Marcos Vinícius da Silva Ramos


A IMPORTÂNCIA DE MARTINHO LUTERO NO ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL



Introdução
Um dos grandes problemas dos livros didáticos de História é a insistência em periodizações, pois estabelece rupturas bruscas, dividindo a história em grandes épocas como antiguidade, idade média, moderna e contemporânea. Assim, é proposta uma “explicação” que ignora as permanências e continuidades contidas nos diversos processos históricos. Não cabe a nós criticar o livro didático em si, mas como alguns deles apresentam aos alunos a dicotomia entre idade média x idade moderna, dando a entender que os dois períodos são exclusivamente antagônicos. Além disso, existem problemas relacionados à pré-conceitos que se perpetuam e partem dos pressupostos pejorativos, como trevas e atraso. Como nos traz Sônia Siquelli e Álvaro Ribeiro, “essas características representam alguns dos elementos que são reproduzidos em sala de aula e que levam o aluno a construir uma visão negativa do período medieval”. [Ribeiro; Siquelli, 2017]

Um dos aspectos característicos do medievo é a religiosidade. Religiosidades, para sermos justos. Entretanto, o foco da discussão não é a pluralidade e a complexidade das religiosidades presentes no medievo que produziram embates, mas uma doutrina específica: a divisão do mundo entre dois polos opostos. Tal noção é derivada da concepção agostiniana de luta entre bem o mal, por meio da qual Deus e o Satã, representados pelas luzes e trevas, respectivamente, guerreiam pelo mundo [Amaral, 2019].

Nessa concepção, que é tida como um dos pilares religiosos do período medieval, a ecclesia representava Deus nessa empreitada que é própria de uma racionalidade presente no medievo. Entretanto, a partir do renascimento e, sobretudo com a reforma protestante e o iluminismo, as lógicas medievais foram postas no campo do “encantado” e “ficcional”, sendo amplamente rejeitados pela “modernidade” e seus postulados. Não é de se surpreender que os prosélitos do campo protestante arroguem em torno de si a imagem de modernos que romperam definitivamente com todas as “amarras medievais” produzidas por longos séculos que, em tese, definharam a cultura clássica e puseram o cristianismo em posição torpe e decadente. Ou seja, a Reforma Protestante seria o ponto de ruptura entre essas lógicas e inauguraria o pensamento moderno/racional. Seria minimamente incoerente não levar em consideração, nesse processo, a figura de Martinho Lutero, alguém cuja agência teria contribuído para o início de tal processo.

O reformador alemão, numa lógica prosélita, significa o marco desta ruptura, pois “o pensamento de Lutero representa um rompimento de uma lógica do medievo, inaugurando assim o que se considera hoje o pensamento moderno” [Santos, 2017, p.29]. Não há dúvidas de que o alemão rompeu com a Igreja Católica em muitas questões, mas enfatizamos que o mesmo continuou compartilhando doutrinas e lógicas com a mesma tradição que o formou. Lutero, nesse caso, não deve ser visto como um agente responsável por uma ruptura total, mas como um personagem que mesmo rompendo com algumas ideias mantém determinada continuidade em outras, mostrando-nos a complexidade de qualquer processo histórico que não pode ser visto sobre a lógica pura e simples de bruscas rupturas. A crença de Lutero no diabo e seu poder, ideias “propriamente medievais” mostra-nos um pouco disso que a “modernidade” e o proselitismo tentam negar. Tal proselitismo, infelizmente, acaba influenciando certos materiais didáticos.

Diabo: uma história
O diabo, como qualquer outra figura, é uma construção histórica. Nesse sentido, recorremos a Robert Muchembled. Em uma de suas obras o autor busca historicizar tal figura entre os séculos XII e XX, levando em consideração desde o imaginário popular e religioso às produções culturais em geral. Muchembled desacredita, por exemplo, no suposto desencantamento do mundo ocidental que, teoricamente, fora trazido pelo Iluminismo e como legado transformou as sociedades ocidentais em grupos racionalistas que negariam qualquer tipo de ligação ao sobrenatural. Para o historiador, o diabo nunca saiu de cena, mas, passou por mutações e transformações, tornando sua presença em diferentes campos do pensamento e da arte inegáveis. [Muchembled, 2001, p. 8].

Para Robert Muchembled, o diabo “nasce” na Idade Média e ganha várias formas. Ora simboliza o mal genericamente, ora é representado como um animal feroz. A ideia e o nascimento do diabo não podem ser desvinculados do pensamento agostiniano, sobretudo, da divisão do mundo em forças malignas e forças divinas, em que o Diabo e Deus disputam o mundo. Para Jacques Le Goff:

“[...] essa Longa Idade Média é dominada pela luta, no homem ou em volta do homem, das duas grandes potências, por pouco não iguais – se bem que uma delas esteja teoricamente subordinada à outra, que são Satanás e Deus. A longa Idade Média feudal é a luta do diabo com o senhor Deus. Satanás nasce e morre nos dois extremos deste período”. [Le Goff, 1994, p.39].

O diabo, durante o medievo, assumiu inúmeras faces. Em específicas culturas, assumia aspecto de bode pela associação aos deuses Pã e Thor. Já no concílio de Toledo, em 477, era descrito como um ser “grande e negro, com garras, orelhas de asno, olhos faiscantes e dentes rangentes, dotado de um falo enorme e espalhando odor de enxofre”. Já na arte gótica do século XIII, o diabo não é posto em local medíocre, sempre está nos centros – sendo esmagado por Jesus – e ganha aspecto pitoresco, impotente. A partir disso vemos a complexidade dessa figura que ganhou formas e contornos específicos em cada período do medievo. Como dito, acreditar que tais pensamentos formulados e reformulados por séculos de tradição fosse se encerrar na Reforma Protestante seria, no mínimo, ingênuo, para não dizer pueril. Entretanto, como mencionado, parece que tal realidade cessou com a adesão da famigerada modernidade, que, para se manter epistemologicamente, nega, necessariamente, os pressupostos “irracionais” e “encantados”, “tipicamente medievais”.

Lutero em alguns livros didáticos
A figura de Lutero, normalmente, encontra-se atrelada à Reforma Protestante ou às Reformas Religiosas em geral. Além disso, a figura do reformador, comumente, está amplamente associada à modernidade, ao novo, ao rompimento com o passado. Para a análise em questão três exemplares diferentes foram escolhidos: “História”, do ensino médio do Governo Estadual do Paraná, “Jornadas”, da editora Saraiva e “História mosaico”, da editora Scipione.

No primeiro livro, Lutero e sua reforma são apresentados assim:

“Lutero denunciou, através de 95 teses, o que considerava irregular na Igreja Católica. Em 1519, afasta-se definitivamente do catolicismo. Suas propostas provocaram um intenso movimento de transformação ideológica e espiritual, que ficou conhecida como Reforma Protestante. Por meio dessa iniciativa, a Igreja Católica rompeu com Lutero”. [Bonini et al., 2007, p.333].

Em seguida, é enfatizado que os motivos que levaram à Reforma não foram meramente religiosos, mas impulsionados, também, por questões econômicas:

“Embora os motivos religiosos tenham sido os mais evidentes para que Lutero formulasse novos conceitos espirituais, os econômicos também estavam ligados a essa nova prática religiosa. A Igreja Católica, através de seus ensinamentos, condenava o lucro, apesar de cobrar dízimos e vender indulgências que enriqueciam esta instituição. Essas atitudes da Igreja Católica não eram favoráveis às aspirações burguesas pelos lucros com o comércio e com as finanças”. [Bonini et al., 2007, p.333].

Posteriormente, o livro traz uma concepção redutora do medievo que se remete à dicotomia feudalismo x opressão,

“Depois da burguesia, restava a maioria da população alemã, composta pelas classes camponesas, explorada ao máximo. Esse grupo via a Igreja Católica como o sustentáculo da formação social que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos, tais como o dízimo” [Bonini et al., 2007, p.333].

A mensagem do reformador é vista como um ponto de conversão entre um sistema opressor e um novo modo de pensar por intermédio de aspectos religiosos e econômicos.

No segundo livro, ao falar sobre Lutero e suas doutrinas, vemos tal informação:

“Por sua atitude, Lutero foi considerado inimigo da Igreja católica e, em 1520, foi excomungado pelo papa Leão X. Fundou uma nova religião também baseada nos ensinamentos de Cristo e na crença de que ele era o filho de Deus e o salvador dos homens”. [Vaz; Panazzo, 2016, p.179].
Posteriormente, ao se referir à celeridade da nova religião, lemos o seguinte:

“A religião luterana espalhou-se com rapidez pelo Sacro Império Romano-Germânico, atraindo grande parte da população. As diversas camadas da sociedade tinham razões para estar descontentes com a Igreja católica: os camponeses porque, desde a Idade Média, eram explorados como servos; os nobres porque tinham suas terras apropriadas pelo clero; os burgueses porque o comércio era uma atividade malvista pelo catolicismo”. [Vaz; Panazzo, 2016, p.179].

Por fim, no terceiro livro, sobre a rápida difusão dos ideais do reformador alemão, lemos:

“As ideias de Lutero, porém, espalharam-se rapidamente por toda a Alemanha, pois havia um clima de descontentamento com as atitudes da Igreja. Nobres e camponeses apoiaram Lutero: os senhores ambicionavam apoderar-se das terras da Igreja e ampliar seus poderes, abalados com a decadência feudal; os livradores desejavam escapar das obrigações feudais (entre elas, o pagamento do dízimo À Igreja)”. [Vaz; Panazzo, 2016, p.179].

Posteriormente, vemos um pouco mais sobre a doutrina luterana:

Apenas as práticas instituídas por Cristo e por ele transmitidas no Novo Testamento deveriam ser conservadas. Dessa maneira, dos sete sacramentos defendidos pela Igreja católica, apenas dois tiveram sua existência reconhecida pelos luteranos: o batismo e a eucaristia. Repudiou-se o culto à Virgem e aos santos e foi negada a existência do purgatório”. [Vaz; Panazzo, 2016, p.169].

Tal perspectiva apresentada nesse livro não diverge muito das outras. Há, entretanto, uma preocupação em reafirmar não só o caráter inovador de Lutero, mas também a peculiaridade iconoclasta que caracterizou a Reforma Protestante. Essa “natureza iconoclasta” associada à Reforma é amplamente arrogada pelos estudos confessionais e, infelizmente, influenciam materiais didáticos, como vimos. Felizmente, tal caráter vem sendo revisado e criticado. Um estudo recente defende um tipo de “hagiografia protestante” baseada em “O Livro dos Mártires” de Jean Crespin, publicado inicialmente em Genebra, 1554, e reeditado até 1619. De acordo com João Rangel:

“Esta obra foi consagrada aos protestantes julgados e condenados à morte por heresia. Trata-se, portanto, de uma obra que narra os casos de martírio protestante e que será lida durante os cultos a fim de relembrar e fortalecer na fé os que estão sendo perseguidos. Ou seja, durante a Reforma, pode-se encontrar obras que tal como hagiografias medievais apresentavam um projeto exemplar mediante a vida (e a morte) dos seus <<santos>>”. [Rangel, 2019, p.11].

Além disso, a ênfase em uma concepção totalmente inovadora ignora o fato de Martinho Lutero ter continuado a compactar com algumas doutrinas católicas. O conceito de escatologia, por exemplo, não foi em momento algum contestado por Lutero. A ideia católica da segunda vinda, da ressurreição dos mortos e do juízo final fora compartilhada pelo mesmo Lutero e por outros reformadores [Riddlebarger, 2017]. Ora, mesmo não fazendo parte dos solas que ajudaram a caracterizar a Reforma Protestante de Lutero, seria imprudente se referir à escatologia como um conceito qualquer; pelo contrário, é algo essencial no pensamento cristão, afinal, é o fim do mundo terreno e o início da vida celestial. É, em suma, o evento pelo qual todo cristão, teoricamente, anseia. Este era, inclusive, algo pelo qual o próprio reformador esperava (aqui fica explícita sua concepção de História) e fazia prognósticos. Era com bastante frequência que o reformador alemão dizia que o fim estava próximo e devia ser esperado para o próximo ano ou mesmo para o ano vigente; inclusive, por amor aos seus, Deus abreviaria o tempo e traria, o mais cedo possível, o juízo para os justos e os injustos [Koselleck, 2006, p.25]. É inegável que o reformador tenha ajudado a trazer ao mundo ocidental uma nova maneira de enxergar muitos aspectos do cristianismo, inclusive, foi rotulado de herege por isso. Mas vê-lo como um homem totalmente inovador/revolucionário, descolado de sua época, cultura e tradição (católica/agostiniana) é um grande equívoco. Seria desonesto, diriam outros.

Lutero e o diabo: fim do pensamento medieval (irracional) e início do moderno (racional)?
“Martinho Lutero acreditava no diabo”, assim Robert Muchembled começa um de seus capítulos sobre o diabo na Alemanha Protestante [Muchembled, 2001, p.147]. O historiador mostra que Lutero compartilhou das crenças clássicas de sua época em relação ao diabo. Segundo Muchembled, o religioso alemão defendia que Satã não era apenas causador das más situações, mas um agente ativo na vida cotidiana, podendo agir de diversas formas: habitando o corpo de hereges, prostitutas e feiticeiras, ou se fazendo de anjo e tentando se passar por Deus; poderia, também, assumir a forma de leão, porco, cão e dragão (o exemplo do dragão mostra-nos a racionalidade presente no medievo que não é compreendida: no fundo, não importava a real existência ou não do dragão, mas existiam forças que eram poderosas o suficiente para fazê-lo existir). Estes exemplos mostram-nos que a figura do diabo era mais que presente na vida de Lutero, ganhava forma e poder.

Em “Uma Breve Instrução sobre Como Devemos Confessar-nos” [Lutero, 1987, p.233], Lutero diz que é importante confessar os pecados do coração, que são ocultos e conhecidos unicamente por Deus, pois é impossível evitar pecados diários, porque, além da natureza corrompida, o diabo não descansa. Ou seja, este é um agente que está ali sempre introduzindo pensamentos pecaminosos e desejos enganosos no coração das pessoas. Ter uma vida asceta e ligada a Deus é importante, mas é preciso estar em constante vigilância, pois, como dito, o diabo está sempre “procurando brechas” para agir.

Ao dedicar um escrito a Frederico, duque da Saxônia, Lutero diz que a única coisa que importa é agradar a Cristo. O fato, inclusive, “de ser odiado pelo diabo e seus asseclas” o alegra demasiadamente e isto é motivo para render graças a Deus. As perseguições, tentações e problemas que o diabo cria para ele são motivo de orgulho, já que, grosso modo, o diabo não precisa se preocupar com os seus, mas com os militantes dos reinos celestes. O diabo o odeia porque seu trabalho estava ajudando a salvar almas e a desvendar pessoas da “cegueira religiosa causada pela Igreja” [Lutero, 1988, p.13].

Em outra carta, em resposta a Cristóvão Blank, Lutero critica a arrogância dos teólogos de Lovaina e Colônia, por estes arrogaram para si o título de portadores da verdadeira teologia, rotulando de hereges os que não concordavam com suas afirmações. Para Lutero, o maior problema era que as pessoas punham suas elaborações teológicas acima da Palavra de Deus, isto, inclusive, simbolizava o anticristo. Segundo o Teólogo em questão:

“Nenhum herege jamais teve a presunção de tal loucura e, quando, até hoje, nem mesmo o diabo ousou empreender algo na Igreja sem a palavra de Deus, coisa que hoje tanto os pontífices quanto nossos mestres usurpam para si com tão grande tirania (mas sob o nome de santa Igreja, ora da romana, ora da católica, ora da representativa, ora da doutrinal), de sorte que, se alguém negar que eles tenham agido corretamente, sim, por ordem divina, condenam-no imediatamente com mil acusações de heresia e o devotam a ambos os fogos, ao temporal e ao eterno”. [Lutero, 1988, p.78]

Lutero, ao atacar a forma que seus adversários lidam com a autoridade bíblica, sugere que “até o diabo respeita a palavra”. O diabo, por mais astuto que seja jamais procurou empreender algo na Igreja sem uma fundamentação teológica. Ou seja, havia um respeito por parte do inimigo. Entretanto, tal respeito não se dá por parte do papa e de mestres da Igreja. Estes desprezam a autoridade da palavra e impõem coisas que, para o reformador, não possuem fundamentação bíblica. Vemos como a concepção agostiniana continua fortemente presente no pensamento de Lutero, entretanto, a Igreja Católica agora personificaria o mal e ele o bem.

Conclusão 
Como tratado em todo texto, acreditamos que Martinho Lutero não é um “desbravador da modernidade”. O reformador alemão não é, muito menos, alguém que rompe com a lógica do medievo e inaugura, em alguma medida, o dito pensamento moderno. Por mais que o agostiniano tenha trazido novas concepções e formas de enxergar o cristianismo, sobretudo, com sua específica hermenêutica, vê-lo deslocado de sua cultura e tradição é um equívoco, pois isso faz com que a linha tênue entre o caráter fenomenológico da reforma e o desprezo intencional, prosélito e desonesto pelo medievo rompa. Infelizmente, tais ideias acabam influenciando materiais didáticos e faz com que pessoas aprendam e reproduzam os períodos Históricos como bruscas rupturas sem considerar a continuidades das mentalidades. Sem perceber, isso gera uma bola de neve que acaba perpetuando estigmas e pré-conceitos epistemológicos sobre nossa disciplina e aqui não me refiro somente à história medieval, mas à História.
Fizemos uma análise do caráter puramente religioso, deixando de lado questões do interesse econômico, apesar de criticá-los. É certo que não proponho aqui que os livros didáticos sobre história medieval foquem no aspecto estritamente religioso e ignore os outros. Se com a frágil epistemologia de nossa disciplina tais análises mostram-se árduas, picotar o período medieval em caixas como “cultura”, “religião” e “economia” empobreceria demasiadamente qualquer análise séria. Mas, como mostrado, alguns temas religiosos ainda têm sido tratados de maneira relaxada. E isso não é falta de produção acadêmica séria, com toda certeza. Não incentivo, também, obviamente, que tema provavelmente sensíveis a estudantes (como a figura do diabo e a representação do mal, por exemplo) sejam tocados de forma empedernida, mas com todo o rigor metodológico que nos cabe.

Por fim, com todas as limitações epistemológicas – e intelectuais, confesso – propus como a figura do reformador alemão Martinho Lutero pode ser usada para explicar a Idade Média e suas concepções que são demasiadamente complexas. Por mais que Lutero tenha rompido com a Igreja em muitas doutrinas ficou provado que ele não conseguiu ignorar totalmente sua tradição e formação propriamente medieval. É óbvio que falar de “propriamente medieval” pode se tornar algo problemático e genérico, mas, nesse caso, falo de toda uma tradição e cultura baseada numa racionalidade própria que dificilmente foi compreendida - quando tentaram compreendê-la, vale ressaltar.

Martinho Lutero pode ser pensado por meio da “longa idade média” graças à contribuição de Jacques Le Goff, pois exemplifica que os processos históricos são complexos e labirínticos. Neles, achamos rupturas, mas também continuidades, sem que necessariamente um se sobreponha ao outro. Por mais que tentemos decifrar os códigos, palavras e conceitos, podemos perceber que, no fundo, existem questões que a documentação não responderá. Descobrimos, também, que a História é feita das próprias divisões que nós mesmos criamos e naturalizamos.

Referências
Marcos Vinícius da Silva Ramos
Graduando em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, bolsista de Iniciação Científica com o prof. Dr. Clinio de Oliveira Amaral, e integrante do LABEP (Laboratório de Estudo dos Protestantismos) e Linhas (núcleo de estudos sobre narrativas e medievalismos).

AMARAL, Clinio de Oliveira. Neopentecostal santification understood through medievalism. The study of the hagiography of Valdemiro Santiago. In: ALSCCHUL, Nadia; RUHLMANN, Maria (orgs.). Ibero-American Medievalisms. Glasgow [prelo] 2019.
BONINI, Altair; CHAVES, Edilson Aparecido et al. HISTÓRIA, ENSINO MÉDIO. 2. ed. Curitiba: SEED-PR, 2006.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006
LE GOFF, Jacques. Por uma longa Idade Média. Lisboa: Estampa, 1994.
LISBÔA RANGEL, J. G. Religião: autonomia, especificidade ou subordinação? Reflexões sobre a História das Religiões a partir da Reforma Protestante. Sæculum – Revista de História, v. 40, n. 40, p. 1-17, 6 jul. 2019.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Volume 1 – Os Primórdios – Escritos de 1517 a 1519. São Leopoldo: Editora Sinodal; Porto Alegre: Concórdia Editora, 1987.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Volume 2 – O Programa da Reforma – Escritos de 1520. São Leopoldo: Editora Sinodal; Porto Alegre: Concórdia Editora, 1988.
RIBEIRO, ÁLVARO N. F.; SIQUELLI, S. A. Práticas do ensino de história medieval: conhecendo as mentalidades. Revista HISTEDBR On-line, v. 17, n. 4, p. 1223-1241, 21 dez. 2017.
RIDDLEBARGER, Kim. Escatologia. In: BARRETT, Matthew. Teologia da Reforma. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017.
SANTOS, João Vítor. Lutero, do medieval ao moderno. Lutero e a Reforma 500 anos depois. Um debate. São Leopoldo, ano XVII, n. 514, p. 24-31, out. 2017.
VAZ, Maria Luísa; PANAZZO, Silvia. Jornadas.hist: história, 7º ano: ensino fundamental. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. História mosaico. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2016.

44 comentários:

  1. Antes de Lutero, todos os pré reformadores que tentaram apontar os equívocos da igreja católica e seus atos sem respaldo bíblico foram mortos sob acusação de heresia, dessa forma o catolicismo era predominante.é correto afirmar que Lutero abriu margem para outras linhas teológicas posteriores? como a reforma em Genebra por exemplo.
    Jackiely de Lima Feitosa

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    1. Olá, Jackiely, como vai? Agradeço-te pela leitura e particpação.

      O Reformador Lutero, sem dúvidas, foi um dos grandes responsáveis pelo grande abalo da até então hegemonia católica. É óbvio que falarmos do catolicismo como algo simplesmente homogêneo é complicado, sobretudo ao levarmos em consideração as diferentes ordens, disputas teológicas e embates travados por autoridades dessa Igreja.

      Como você citou, existiram outras pessoas que, antes de Lutero, já propunham reformas e mudanças estruturais dentro da Igreja. Muitas dessas pessoas também tiveram suas respectivas memórias disputadas tanto pelos reformadores protestantes quando pelos reformadores católicos, em relação ao que chamamos de "Contra-Reforma". Ao olharmos, por exemplo, para o exemplo do Girolamo Savonarola (1452-1498), isso fica mais explícito. O citado fora um frade de Ferrara que resolveu denunciar tudo o que não era cristão no Renascimento e propunha reformas severas dentro da Igreja Católica. Para os protestantes, ele foi o "precursor" da reforma e do princípio puritano calvinista; para os contra-reformadores católicos, ele fora alguém que fez boas observações sobre austeridade e rigor na vida social, tendo suas ideias utilizadas por dois papas da Contra-Reforma: Paulo IV e Pio V.
      Mas por que citar esse caso? Para explicar que ao falarmos tanto de hegemonia católica quando de pré-reformadores é um pouco complicado; há todo um embate por trás disso, inclusivo pela memória dessas pessoas.

      Mas, sendo mais direto e como fora supracitado, sim, Martinho Lutero abriu margem para outras linhas teológicas surgirem, inclusive a dos anabatistas, que foram combatidos por ele. Só devemos tomar o cuidado para não vermos, a partir disso, a Reforma Protestante e as teologias elaboradores posteriormente, sob uma ótica protestante, como inevitáveis. Não podevemos ver tais processos como se estivessem "previstos e escritos na História".

      Mais uma vez, obrigado.
      Atenciosamente.

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  2. Marcos Vinicius

    O diabo nunca saiu de cena na idade média como citado no artigo e descrito por historiadores.como também acreditava que esse pensamento teria fim na reforma protestante, que poderia ser visto como ingenuidade pensar assim.porém com a modernidade esse pensamento cessou..contudo o pensamento sobre o diabo continuou em outros períodos na história. Como se deu essa continuação de pensamento sobre a figura de diabo representante das trevas? É sendo a reforma protestante um fator inovador feito por Martin Lutero,qual foi a importância maior de Lutero para a idade média dentro desse conceito histórico.?

    Josemeire Alves Pinto figueredo.

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    1. Olá, Josemeire, como vai? Agradeço-te pela leitura e particpação.

      Em relação ao pensamento sobre o diabo, ele varia de acordo com o período e contexto. Existem vários tipos de representações do diabo, ou do mal, de forma generalizada, na literatura, filmografia, pinturas. Recomendo a você o livro "Uma História do Diabo", do historiador francês Robert Muchembled. Ele faz uma análise mais completa sobre como o diabo vai sendo pensando desde a Antiguidade aos dias atuais.

      Como defendido no texto, acredito que o exemplo de Martinho Lutero pode ser importante no ensino de história medieval, sobretudo ao tratar a ideia de longa idade média. É óbvio, que como você disse, a Reforma Protestante foi um fator inovador, entretanto, não podemos vê-la enquanto algo simplesmente novo e só. Muitas lógicas de pensamento e conceitos se mantiveram, mostrando-nos, assim, que Martinho Lutero está longe de ser um "inaugurador da modernidade", como o discurso prosélito, ligado a vários interesses, tenta impor.

      Mais uma vez, obrigado.
      Atenciosamente.

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  3. Ótimo texto, parabéns!!
    Retoma os seguimentos da religião na era da Idade Média,nos mostrando como a mesma influenciou os povos,em um tempo tumultuado de ideias que buscavam a inovação.

    Valéria Cristina da Silva - Graduanda no curso de História - UERN

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    1. Olá, Valéria, como vai? Agradeço-te pela leitura e particpação.

      Peço perdão, mas não entendi muito sobre o que seria essa busca por inovação.

      Atenciosamente.

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  4. Parabéns, acho que você conduziu bem a escrita do texto.
    Bom, início falando que é um assunto novo, apesar de está orientando uma aluna que escreve sobre Martinho Lutero. Por isso, me interessei mais ainda pelo tema afim de me apropriar mais do conteúdo.
    Gostei das críticas construtivas que você menciona sobre rupturas e continuidades, principalmente muito claro nos livros didáticos. Pude entender que Martinho Lutero não rompeu definitivamente com todos os preceitos religiosos do catolicismo na época e que também não representa totalmente a ruptura entre Idade Média e Moderna, visto é preciso considerarmos as permanências e continuidades dentro das sociedades.
    Assim, não querendo fugir do foco principal do texto, eu gostaria de perguntar sobre a contribuição de Martinho Lutero para a educação, visto que foi analisado na sua pesquisa alguns livros didáticos.


    Danúbia da Rocha Sousa

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    1. Olá, Danúbia, como vai? Agradeço-te pela participação e leitura.

      Indo de maneira direta à sua pergunta, acredito que Martinho Lutero e outros reformadores foram essenciais para o sistema de educação da época. É válido lembrar, por exemplo, que uma das doutrinas trazidas por Lutero, a do sacerdócio universal, necessita, obviamente, de um processo pedagógico.

      Tanto Lutero quando Filipe Melâncton foram "responsáveis" por elaborarem o sistema educacional que foi praticado em países protestantes. Para Lutero, era importante que o Estado (apesar de ser complicado falar desse conceito no século XVI) fosse responsável pela educação. Para ele, a educação deveria ser para todos, porém, cristã. O alemão defendeu também que um povo instruído era mais suscetível a manter-se respeitoso em relação às autoridades. Por fim, acho importante nos mantermos atentos para que a partir dessa análise não caiamos numa visão caricata do reformador alemão.

      Espero que minha resposta tenha atendido suas expectativas. Mais uma vez, obrigado.
      Atenciosamente.

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    2. Muito bem respondida, obrigada.

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  5. Saudações, Marcos Vinicius. Gostaria de saber qual foi o critério metodológico para seleção dos três livros didáticos analisados. O que os torna representativos? Você não acredita que uma análise dos livros didáticos aprovados no PNLD seria uma amostragem mais expressiva?

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    1. Olá, Guilherme, como está? Espero que bem. Agradeço-te pela leitura e participação.

      Em relação a escolha dos livros, decidi escolher um de 2006, da rede pública do Paraná, e dois de 2017, que atendem escolas privadas. Quis mostrar que apesar da diferença de mais de 10 anos, o que, teoricamente, deveria levar em consideração a produção/renovação bibliográfica sobre o assunto e os debates em torno do mesmo, a visão sobre a relação entre Martinho Lutero, Reforma Protestante e Idade Média pouco mudam. Ora o caráter econômico é enfatizado, ora é minimizado em detrimento da ênfase no religioso. Vemos, nos livros, um caráter inovador e modernizador da Reforma Protestante, algo que discordo veementemente, como está no texto. Quis mostrar, assim, que não é uma questão meramente editorial, mas é um tipo de estigma que se encontra presente nos livros há bastante tempo. Por isso optei por deixar os livros aprovados no PNLD de lado para fazer uma análise desses, sobretudo, levando em consideração o limite de páginas do texto que deveria ser respeitado como uma das normas para o envio do texto.

      Espero que eu tenha respondido a você de maneira satisfatória. Obrigado mais uma vez.
      Atenciosamente.

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  7. Um segunda colocação: é bastante interessante a referência à construção de uma "hagiografia protestante" que nos permite colocar em perspectiva a iconoclastia sempre reforçada sobre os movimentos protestantes, demonstrando a complexidade dos processos históricos, das rupturas e continuidades.
    Por outro lado, quando você reforça os aspectos de continuidades de Lutero com doutrinas católicas, isto acaba se configurando num truísmo. Naturalmente, o luteranismo é cristão e nascido da Igreja católica, de maneira que não poderia deixar de apresentar continuidades. Acredito que você reforçaria teu argumento e demonstraria uma análise mais condizente com a crítica à periodização caso apontasse esses elementos (escatologia, segunda vinda, juízo final) como continuidades da mentalidade medieval, da mesma forma que o faz para a crença no diabo.

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    2. Caro Guilherme, em relação à "hagiografia protestante", enfatizo que é fruto de um trabalho de doutoramento que está sendo produzido pelo João Guilherme Lisboa Rangel, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.


      Como eu lhe disse no primeiro comentário, tive que manter à risca minha síntese por conta do número de palavras que o texto deveria ter para estar sob as normas. Eu escolhi trazer o exemplo do diabo porque é algo que o movimento protestante histórico, que se autodenomina racionalista, nega. É claro que o diabo ainda existe nessa teologia, mas seu poder é minimizado para que o poder de Deus seja maximizado. Nesse pensamento, lógicas tidas como tipicamente encantadas ou racionais são postas de lado e o poder do diabo e sua agência (se transformar em animais, em coisas) está incluso nisso. No diário de Lutero, em alguma passagem (perdoe-me por citar de cabeça, mas posso te dar a referência com mais exatidão depois) ele afirma que encontrou o diabo e lutou com o mesmo fisicamente. Em minha concepção, o problema em relação a isso é que existe um discurso confessional que tenta dar à Reforma Protestante um ar de racionalidade que não é verdadeiro, sobretudo em relação à negação de tudo que é visto como tipicamente medieval. E vale dizer que é uma concepção de racionalidade que define a si mesmo, ignorando que o pensamento medieval seguia uma racionalidade própria. E esse discurso confessional, até hoje, influencia livros didáticos.


      Em relação a esse discurso protestante-racionalista que recusa o "encantado", o "irracional", vejo muito mais como um tipo de disputa do campo do religioso e como um tipo de delimitação confessional, procurando se afastar de alas do protestantismo que se caracterizam pela experiência, como os pentecostais e neopentecostais (apesar de não achar que os últimos são, necessariamente, uma nova manifestação dos primeiros). Portanto, tais questões, ao meu ver, são mais recentes e falsamente atribuídas à Reforma de Martinho de Lutero. Por isso, como lhe disse, preferi, por opção metodológica, focar mais em relação ao diabo do que dar mais atenção à escatologia, apesar de ter mostrado, brevemente, que tal concepção não sofreu nenhum tipo de diferença no pensamento protestante. Além disso, a disputa em torno do que seria a Idade Média é algo significativo para o discurso prosélito. É necessário afirmar tal período como o reino das trevas, da ignorância e do afastamento da “verdadeira teologia”. Ou seja, não é só a negação do encantado ou do “irracional”, mas a negação de tudo que se remete ao outro, que nesse caso é a teologia católica. Portanto, como lhe disse, minha questão é: há um discurso religioso que atribui em torno de si uma imagem modernizadora e que tenta remeter suas raízes à Reforma Protestante e, sobretudo, a Martinho Lutero, tido como “o desbravador da modernidade” e, necessariamente, como alguém que nega ao “encantado”, ao “medieval”; tal discurso, além de não ter embasamento histórico, acaba influenciando os livros didáticos e prejudica a percepção não só de longa idade média, mas dos períodos históricos como processos recheados de rupturas e continuidades simultaneamente.


      Espero que minha resposta tenha sido satisfatória, Guilherme. Obrigado mais uma vez.
      Atenciosamente.

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  8. Muito do que se tem atualmente como "Cristianismo Reformado" deriva da dita "Reforma" de Lutero. Porém, expoentes como São Francisco de Assis e Santa Teresa D'àvila, realmente fizeram reformas na moral da Igreja. Qual a distinção entre eles e Lutero?


    João Victor Luziano Pereira Calisto

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    1. Caro João, como vai? Obrigado pela leitura e participação.

      Acredito que a principal diferença é que Martinho Lutero não propôs apenas uma reforma moral, mas propôs uma nova hermenêutica, algo que era totalmente novo. Além disso, Lutero atacou a figura do papa, sua autoridade e a tradição conciliar, matérias muito caras ao catolicismo.

      Espero ter lhe respondido de maneira satisfatória!
      Atenciosamente.

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  9. A Revolução causada por Martinho Lutero inspirou outras diversas revoluções. Como o Rei Eduardo, da Inglaterra se aproveitou da mesma revolução?



    João Victor Luziano Pereira Calisto

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    1. Caro João, confesso que não possuo leitura suficiente para responder essa questão. Recomendo, nesse caso, a leitura do livro "O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais durante a Revolução Inglesa de 1640", do historiador Christopher Hill.

      Atenciosamente.

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  10. Martinho Lutero crê em "Sola Scriptura". Mas por quais motivos o mesmo tira livros canônicos da Bíblia? Isso não é ir contra a própria doutrina criada?


    João Victor Luziano Pereira Calisto

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    1. Caro João, depende muito de qual bíblia você esteja falando e de quais pressupostos epistemológico esteja partindo. Embora extrapole o que fora proposto no texto, dizer o que seria ou não uma contradição está muito longe dos meus objetivos, pelo perigo de criar, a partir disso, um juízo de valor. A ideia da “Sola Scriptura” está ligada, de maneira geral, a um tipo de “retorno às fontes”. Com base nisso, o reformador alemão acredita que alguns textos não têm suas respectivas fidedignidades atestadas por essas fontes. Em relação aos apócrifos, por exemplo, Martinho Lutero acredita que por não terem vindo diretamente dos apóstolos ou de pessoas ligadas à comunidade apostólica não podem fazer parte do cânone.

      Espero ter lhe respondido satisfatoriamente.
      Atenciosamente.

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  11. Em um estudo muito conceituado (o qual não me recordo o nome), viu-se que a População Alemã que aderiu ao Nazismo foi de linhagem protestante, visto que o Papa da época condenou o Nazismo. Poderíamos dizer que isso é um dos erros da doutrina?


    João Victor Luziano Pereira Calisto

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    1. Caro João, sua pergunta extrapola demasiadamente o que o texto propõe. Afirmar que a adesão ao nazismo só se deu por conta do apoio dos luteranos seria, além de simplório, uma afirmação imbuída de juízo de valor, sendo, sobretudo, desonesta. Entretanto, não há dúvida que o apoio religioso, principalmente por parte dos luteranos, foi importante para o regime nazista. Em contrapartida, desconheço sua afirmação de que "o Papa da época condenou o Nazismo". Pio XII foi duramente criticado por não ter se oposto publicamente ao regime nazista. Seu processo de beatificação, inclusive, está parado desde 2009 por pressões de organizações judaicas. Por decisão do Papa Francisco, os documentos referentes ao Papa Pio XII foram abertos aos pesquisadores recentemente.

      Atenciosamente.

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  12. Olá! A importância de Lutero para a reforma protestante é evidente. Um monge determinado e focado em expressar a sua leitura da Bíblia, em uma busca constante por religação com o sagrado. Sustentava pilares extremamente relevantes para a eclosão de uma metamorfose no contexto da sociedade Medieval. Lutero, explícita a doutrina da infalibilidade das escrituras; tendo como manual de fé e base de estudo a bíblia. Produziu suas reflexões embasado, especificamente nas cartas Paulinas e recebeu influência de Santo Agostinho. Acreditava em um sacerdócio universal no qual, o indivíduo tinha total acesso a Deus, sem precisar de mediações. Desenvolvendo assim o princípio da justificação pela fé. Logo, Lutero nos fez entender que a carisma e o poder podem viajar por páginas escritas. A minha dúvida é,como que a ética protestante influenciou a economia Medieval e se é possível fazer um paralelo com a atualidade e ideias capitalistas?

    Grato desde já.

    Fernando Moreira Dos Santos Da Costa

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    1. Olá, Fernando. Agradeço-te pela leitura e participação.

      Acredito que os paralelos com a atualidade devem ser cuidadosos, portanto, opto por não fazê-lo. Mas não há dúvida de que a "ética protestante", como disse, influenciou a formar de pensar economia à época, principalmente ao que é conceituado como "capitalismo comercial". Conceitos como juros, lucro e acumulação, tratados de uma maneira específica pela tradição e ética católica, foram lidados de maneira diferente com Lutero. O reformador alemão escreveu bastante sobre comércio, usura, avareza, e como o cristão deveria lidar com esses fatores. Recomendo que procure alguns sermões, principalmente os dirigidos à nobreza alemã e aos comerciantes. A única ressalva que faço é que um cuidado seja aplicado em relação a isso: Lutero não pode ser visto simplesmente como um "agente capitalista" ou como alguém que, de maneira escusa, planejou um tipo de reforma religiosa de fachada para impor um sistema econômico.

      Agradeço-te novamente!
      Atenciosamente.

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  13. Olá! Adorei o texto!
    Importante saber que Lutero não conseguiu "ignorar sua tradição e formação propriamente medieval".
    Podemos dizer que antiseemitismos da Alemanha Nazista também é fruto das ideias preconceituosas de Lutero contra os judeus?

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    1. Cara Celimara, essa é uma boa pesquisa a ser feita. Recomendo-te, a nível introdutório, "O antissemitismo alemão", de Pierre Sorlin.

      Atenciosamente.

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  14. Olá Marcos Vinícius da Silva Ramos, grata pela produção desse texto. Bastante crucial perceber o quanto Lutero carregava em seus escritos e diálogos rastros do Medieval. A minha dúvida seria, o quanto seria interessante fazer essa associação, didaticamente, em sala de aula sem que fosse gerar nos alunos um ambiente de pré-conceitos ou confusão, já que os livros didáticos trazem de formas separadas os assuntos e cada um com suas especificidades.

    Andreza Cínthia Alves de Lima

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    1. Olá, Andreza, como vai? Espero que esteja bem! Agradeço-te pela participação.

      Como propus no texto, acredito que o cuidado e rigor metodológico são fundamentais para tratar assuntos como esses que podem ser demasiadamente delicados. Acredito que tratar a ideia de "longa idade média" de maneira apropriada, seria interessante. É importante fazer com que os alunos entendam que as ideias fluem no tempo e que não estão, necessariamente, subordinadas a essa lógica de ruptura proposta pela divisão histórica. Talvez trabalhar conceitos e ideias recentes, mostrando sua historicidade, fosse uma boa forma de exemplificar isso aos alunos.

      Espero ter lhe respondido satisfatoriamente!
      Agradeço-te mais uma vez pela participação,

      Atenciosamente.

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  15. Martinho Lutero com o seu rompimento com a Igreja Católica, trouxe para o povo da época um novo pensamento. Gostaria de saber quais consequências ocorreu na época com essa reforma? E os benefícios que teve?

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    1. Caro "Unknown", acredito que falar em "benefícios" seria, de alguma forma, cometer algum juizo de valor, algo ao qual me oponho. Como dito, Martinho Lutero trouxe uma nova forma não só de pensar a religião cristã, mas o mundo, de maneira geral.

      Atenciosamente.

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  16. LUTERO FEZ A REFORMA EM 1517. NÃO SE AFASTOU NO MESMO ANO? O AUTOR FALA EM 1519.
    HEINZ DITMAR NYLAND.

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  17. COMO LUTERO CONSEGUIU ESPALHAR O PROTESTANTISMO TÃO RAPIDAMENTE PELO MUNDO?
    HEINZ DITMAR NYLAND

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    1. Olá, caro Heinz, agradeço-te pela participação.

      A imprensa com certeza foi uma grande aliada de Lutero na difusão de suas ideias. Pensar a Reforma Protestante sem levar em consideração a imprensa é um equívoco.

      Atenciosamente.

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  18. Olá, boa noite !
    Excelente texto, bem articulado e aguçador!
    Lutero é uma figura multifacetada perante às produções historiográficas ao longo do espaço-tempo. A tríade relacional entre Lutero-Reforma protestante- Idade Média, a meu ver, é pouco aprofundada e discutida no âmbito acadêmico. No entanto, a análise feita dos três livros didáticos selecionados são muito pertinentes. Sendo assim, eu lhe pergunto: entre a dicotomia: Reforma protestante e Contrarreforma, qual das duas logra mais êxito na construção do conhecimento histórico escolar disposto nos livros didáticos de História? Ou é uma visão relativa?
    Desde já, agradeço-lhe antecipadamente!
    Att
    Maykon Albuquerque Lacerda

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    1. Caro Maykon, agradeço-te pela participação e contribuição.

      Acredito que a Reforma Protestante logre mais êxito e seja mais "popular" por justamente ser vista como um evento que inicia a modernidade ocidental. Entretanto, sem dúvidas, acredito também que a contrarreforma poderia ser tratada de maneira mais profunda e não ser vista apenas como uma oposição à primeira.

      Agradeço-te mais uma vez pela participação!
      Atenciosamente.

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  19. Boa noite
    Marcos Vinícius
    Parabéns pelo texto que foi desenvolvido.


    Martinho Lutero fez uma grande reforma com o protestantismo, trazendo um outro pensamento para o povo da época. Quais foram as consequências que a Igreja Católica teve por conta dessa reforma?

    Nathália Vieira de Abreu.

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    1. Cara Nathália, agradeço-te pela participação!

      Talvez a Reforma Protestante tenha sido o grande movimento que, de fato, ameaçou a hegemonia institucional católica, sobretudo os reformadores, aqueles que se apoiaram nas ideias de Lutero e foram sistematizando uma própria teologia. É claro, além da disputa teológica, existem questões econômicas, geopolíticas, enfim, questões que estavam subordinadas às relações de poder da época e que abalaram o catolicismo ocidental.

      Atenciosamente.

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  20. O material didático apresentado no texto, encontra-se pouca informação, nenhum livro continha a bibliografia de Martinho Lutero, de forma a considerar sua vida familiar, acadêmica, a reforma e sua morte, os dados estavam nos livros, porém, sempre com a omissão de alguns fatos. Foi possível observar que a medida que os anos passaram os
    conteúdos ficaram mais “enxutos”, ou seja, devido à facilidade de acesso a informação, por intermédio de mídias eletrônicas, os livros deixaram de ser a principal fonte de pesquisa. Por esta medida, qual atitude deve ser tomada dentro da sala de aula por historiadores diante de assuntos tão complexos, mas com apenas detalhes nos livro didáticos?

    Francisco Jackson De Souza

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    1. Francisco, como vai? Espero que bem. Obrigado pela participação!

      É claro que lidar com o livro didático é um desafio, existem prazos e calendários que devem ser respeitados. Isso, sem dúvida, empobrece análises profundas e reflexivas, sobretudo no nosso sistema educacional. Acredito que uma boa alternativa sejam seminários temáticos ou oficinas que se dediquem a explicar não só a Reforma Protestante, mas as reformas religiosas, seus idealizadores, suas ideias. Talvez seja um bom caminho para preencher lacunas deixadas pelos materiais didáticos.

      Agradeço-te mais uma vez.
      Atenciosamente.

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  21. Dos aportes teóricos suscitados em sua pesquisa percebe-se que havia uma grande necessidade de uma nova teologia e de uma nova ordem que libertassem as pessoas daquilo que elas estavam passando. Tais coisas como: O medo e o controle, reinventando o indivíduo como sujeito de si mesmo diante de Deus e do Mundo. Estas aspirações vinham ao encontro também da nova classe burguesa emergente e desejosa de controle político e de compensação religiosa aos seus anseios de enriquecimento. Os príncipes alemães almejavam as terras da Igreja e pressionavam por uma outra ordem política para uma Alemanha fragmentada. Diante com deste contexto, visando agora o nosso século XXI, o momento pelo qual estamos passando, precisamos passar por uma nova reforma? Justifique.

    Francisco Jackson De Souza

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  22. Visto a importância do movimento que deu origem a uma nova visão em relação à Igreja e também a desvinculação do Estado dos poderes papais. A Reforma Protestante, bem como, Martinho Lutero, marcaram a história e deram origem a uma gama de doutrinas baseadas nas Escrituras Sagradas. Quais foram os principais motivos que fizeram Martinho Lutero a levantar-se contra a igreja?

    Francisco Jackson De Souza

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  23. A reforma protestante é um movimento que surge internamente, e parte de um processo de indagações dos próprios eruditos sobre a forma em que os líderes agiam por serem representantes de Deus. Vemos que tanto no contexto religioso quanto no científico os conceitos de certo e errado da igreja estavam ficando duvidosos. Então seria certo afirmar que a reforma foi o fator que reuniu todas as outras causas para combater a supremacia da igreja ?
    Calebe Luiz Lourenço Souza

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