Marcio Felipe Almeida da Silva


A UTILIZAÇÃO DE “BATALHAS CAMPAIS” COMO FERRAMENTA DE ENSINO-APRENDIZAGEM



Já a um bom tempo que o interesse pelos estudos do medievo vem crescendo em todo o Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, o trabalho desenvolvido por alguns grupos de pesquisa como o LINHAS, o PEM e o Translatio Studii, já se tornaram conhecidos entre os acadêmicos. De maneira geral, a curiosidade sobre a idade média entre os leigos tem sido estimulada por séries como Game of Thrones [2011], Vikings [2013] e The Last Kingdom [2015]. Ainda que a última das séries mencionadas aqui ainda não tenha provocado um grande impacto entre os jovens e os adultos, a exemplo do que fizeram Game of Thrones e Vikings, a série The Last Kingdom possui muitos admiradores em virtude da sua construção basear-se nas obras literárias de Bernard Cornwell, autor inglês que utilizou a Idade Média como cenário para a maior parte de seus romances históricos.

Os filmes cujas temáticas foram ambientadas na Idade Média possuem forte influência e sedução histórica, por exibirem tramas e heróis do passado, contribuiram para o sucesso entre os mais jovens. Trilogias como O Senhor dos Anéis [2001] e O Hobbit [2012], enredados nos livros de J. R. R. Tolkien, provocaram um inegável encantamento pelo medievo entre os amantes de RPG e games. Todavia, o crescente sucesso da Idade Média não deve ser creditado apenas aos blockbusters.

Alguns filmes de menor proporção também despertaram o interesse do público, como os remakes de Ben Hur [2016] e Rei Arthur [2017]. Podemos dizer que até a Marvel Comics e a DC – duas editoras de norte-americanas consideradas as maiores do mundo - contribuíram indiretamente para essa recente popularização do medievo, uma vez que ambas têm procurado incorporar ao vestuário e ao armamento de seus heróis elementos medievais.

Com relação ao universo cinematográfico, é sempre bom ressaltar que, independente da sua qualidade, nenhum filme pode reconstruir inteiramente o passado, pois nem mesmo o historiador, com toda sua bagagem de conhecimento adquirido pelo mergulho nas fontes de pesquisa, é capaz de resgatar o passado em sua totalidade.

Como bem destacou José Rivair de Macedo, “um filme tem mais a dizer sobre o momento em que foi produzido do que a época que pretende narrar” [2004, p.119]. Logo, o cinema pode e deve ser utilizado pelo professor como uma ferramenta para estimular os alunos a refletirem sobre algumas questões referentes às aulas, promovendo também um momento de entretenimento e descontração no ambiente escolar.

O clima de ação e a narrativa de aventura promovidos pelos games também têm contribuído para o entusiasmo com relação à Idade Média. Desde 2007, a premiada sequência de Assassins’s Cred vem conquistando uma legião de fãs em todo o mundo e atingiu a marca de oito milhões de cópias vendidas, apenas nos dois primeiros anos de lançamento do game. Outro videojogo de sucesso entre as novas gerações é o game For Honor, que se tornou popular ao permitir que o jogador escolha seus personagens entre vikings, samurais ou cavaleiros medievais.

Sendo assim, não há como negar que na atualidade a internet, os filmes e os games têm atuado como potenciais divulgadores da Idade Média entre os jovens. Ainda que o medievo apresentado por tais mídias esteja mais próximo do gênero fantasia, é preciso que o professor construa um novo olhar sobre essas ferramentas, reconhecendo que elas não precisam ser adversárias no processo de ensino-aprendizagem. Até porque, para o professor, concorrer com a internet e os games seria uma tarefa árdua e que, por fim, teria uma grande chance de ser derrotado, já que nosso alunado é composto, basicamente, por crianças e adolescentes que anseiam por uma educação um pouco mais divertida.

Segundo Nei Nordin, “é preciso que todo professor tenha consciência de que não vai para a sala de aula formar historiadores” [2013, p.181]. Logo, a metodologia de ensino, não só de História, pode sofrer alterações para se adequar ao perfil de alunos de hoje. Sem desrespeitar as orientações da equipe pedagógica e o material didático utilizado no espaço escolar, podemos colaborar para estimular a criatividade e o interesse em nossos alunos. Notamos que, basicamente, todos os exemplos que citamos até aqui, sejam de filmes ou de jogos, tornaram-se populares devido as suas cenas de batalhas ou pelo armamento tático que compunha o figurino dos personagens.

Na contramão de toda esta fantasia vem o ensino tradicional de História, apresentado muitas vezes frio e sem emoção. Por esta razão, a realização de batalhas campais na Educação Básica surgiu como um interessante mecanismo para quebrar a rotina das aulas expositivas e permitir que o aluno experimente parte do apaixonante mundo dos games e dos filmes. 

O swordplay e sua experimentação no ensino superior.
Tradicionalmente, as batalhas campais são disputadas pelos praticantes de Swordplay em locais abertos e de fácil acesso. É um esporte que simula batalhas medievais utilizando réplicas de armamentos fabricados pelos próprios participantes, onde, na maioria dos casos, os combatentes utilizam escudos e espadas. Entretanto, existem diversas possibilidades de armamentos para serem confeccionados, desde que atendam aos critérios de segurança, como por exemplo, revestindo todos os instrumentos com espuma, os participantes podem utilizar martelos, lanças ou até arcos e flechas.

Em geral, recomenda-se que todas as superfícies de impactos sejam protegidas com uma camada de espuma de polietileno ou de poliuretano, com espessura mínima de 15 mm.  Outra orientação para garantir a segurança dos participantes é não usarem folhas de E.V.A. nas superfícies impactantes, pois esse material não tem a suavidade necessária para conter as concussões durante a atividade.

Os praticantes do Swordplay dividem-se em clãs, adotando, na maioria das vezes, um tipo de sociedade guerreira para servir de inspiração. A construção das indumentárias envolve uma pesquisa prévia sobre os tipos de vestimenta e de armamentos utilizados pela sociedade escolhida. Não obstante, alguns clãs acabam fugindo à regra e misturam elementos de diversas sociedades que não viveram na mesma época. Contudo, se levarmos em consideração que a confecção muitas vezes é realizada com base nos personagens dos games e que nem sempre recebe a orientação de um historiador, podemos dizer que esse anacronismo é aceitável.

Acreditando que a prática do Swordplay poderia a trazer grandes contribuições para o ensino de história, iniciamos, em fevereiro de 2016, um lento processo de adaptação das batalhas campais para o espaço escolar. Refletindo sobre a possibilidade que essa novidade não traria o sucesso esperado sem um processo prévio de experimentação, a conclusão mais pertinente foi desenvolver a batalha campal primeiramente com os alunos do curso de graduação, que têm mais maturidade de compreensão das regras do jogo.

Em julho de 2016, realizamos, na quadra da Uniabeu, em Belford Roxo, uma batalha campal experimental com cerca de 40 alunos do curso de Licenciatura em Educação Física. A tarefa fazia parte da avaliação da disciplina de História da Educação Física e serviu como uma estratégia para ensinar história em um curso que tradicionalmente é conhecido por seu entusiasmo e sua mobilidade.

Utilizamos como critérios de avaliação a participação do aluno na atividade, o respeito às regras previamente estabelecidas e a confecção do material. Durante o desenvolvimento da batalha campal formamos duas “paredes de escudos”, simulando táticas de ataque e defesa apresentadas pelo professor. Toda a reconstrução das táticas foi organizada com base na pesquisa em livros e na observação das encenações cinematográficas.


Figura 1: Primeira batalha campal realizada pelo curso de Educação Física em 2016 [Acervo pessoal].

Nessa ocasião, reafirmamos os objetivos pedagógicos da atividade e com a utilização das práticas didáticas das aulas de história antes do início da batalha campal, destacando as características da Idade Média, seus personagens principais e as fontes de pesquisa. Toda a atividade ocorreu de forma disciplinada e de acordo com as regras estabelecidas. Os alunos foram orientados a não exagerarem no uso da força e a respeitarem o toque de apito que indicava o início e o término da batalha campal.

Desde 2016 temos repetido semestralmente esta atividade com o curso de Educação Física. De lá para cá, por já ter se tornado popular entre os alunos, a batalha campal desperta grande interesse e ansiedade já no início do ano letivo e a cada semestre a qualidade das pesquisas, das indumentárias e dos adereços vêm se destacando. Em setembro de 2019, realizamos no mesmo espaço a maior batalha campal de todas as edições, com cerca de 80 participantes. Foi certamente através dos erros e acertos dessa experiência com o Ensino Superior que conseguimos pensar em uma forma de adaptar as batalhas campais para o Ensino Fundamental.


Figura 2: Última batalha campal realizada pelo curso de Educação Física em 2019 [Acervo pessoal].

As batalhas campais no ensino fundamental
Para realizar as batalhas campais no Ensino Fundamental foi preciso implementar uma metodologia completamente diferente daquela que utilizada no Ensino Superior. Ainda que a experiência com o curso de Educação Física tenha sido fundamental para viabilizar essa atividade, o desenvolvimento das batalhas campais na Educação Básica só foi possível através de uma fase prévia de planejamento, levando em consideração as alterações propostas pela Base Nacional Comum Curricular [BNCC].

Publicado pela primeira vez em setembro de 2015, o texto da BNCC já passou por algumas revisões e ainda sim tem causado desconforto, pela sua complexidade, em muitos professores. De maneira geral, a BNCC reduziu o espaço para abordar a Idade Média no Ensino Fundamental, espremendo todo o conteúdo de história medieval com o conteúdo de história antiga em apenas um período, o 6º ano. Em sua maioria, os alunos do 6º ano estão na faixa dos 11 anos, uma idade que já manifesta curiosidade pelos elementos históricos da antiguidade e do medievo que aparecem nos games e nos filmes.

Infelizmente, os inúmeros temas a serem lecionados nesse período condiciona os professores a trabalharem de maneira “relâmpago”, cujo conteúdo inicia-se com o surgimento do hominídeo, há 4,2 milhões de anos, e termina bem próximo aos acontecimentos que antecedem a formação do mundo moderno. Isso dificulta o esclarecimento de falsas concepções sobre a Idade Média e nos impede até mesmo de propor um modelo de aula mais criativo, uma vez que estamos fadados a explicar uma grande quantidade de conteúdos em tão pouco tempo.

Em meio a todas essas dificuldades, muitos experts em educação ainda acreditam que lecionar história no Ensino Fundamental é algo que não exige um alto grau de dificuldade e que o professor está fadado a simples repetição dos assuntos do livro didático. Segundo Ubiratan Rocha, “Às vezes, nem mesmo o próprio professor, habituado a repetir o mesmo assunto em diferentes turmas, se dá conta de que o caminho que segue é apenas um dentre diferentes alternativas possíveis” [2019, p.51]. Em suas análises, o autor também defendeu que o uso abusivo das aulas expositivas no ensino de História contribui para uma visão de mundo de baixo senso crítico, já que o aluno é colocado apenas na condição de objeto a ser moldado. Sendo assim, é importante que mesmo um conteúdo tradicional sofra ajustes para torná-lo adequado aos objetivos do processo de ensino-aprendizagem.  

Nesse contexto, as batalhas campais foram inseridas no Ensino Fundamental para despertar o interesse do aluno, valorizando sua participação e contribuindo para deixar o ensino de História mais agradável. Para se adequar ao conteúdo programático, passamos a realizar as batalhas campais com o 6º ano a partir do segundo semestre do ano letivo, período onde os alunos conhecem o mundo greco-romano e a transição para a Idade Média, sendo apresentados aos conteúdos dos povos vikings e dos cavaleiros das cruzadas. Assim, organizamos essas oficinas de maneira que possa prevalecer uma abordagem lúdica e interdisciplinar, que respeite a faixa etária dos alunos e permita a associação com ícones dos principais games ou filmes.

No Ensino Fundamental realizamos duas edições da batalha campal, uma em 2017 e outra em 2019. O intervalo de um ano entre as duas edições ocorreu em virtude do apertado calendário escolar de 2018, que previa a execução de diversos projetos, como o Café Filosófico e a Feira de Ciências. Assim, julgamos que a realização da batalha campal no ano de 2018 acabaria aumentando a carga de trabalho dos alunos, já que a confecção do material exige bastante tempo. Com relação à edição de 2017, escolhemos homenagear os povos romanos.

Ainda que o trabalho tenha sido realizado durante as aulas de história medieval, procuramos discutir como o método de batalha romano na antiguidade garantiu a expansão que favoreceu a fusão entre a cultura romana e a cultura dos povos bárbaros, com reflexos na Europa Medieval. A tarefa determinada aos alunos foi a confecção de um escudo retangular, com papelão e pintado na cor vermelha, possuindo as dimensões de 1 metro de comprimento por 50 cm de largura.

A definição de um tamanho padrão para os escudos fez-se necessária de modo a realizarmos a “formação tartaruga”, uma tática defensiva famosa dos povos romanos. Ainda que não tenha sido exigida a decoração dos escudos, próxima a que era utilizada pelos antigos romanos, os alunos apresentaram peças muito bem decoradas e com símbolos típicos dos povos romanos, a exemplo do que é retratado em filmes como o Gladiador [2000].

Levando em consideração a imaturidade e o excesso de energia que geralmente possuem os alunos do 6º ano, optamos por solicitar como tarefa apenas a confecção dos escudos. Sendo assim, não foi exigida a construção de espadas, justamente para evitar qualquer tipo de acidente que pudesse prejudicar o bom andamento da tarefa. Também não realizamos simulações de ataque, apenas solicitamos a formação de uma parede de escudos defensiva, seguindo o padrão da “formação tartaruga”, e arremessamos sobre ela bolinhas plásticas para criar obstáculos ao deslocamento do grupo.


Figura 3: Formação tartaruga realizada pelos alunos do 6º ano em 2017 [Acervo pessoal].

Para a edição de 2019, solicitamos aos alunos do 6º ano a elaboração de escudos circulares com cerca de 50 centímetros de diâmetro e feitos de papelão. Para a decoração, o aluno poderia utilizar qualquer tipo de símbolo que o agradasse. Obviamente apareceram ícones históricos, como os símbolos utilizados pelos espartanos em seus escudos e o sinal visto por Constantino em sua suposta conversão ao Cristianismo.

Entretanto, símbolos pessoais como cupcakes, flamingos e emblemas de grupos musicais também decoraram os escudos, favorecendo um bom debate sobre o respeito às opiniões individuais e as características de cada aluno. Dessa forma, e antes da atividade prática, iniciamos o trabalho de discussão sobre o pluralismo cultural presente na sociedade brasileira e procedemos com a comparação entre a sociedade contemporânea e as populações que viveram na Idade Média.

Com relação à parte prática, a metodologia da edição de 2019 não foi muito diferente da edição de 2017. Em ambas versões não simulamos estratégias ofensivas e ensaiamos apenas posições de defesa, criando obstáculos para os participantes com bolinhas de plástico e flutuadores de piscina. Toda a atividade ocorreu sob a supervisão do professor e as normas de segurança foram apresentadas logo no início da oficina.

As duas atividades foram realizadas no pátio da escola para romper com os paradigmas das aulas expositivas e proporcionar a quebra da rotina. O uso do celular foi permitido para fotografar e postar as atividades nas redes sociais, se esse fosse o desejo do aluno. Aproveitamos essa ocasião para enfatizar que o celular não precisa ser um inimigo do processo de ensino-aprendizagem e, em seguida, conversamos sobre a responsabilidade que possuímos com as informações que colocamos nas mídias digitais, suas características, sua veracidade, sua parcialidade ou se é tendenciosa.


Figura 4: Parede de escudos formada pelos alunos do 6º ano em 2019 [Acervo pessoal].

Considerações finais
Assim como na antiguidade e no medievo, a encenação de “paredes de escudos” serve para fortalecer os laços de amizade e respeito entre os participantes, favorecendo o espírito de trabalho em equipe. Preparar uma batalha campal, seja no Ensino Superior ou na Educação Básica, requer horas de planejamento e de preparação. Afinal:

“Preparar boas aulas demanda tempo, e materiais alternativos não são abundantes. Precisam ser confeccionados. Contudo, se você é daqueles que não se contenta em sentar e mandar abrir o livro didático em tal página, precisará encontrar tempo para preparar materiais diferenciados, nem que seja eventualmente” [Nordin, 2013, p.183].

Os resultados de atividades lúdicas como as batalhas campais podem ser extremamente positivos, já que contribuem para estimular a criatividade e a participação dos alunos nas aulas. A construção dos escudos e demais ferramentas para a execução da atividade rompe, temporariamente, a sequência de aulas expositivas e melhor atrai a atenção dos estudantes. Convidados a construírem seus próprios materiais, que serão utilizados nas oficinas, os alunos colocam-se como sujeitos ativos do processo de aprendizagem e se sentem como parte importante para o sucesso daquela aula.

Sem falar que a própria elaboração das ferramentas possui uma dupla ação benéfica: primeiro, porque “a memória adquire vínculos maiores com aqueles conhecimentos que foram preparados e pensados pelo próprio aluno” [Nordin, 2013, p.183]; e em segundo, o objeto construído por ele cria um elo entre o passado e o presente através da recordação de eventos marcantes para a história da humanidade.

Por fim, a participação nas batalhas campais constrói uma oportunidade única para simular as cenas das lutas nos games, séries e filmes marcantes para os alunos, mostrando que o ensino de história pode e deve renovar-se através da introdução de elementos que chamam e prendem a atenção do aluno, sem deixar de desenvolver uma leitura objetiva da realidade social.

Referências
Marcio Felipe Almeida da Silva é Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, Pesquisador do Translatio Studii e professor do Centro Universitário Abeu (UNIABEU).

MACEDO, José Rivair. Repensando a Idade Média no Ensino de História. In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2004.
NORDIN, Nei. O ensino da Idade Média: questões práticas e realidade na sala de aula. In: TEIXEIRA, Igor Salomão e ALMEIDA, Cybele Crossetti (org.). Reflexões sobre o medievo III. São Leopoldo: Oikos, 2013. 
ROCHA, Ubiratan. Reconstruindo a História a partir do imaginário do aluno. In: NIKITIUK, Sônia l. (org.). Repensando o ensino de história. São Paulo: Cortez, 2009. 
SILVA, Marcos e FONSECA, Selva Guimarães. Ensinar História no século XXI: Em busca do tempo entendido. Campinas: Papirus, 2007.
TSUKIYAMA, Anderson; MELO, Andreas Capri; SANDER, Stephanie. Projeto “Cavaleiros Medievais: das fontes à comunidade”. In: TEIXEIRA, Igor Salomão; ALMEIDA, Cybele Crossetti; CRUXEN, Edison Bisso (org.). Práticas e saberes no Medievo: São Leopoldo: Oikos, 2013.

22 comentários:

  1. Olá Marcio, tudo bem?

    Poderia compartilhar um pouco das dificuldades estruturais quando comparamos as escolas pública e privada? As realidades podem ser muito distintas: uma escola pública de periferia tende a ser pior que uma escola privada de bairro; mas esta é pior (estruturalmente) do que um Instituto Federal. Como superar essas barreiras?

    Renan Birro

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    1. Olá Renan, obrigado por sua pergunta!
      De fato, encontrei muitas dificuldades estruturais para a realização de aulas diferentes no ensino público. Atualmente, leciono em uma escola pública da Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro. Nesta escola, encontrei pouca estrutura para utilizar metodologias lúdicas. Além da falta de recursos e de materiais didáticos, tive que lidar com um alto índice de indisciplina que havia entre os meus alunos. Para conseguir lecionar, primeiramente, precisei me aproximar dos alunos, motivá-los e ajudá-los a criar perspectivas para o futuro. Pois, muitos já estavam “seduzidos” pela criminalidade. Hoje, após superarmos os obstáculos emocionais, já estou conseguindo introduzir um ensino de História lúdico e com mais qualidade. Na escola privada onde leciono, tenho uma melhor estrutura para solicitar trabalhos mais complexos como as Batalhas Campais. Entretanto, seja no ensino privado ou na escola pública, o professor sempre acaba utilizando seus próprios recursos (técnicos e financeiros) para promover uma boa atividade.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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    2. Rosânia Azevedo Braga20 de maio de 2020 às 17:20

      Nos filmes, livros e games que usam a Idade Média como cenário, há uma grande apresentação de batalhas campais. Com base nesse tema, que cuidados o professor de história deve tomar para separar o ensino de modo a não ser confundido por pais e alunos como algum tipo de apologia a vilência?

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    3. Olá Rosânia.
      Você tocou em uma questão que já passou pela minha cabeça várias vezes antes de organizar as batalhas campais. O problema da violência tem sido uma grande preocupação da sociedade, principalmente no Rio de Janeiro, uma vez que temos sofrido muito com o aumento da criminalidade em nosso estado. Para evitar que a batalha campal seja confundida com uma atividade que faça apologia a violência eu não utilizo réplicas de ataques como espadas ou machados no Ensino Fundamental. Procuro utilizar apenas o escudo para, justamente, valorizar o papel de uma boa defesa para se obter uma grande vitória. Também acho importante interromper a execução da atividade por alguns minutos para falar um pouco sobre o respeito as regras e ao corpo do colega. É preciso muitas vezes ser um tanto repetitivo, para que os alunos e o público que está assistindo não se esqueça que estamos e uma aula!
      Obrigado pela pergunta.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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  2. Olá Marcio, boa tarde!

    Nos filmes que você mencionou - Game of Thrones, Vikings e The Last Kingdom, as mulheres tem um papel importante, se não nas balhas no jogo que existe por trás delas. Nesse último Brida é forte e guerreira, Aelswith (rainha) é astuta e Aethelflaed (que acabou de se tornar rainha na 4ª temporada) possui os dois atributos. Então, durante as preparações para as batalhas qual o papel das meninas? Elas se interessam em saber qual era a função da mulher nesse período? Quando as batalhas acontecem elas se posicionam de modo a ocupar seu espaço no jogo nas mais diversas posições, tendo em vistas que nem todas tem predisposição para batalha?

    Além disso gostaria de saber se vocês já pensaram em fazer o mesmo com os torneios (justas) ou se existe interação com professores de outra disciplina para representar por exemplo as canções de gesta?

    Assinatura: Luciana Alves Maciel

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    1. Olá Luciana.
      Você levantou uma questão muito importante! O sucesso da batalha campal depende muito da participação das meninas. Pois, geralmente, compõem a maioria em uma sala de aula. Em geral, elas são muito participativas e costumam ficar mais empolgadas do que os meninos, uma vez que possuem grande capricho para a entrega das tarefas. Durante as aulas é muito comum surgirem perguntas sobre a participação das mulheres em determinados períodos históricos. Infelizmente, os livros didáticos acabam colaborando para a visão negativa que muitas pessoas têm sobre as mulheres na antiguidade e no medievo, já que costumam abordar apenas seu papel doméstico. Por esta razão, gosto de inserir filmes e séries recentes que destacam a atuação de mulheres não apenas nas batalhas, mas em toda a disputa pelo poder. Com relação a execução da Batalha Campal, gosto sempre de reforçar os cuidados para evitar acidentes. Sendo assim, posiciono na frente da formação somente as meninas que tem predisposição para ocupar este local e destaco as partes do corpo que em hipótese alguma podem ser tocadas pelos escudos para evitar lesões (deixando claro que no Ensino Fundamental trabalhamos somente com escudos).
      Ainda não pensei em fazer algum trabalho com a justa ou mesmo com torneios. Creio que a utilização de espadas e outras réplicas de ataque poderiam provocar algum tipo de lesão nos alunos do Ensino Fundamental já que eles costumam ficar empolgados no dia da atividade. Sobre a participação de outros professores, acredito ser extremamente importante. Uma atividade interdisciplinar facilita a aprendizagem do aluno e enriquece todo trabalho. Além disso, você terá mais professores para ajudar na execução e observar a turma para que todos cumpram as regras.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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    2. Marcio, Obrigada!!

      Gostei muito da iniciativa, assisto todas as séries disponíveis desse período, a dinâmica de uma Batalha Campal exige disciplina e coragem espero conseguir dar aos meus futuros alunos essa oportunidade. Parabéns!

      Luciana Alves Maciel.

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    3. Fico feliz por saber que estou inspirando novos trabalhos. Conte comigo para ajudá-la.
      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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  3. Excelente texto, ótima discussão. O parabenizo também pela aplicação dessas encenações de batalhas campais em sala de aula. Minha questão é a seguinte: uma vez que o cerco medieval é uma estratégia militar fundamental para compreensão da guerra no auge do período, você considera possível elaborar, em sala, uma encenação desse tipo de conflito ou seria um tema impossível de abordar dessa maneira?
    Lucas Vieira dos Santos.

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    1. Olá Lucas.
      Fico muito feliz que você tenha gostado do texto. O cerco é realmente algo encantador na história da guerra no medievo. Contudo, acredito que a realização de um cerco no Ensino Fundamental seria muito complicada. Primeiro, precisaríamos de um espaço amplo e sem obstáculos que acabem provocando alguma lesão nos alunos. Precisaríamos também de um horário maior do que os dois tempos que costumam ser reservados para o ensino de História. Por último, acho que a imaturidade, comum no Ensino Fundamental, seria o maior elemento complicador para a execução do cerco.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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  4. Boa tarde, prof. Marcio tudo bem?
    Gostei muito do seu texto, e creio que a utilização de aulas práticas na História são um caminho importante, se não essencial para se aproximar dos alunos.
    A questão que eu gostaria de levantar é: Como você realiza essas atividades, você sempre tem o apoio de um professor de Educação Física? Pois, no estado de São Paulo, os professores não podem fazer uso da quadra, ou realizar atividades físicas sem a supervisão de um professor de Educação Física, visando principalmente, evitar os acidentes, e vejo que essa é uma preocupação central sua. Desse modo, eu gostaria de saber se você também lida com essa questão? E como você lida com ela.

    Obrigado pela atenção, um abraço.
    Geraldo Rosolen Junior

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    1. Olá Geraldo.
      Fico muito feliz por ter gostado do texto. De fato, me preocupo muito em evitar acidentes durante a realização das batalhas. Pois, um único acidente poderia colocar em descrédito todo o meu trabalho. Por isso, sempre realizo uma vistoria prévia no local de execução da batalha, procurando evitar áreas com muitos obstáculos e terrenos desnivelados. Por esta razão, a quadra poliesportiva, geralmente, é o melhor espaço para a apresentação deste trabalho. Nas escolas onde leciono nunca tive qualquer problema para utilizar a quadra, mas em uma delas a quadra estava em reformas e a batalha campal teve que ser realizada no pátio. Sempre que possível tento trabalhar junto com o profissional de Educação Física, mas nem sempre conseguimos combinar os horários. Para não ficar sozinho com os alunos na quadra, eu procuro sempre o apoio da equipe pedagógica e dos demais professores. Todos são convidados para ajudar na execução da tarefa. Já que estamos falando sobre a prevenção de acidentes, eu costumo realizar as batalhas campais somente nos últimos bimestres, depois de conhecer bem o perfil dos alunos e o nível de maturidade para aplicar a tarefa.
      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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  5. Parabéns pela atividade e pelo texto. Seu texto traz a sua avaliação da atividade pedagógica. Houve a avaliação por parte dos alunos? Como eles avaliaram a atividade? Raimunda Conceição Sodré

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    1. Olá Raimunda.
      No dia da atividade os alunos acabam ficando muito agitados, então eu costumo deixar as avaliações para a próxima aula. Na semana seguinte, eu separo um tempo para conversar com eles e saber a opinião de cada um. Em geral, a avaliação deles é muito boa e fica sempre um desejo de repetir a tarefa. Obrigado pela pergunta.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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  6. Uau, seu trabalho de campo foi muito interessante, encenar campos batalhas campais com intuito de aprendizagem via pratica é bastante eficaz, traz a tona um problema que muitos alunos sentem ao se sentirem distantes das temáticas estudadas. E o fato de você ter trabalho apenas os aspectos de defesa foi bastante provocativo, os alunos sempre que pensam nas batalhas lembram dos ponto de vista do atacante, sendo que nunca lembra do defensor, como você trabalhou essa característica histórica na sala de aula?

    Luanna Klíscia de Amorim Mendes

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    1. Olá Luanna.
      Obrigado por ressaltar um aspecto tão importante para este trabalho. De fato, eu me preocupei muito em destacar o papel dos defensores nos combates da Antiguidade e do Medievo. Durante as apresentações eu costumo falar muito sobre a preocupação em defender o guerreiro ao lado e como o resultado das batalhas eram obtidos através do esforço em conjunto. Gosto de comparar os combates da Grécia homérica, quando havia um destaque individual para o grande guerreiro, com os combates no período de Alexandre da Macedônia, quando o mais importante era o trabalho em conjunto da falange. Embora a defesa tenha sido uma preocupação natural de todos os grandes exércitos da história, vemos uma preocupação maior com as estratégias de defesa a partir do momento em que os reinos da antiguidade substituem as tropas temporárias e instituem um exército profissional, treinado desde a juventude. Com um árduo treinamento, este exército permanente entende que o trabalho em equipe é vital para a sobrevivência do grupo. Sendo assim, as corridas desenfreadas para atacar o inimigo (como aquelas que vemos nos filmes) acabam, em boa parte das estratégias, não sendo tão úteis quando um ataque organizado em blocos defensivos, como veremos nas falanges gregas e na formação tartaruga romana.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva.

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  7. Excelente experimento didático, prof. Marcio. É ótimo ver diferentes maneiras de potencializar o engajamento dos alunos, sobretudo numa geração em que as formas de entretenimento e tecnologia geram tamanha distração.

    No esforço de implementar essa atividade, que tipo de obstáculos você enfrenta, no que tange o consentimento do corpo pedagógico e dos pais dos alunos? Há algum padrão na fala da oposição (se é que essa existe)?

    Henrique Roberto Almeida de Lima

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    1. Olá Henrique.

      Confesso que hoje é bem mais fácil realizar as batalhas campais na escolas em que eu trabalho. Graças a Deus, minhas batalhas já são reconhecidas pela equipe pedagógica e pelos próprios alunos que esperam ansiosamente pela realização desta tarefa. Contudo, no início a execução das batalhas causou um certo espanto na equipe pedagógica, por conta das possíveis lesões que os alunos poderiam sofrer na atividade. Como tenho um bom relacionamento com a equipe pedagógica eu expliquei que o risco de lesões é o mesmo de qualquer atividade esportiva, mas que, mesmo assim, nossa batalha seria organizada com regras previamente definidas e com a participação de outros professores. Obrigado pela pergunta.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva.

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  8. Prof. Marcio, boa tarde
    Quero iniciar ressaltando que achei inspiradora esta aula, tanto do ponto de vista da criatividade quanto da flexibilidade de possíveis abordagens para uma mesma atividade.
    No decorrer da leitura, passei a me imaginar promovendo esta realidade junto aos meus alunos do ensino médio. Neste aspecto, surgiu uma dúvida sobre o tempo destinado a sua realização. Por tanto, gostaria de saber qual foi quantidade de horas destinadas a confecção dos materiais na graduação e na turma do ensino fundamental?

    E para além desta questão, outra. Essa produção se deu apenas nas respectivas instituições ou também houve uma parte da atividade que foi executada fora destes recintos?

    Nilton Gabriel dos Santos Vasconcelos

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    1. Olá Nilton
      Então, eu costumo realizar as batalhas apenas no ambiente escolar. Pois, os objetivos desta oficina são puramente pedagógicos e estão ligado ao conteúdo que estamos estudando. Todo o material das apresentações foi construído pelos próprios alunos fora do horário escolar para não atrapalhar as aulas teóricas. Por esta razão, costumo dar o prazo de um mês para a elaboração de todo o material da batalha. É importante que o professor ensine antecipadamente como devem ser feitos os equipamentos e estabeleça as medidas.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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  9. prof. Marcio Felipe
    Como fazer um país reviver o tempo medieval como os europeus fazem celebrações sobre esse período com batalhas medievais, como fazer o Brasil que não passou pelo tempo medieval gosta dessas batalhas campais ?

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    1. Olá

      Então, esta é uma questão muito debatida entre os historiadores. Embora o Brasil não tenha vivido os tempos medievais, ele fascina os estudantes por conta dos games e das séries. Geralmente, meus alunos chegam nas aulas com muitas perguntas e, particularmente, acho ruim não poder dar a atenção devida somente pelo fato do Brasil não ter vivido determinada época. Ainda que o nosso currículo escolar seja um tanto corrido, acho que podemos dedicar alguns minutos para tornar nosso conteúdo um pouco mais "saboroso" para nossas crianças.

      Atenciosamente
      Prof. Dr. Marcio Felipe Almeida da Silva

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