outras fontes que possam comprovar evidencias contrárias e publique o resultado de sua pesquisa! É assim que construímos o conhecimento histórico e chegamos mais pertos de solucionar lacunas do passado!
      Cordialmente,
      Mauricio Ribeiro Damaceno

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    3. Boa noite,

      Não quero de forma alguma deslegitimar seu texto, que inclusive segue um método no qual nós historiadores chamamos de paradigma histórico. O qual percebo também que segue a mesma linha que venho acompanhado na internet: apresentam as bulas e depois a iconografia. Que você faz a leitura correta, como uma caça de um "gato selvagem". O site o qual citei foi o que consegui de imediato para mostrar uma outra versão, mesmo que não sendo de um historiador e que gostaria de saber onde o jornalista se baseou para dizer que essa ideia é uma "fake history", mas nesse momento também me deparo com uma notícia de um órgão da Igreja Católica também afirmando que as bulas foram mal interpretadas por pessoas na idade moderna, que foram os da idade moderna que lançaram a tese dos gatos. (Confira em https://ocatequista.com.br/historia-da-igreja/item/18131-massacre-de-gatos-e-peste-negra-a-igreja-nao-tem-nada-a-ver-com-isso), mas gostaria de ver essa versão dos fatos, pois entre as bulas e a peste negra existe um hiato de tempo de mais de 200 anos. E como poderia afetar no momento da peste. E pra não ficar só em fontes de internet:
      "É o que atesta o medievalista Tim O’Neill:

      Em nenhum momento a bula condena os gatos em geral ou os declara animais satânicos, nem diz que eles devem ser mortos. Não há provas de que esta bula – que foi emitida localmente na área de Mainz e provavelmente era desconhecida em outros lugares – causou algum massacre geral de gatos ou qualquer homicídio de gato. E, portanto, a ideia de que a peste negra, que ocorreu um século mais tarde, foi de alguma forma causada por esse massacre de gatos inexistente não faz sentido. Nós também sabemos que a peste negra devastou a Ásia central e o Oriente Médio, bem como a Europa, então, a razão pela qual as pessoas que ultrapassam o alcance da Igreja Católica também estariam matando gatos é inexplicável. A praga não teve nada a ver com massacres de gatos. (Tim O'Neill. Is the Vox in Rama authentic? What effects did it have? Site Quora)"

      Gostaria muito de pesquisar utilizando nosso método, para verificar, mas estou em outros projetos, que não me deixam tempo.

      Saudações de historiador pra historiador

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    4. Descobrir mais links interessantes, e dessa vez de historiador como nós:
      https://talesoftimesforgotten.com/2019/11/05/were-cats-really-killed-en-masse-during-the-middle-ages/

      Ele escreve totalmente diferente. Um outro discurso sobre a relação gatos e peste negra.

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    5. Ps. só uma correção, a publicação da Bula papal e a peste negra possui 100 anos entre eles e não 200 como afirmei.

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  7. É possível estabelecer um possível paralelo entre a peste negra e a AIDS? Em questão do medo da população e da busca pelo sagrado.

    Obrigada pelo texto.

    Leitora: Sthefany Dos Santos Batista.

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    1. Boa tarde Sthefany Dos Santos Batista, como está? Espero que esteja bem!
      Agradeço pelas considerações e pela leitura! Os jogos das comparações neste caso, parecem um pouco arriscado, pois corremos o risco de cair no anacronismo!
      A Peste Negra foi uma doença causada por uma bactéria transmitida pela pulga do rato. O grande número de contaminados se deve, entre outros fatores, às técnicas precárias ou a inexistência de higiene e saneamento básico. Já a AIDS é uma doença viral, descoberta mais recentemente e que não tem relações diretas com a higiene, mas com outros fatores!
      Na atualidade, a pessoa com o vírus HIV consegue tratamento gratuito. Na maioria dos casos, a pessoa tem uma vida absolutamente normal. Por outro lado, aquele que se contaminava com a Peste não tinha, muitas vezes, um tratamento adequando e nem dispunha de remédios para controlar o efeito da doença! Além disto, como a fé era um mecanismo essencial no medievo, era comum acreditar que a doença era em função dos pecados e que a cura aconteceria de acordo com a vontade divina. A sociedade mudou e a ciência evoluiu muito!
      O apego ao sagrado não é mais o mesmo que outrora
      Cordialmente,
      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  8. Olá, autor. Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo seu texto, ele é deveras interessante, sobretudo quando aborda a questão da simbolização dos gatos pretos por parte da população e como sua caça contribuiu para o avanço da peste; foi bem esclarecedor. Eu queria sua opinião sobre o porquê de ser justamente o gato preto? E como você interpreta o fato dessa simbolização está presente até os dias de hoje?
    Obrigada.

    Giovanna Mayara de Souza Lima

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    1. Boa tarde Giovanna Mayara de Souza Lima, como está? Espero que esteja bem!
      Agradeço pelas considerações e pela leitura!
      Respondendo suas perguntas: Poderia ter sido qualquer outro felino ou qualquer outro animal, no entanto, ao descrever o ritual de iniciação de um noviço às práticas demoníacas, o papa Gregório IX afirmou que o ser existente era um gato preto. A Igreja era a autoridade máxima e a palavra do papa era lei! Ele era o vigário de Deus na terra e o povo, suas ovelhinhas! Os efeitos da bula foram duradouros e ressoam até hoje, já que a Igreja Católica ainda tem grande poder (não como antes, mas tem). Este animal passou a ser ligado a qualquer prática de bruxaria e satânica. O pobre do animal ainda sofre como estas superstições. Todo filme de bruxas, é um gato preto que aparece!
      É importante lembrar que as bruxas, na maioria dos casos, eram apenas mulheres com conhecimento de ervas e medicamento (atividade reservada aos homens).
      Cordialmente,
      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  9. Boa noite. Esse texto foi muito interessante, pois me situou na temporalidade em que houve o masacre dos gatos pretos, na qual achava que havia acontecido no decorrer da peste. Os medicos foram a principal linha de no combate a essa epidemia, pelo visto eles receberam recursos para enfrentar tais questoes e atrairam os holofotes si . Minha pergunta é a seguinte: a profissao de médico ganhou seu destaque após sua eficacia e resultados que a mesma teve no periodo na peste, e isso foi o que favoreceu a evolução e valorização a injeção da profissao nos seculos posteriores ?

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    1. Boa noite, como está ?
      Agradeço pela contribuição e leitura ! A resposta é sim e não !
      A função de Médico da Peste poderia dar ao indivíduo um certo reconhecimento social, mas os médicos já existiam desde a antiguidade!
      É a partir do surgimento dos Estudos Gerais (universidades), no final do século XII, que a profissão ganha destaque. Nos séculos XIII e XIV, estas instituições já contavam com um curso de medicina regularizado, com um currículo e até corporações responsável por avaliar e conceder licenças para a prática médica, a exemplo do Colégio de São Cosme e Damião. Esta regularização aumentou a moral destes profissionais que começaram a serem recrutados para as campanhas militares, hospitais e cortes reais e papais. A corte do rei da França Filipe IV, O Belo, por exemplo, contou com mais de 30 médicos e cirurgiões durante seu reinado e isto acontecia na França desde o rei Luís IX (São Luís) e nos reinados posteriores !
      Em suma, a profissão ganhou destaque por uma série de fatores, mas o principal foi a exigência de formação acadêmica e a regulamentação da profissão!

      Cordialmente,

      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  10. Bruno Moreno Soares
    Boa Noite. Um texto prazeroso de ler. A peste negra foi um marco na Idade Média, devido o efeito dessa doença de deixar milhões de pessoas mortas. Ao ler este artigo me lembrei do filme que assisti O FÍSICO, que mostra a dimensão do contagio que é a peste negra, que se espalha rapidamente e com a ajuda dos estudos medicinais contribuem para erradicar a doença na cidade. O Papa que veio depois de Gregório IX, retirou a bula papal Vox in Rama, que podia perseguir os gatos pretos, devido a peste negra ou não ? fiquei com esta curiosidade.

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    1. Boa noite Bruno Moreno Soares, como está ?
      Obrigado pela leitura e pelas considerações!!
      Esta é uma informação que necessita de uma maior averiguação! As bulas são documentos, as vezes, de difícil acesso e necessitaria um levantamento de todas as bulas emitidas pelo papa seguinte para te dar uma informação precisa ! Isto demanda tempo e paciência para traduzir do latim para o português!
      A hipótese é que o papa seguinte não emitiu nada a respeito, já que os indícios mostram a persistência da prática ! A bula de Gregório IX não é necessariamente uma lei canônica, mas uma descrição de um ritual e, por isto, possivelmente não houve outros documentos anulando este em questão !

      Cordialmente,

      Mauricio Ribeiro Damaceno

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  11. Boa noite Mauricio, tudo bem?
    Bom, primeiramente gostaria de parabeniza-lo pelo texto incrível que você produziu, eu amei! A forma com que você abordou esse tema foi totalmente direta e eu adoro textos assim, sem enrolação.
    Eu conclui ano passado o Ensino Médio e percebi que em meu aprendizado nesse período possui muitas lacunas e a Peste Negra é uma delas. Eu realmente fiquei impressionada, e levemente chocada por assim dizer, com o fato de que houve um massacre aos gatos pretos e que consequentemente a quantidade de ratos transmissores da doença aumentou. Essa informação eu nunca tive.
    De modo geral eu entendi completamente o que você tratou no texto, mas eu fiquei apenas com uma duvida, que pode realmente parecer superficial, mas que eu fiquei muito curiosa em saber.
    Você citou que na cidade de Veneza haviam vários médicos que ali trabalhavam e que a maior parte deles haviam fugidos. Você poderia me informar o motivo dessas fugas? Foi o medo da contaminação, já que alguns de seus companheiros de profissão haviam morrido da doença também?

    Alice Rodrigues Feitoza.

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    1. Boa noite Alice Rodrigues Feitoza, como está ?
      Obrigado pela leitura e pelas considerações!!
      Exatamente! Se na atualidade crises de saúde pública já provocam um medo contante nas pessoas, imagina naquele período ? Os médicos não estavam preparados para atuarem contra aquela doença que estava matando milhares de pessoas por onde passava e, por isto,a grande maioria dos médicos fugiam para não morrerem também ! A fulga não colocava estes médicos na categoria de profissionais ruins! Era o instinto de sobrevivência! Se eu não sei lidar com esta pestilência, melhor fugir e viver mais um pouco !

      Espero ter respondido sua pergunta!

      Cordialmente,

      Mauricio Ribeiro Damaceno

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