ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL,
ESQUEMATISMO E TELEOLOGIA
Introdução
Ao buscar tratar
de perspectiva que adote e valorize a complexidade da sociedade medieval, mesmo
nas salas de aula de História da Educação Básica, se valoriza o aluno. Também é
valorizar a si próprio enquanto professor, se sempre aberto a aspectos outros e
a formação constante e inacabada.
A História
Medieval junto a área Antiga é, provavelmente, aquela que o professor de
Educação Básica precisa de mais leitura, até pela dificuldade de apreensão, pelo
tempo passado mais distante, e por ser conhecimento que por esta natureza está
mais associado ao nome de especialistas.
Estes estudiosos
são chamados medievalistas.
Apesar de o
existirem também no Brasil, como Macedo [2000], são mais raros do que os estudiosos
dos períodos mais recentes, como do Brasil republicano, ou da Ditadura
civil-militar [Reis Filho, 2014].
Normalmente o
período medieval é visto de forma estanque, como de forma teleológica e
simplificada, sintetizada que é em três categorias que compõem esta sociedade
e, cheio de mitos (Pernoud, 1989), em muitas aulas ainda. No senso comum como
sinônimo de atraso, como na propaganda de internet que trava, “Essa internet
medieval de vocês” [Vivo fibra, 2019].
A própria
organização curricular, da disposição dos conteúdos, se o professor os seguir à
risca, expõe problemas a compreensão do aluno que, em pleno 6º ano tem de se
defrontar com a complexidade dos primeiros hominídeos e da própria “formação”
do homem. Já no ano seguinte, se defrontará com o Feudalismo.
Sem saber direito
a respeito da Idade Média, muito em débito ao professor que, despreparado e até
desprevenido em sala, desconhece a complexidade daquela realidade.
Sabendo que no
Brasil a periodização, aquela em quatro partes e criticada por Le Goff [2015]
não serve ao nosso país, a confusão na cabeça do aluno se estabelece.
Como resolvê-la?
A adoção da
síntese, induzida que é, reprodutiva para cada sociedade e períodos históricos,
não escapa ao Medieval.
Grosso modo, são três as categorias e, destas, com alguma diferença para ter
graça, se vale, de sociedade em sociedade, entendimento este, errôneo, pelo
menos desde a ideia político-partidária de perceber a riqueza de cada sociedade
em apenas três partes, aqueles que estão no poder, a “classe média” que até
almeja chegar lá e, a base disso, ou aqueles que estão por baixo, os pobres, os
excluídos, a ralé, a plebe ou quaisquer nomes que se dê.
Fica a critério
da perícia ou imperícia do professor de História, do seu tempo de aula. Do seu
preparo. Do respeito que oferece a profissão e aqueles que são os seus alunos,
naquele tempo, naquele ano letivo.
Depende também da
perspectiva à abertura como exposto no primeiro parágrafo, por exemplo, tendo
ciência do que afirma Heers [1995], a respeito da invenção da Idade Média.
Diante deste
cenário, objetiva-se trazer questões e apontamentos a respeito do ensino de
História que trata da História medieval, notadamente a partir da percepção do
primeiro autor enquanto professor na Educação Básica e da revisão de
literatura.
O ensino entre o esquematismo e a teleologia
De modo sumário –
e aqui vale-se do que o primeiro autor vivenciou em sua adentrada na docência
em História no início dos anos 2000 ainda como estagiário – percebe-se e se
ensina que no período medieval existiam apenas três ordens, três estamentos ou
três classes sociais, dependendo da “orientação teórica” a que se adote em
sala, na busca de alguma autonomia ou no mero ato de ser “piloto de livro
didático” na Educação Básica.
Quem são elas
neste entendimento? Os nobres, o clero e os camponeses.
O que segue, a
partir de alguns autores, expõe o entendimento que ressalta a prevalência da
perspectiva teleológica que provavelmente têm contribuído à manutenção do
entendimento redutor a respeito da Idade Média.
Se por um lado,
muitos autores demonstraram a complexidade da sociedade medieval, como os
renomados medievalistas Bloch [1982], Duby [1994] ou Le Goff [2005] para ficar
naqueles considerados “clássicos” na área temática.
Por outro,
existiu um outro debate (e pasmem, ainda alguns o postergam!) sobre a
existência ou não do Feudalismo além de partes da Europa, aquela considerada
Ocidental.
Mesmo que essa
disputa tenha sido vista como finalizada, os seguidores de Guimarães [1963],
que no Brasil se notabilizou por esta linha de pensamento, só aumentam entre os
integrantes dos movimentos sociais no país, como o MST.
Mais
recentemente, um outro debate, e com não menor espanto, a respeito da
existência de campesinato além do espaço geográfico e tempo histórico europeu,
sugerem para a atualidade brasileira a permanência de tal categoria em sua
agricultura que é altamente tecnificada na maior parte das regiões.
Compreende-se seu
uso apenas enquanto potencialidade política na voz dos movimentos sociais, mas
provavelmente, é de difícil apreensão analítica na realidade social por parte
de cientistas sociais.
Nesse sentido,
talvez a máxima “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a
história das lutas de classes” [Marx; Engels, 2005, p. 40], tenha contribuído
sobremaneira a essa questão, em especial a partir dos usos teleológicos que se
faz destes.
Estes autores
assim caracterizaram a sociedade medieval:
“[...] na Idade
Média, senhores, vassalos, mestres das corporações, aprendizes, companheiros,
servos; e, em cada uma destas classes, outras gradações particulares” [Marx;
Engels, p. 40].
Nesta mesma
linha, Ponce [2010] afirma que “[...] o feudalismo conhecia três ‘variedades’
sociais: os bellatores, ou
guerreiros, os oradores, ou
religiosos, e os laboratores, ou
trabalhadores” (Ponce, 2010, p. 86, ênfase no original).
Por outro lado,
mesmo acrescendo em detalhes e linhas de interpretação a respeito do período
medieval, mas sem sair do esquema explicativo, Saes e Saes [2013] afirmam que
“[...] alguns historiadores concentram sua atenção nas relações entre os
nobres; e outros têm seu foco na relação entre os nobres e os camponeses”
[Saes; Saes, 2013, p. 43].
No esquema os
autores entendem as “[...] características indicadas como definidoras do
sistema: a relação suserano-vassalo, a fragmentação do poder e o
estabelecimento da servidão como relação social fundamental no campo” [Saes;
Saes, 2013, p. 48].
Sob outra
perspectiva, Burbank e Cooper (2019) afirmam que “Os reinos não se mantinham
unidos por laços de semelhança, mas por conexões verticais entre desiguais”;
para os autores estas se davam entre “[...] reis e senhores, senhores e
vassalos, vassalos e camponeses” [Burbank; Cooper, 2019, p. 116].
Entre as inúmeras
perspectivas muito próximas e que ao cabo se sintetizam no esquema das três
categorias e, que ao fundo o é teleológica, um exemplo se amplifica ainda mais
pelo estilo de escrita e o alcance de vendas, é o caso do entendimento de
Harari [2015].
Para este autor,
“Na Europa medieval, os aristocratas gastavam o dinheiro despreocupadamente em
luxos extravagantes, ao passo que os camponeses levavam uma vida frugal,
cuidando de cada centavo” [Harari, 2015, p. 359].
Ou ainda: “Na
Idade Média as pessoas acreditavam em divisões de classe, então nenhum jovem da
nobreza usaria um traje de camponês. Na época, ser chamado de ‘senhor’ ou
‘senhora’ era um privilégio raro reservado para a nobreza e muitas vezes
adquirido com sangue” [Harari, 2015, p. 121].
É esse
entendimento empobrecido que contribui para que muitos professores de História
o amplifiquem em sua sala de aula na Educação Básica. E o fazem de forma
estanque, em uma hora-aula, ao transpor realidades complexas e singulares de
sociedades diversas, de uma a outra, como se fossem idênticas.
Nesse
entendimento, é como se o vitimismo se estabelecesse na narrativa da História,
e a opressão imperasse, apenas ela, sem existir a possibilidade de resistência
a partir de mecanismos diversos e, transformações nas relações entre dominados
e dominadores não fossem possíveis, apesar das permanências.
Ao se adotar essa
postura, “[...] em que pesem os reiterados esclarecimentos de historiadores
especializados na pesquisa sobre a Idade Média a respeito dos estereótipos que
envolvem aquele período, [pela ação de professores] muitos preconceitos ainda
persistem” [Macedo, 2007, p. 109-110].
Mas o que se pode
fazer?
Possibilidades
Para se iniciar,
uma questão que já foi feita ao primeiro autor e, provavelmente também a outros
professores, é idêntica ao exposto por Macedo [2007]:
“[...] ao
falarmos de Europa Medieval tratamos quase sempre de França, Inglaterra,
Alemanha e Itália. Outra seria a Europa do Leste Europeu, a Europa Nórdica e,
segundo nos interessaria mais saber, a Europa Ibérica. Descolonizar o ensino de
História” [Macedo, 2007, p. 115].
Frente a isso é
premente a necessidade de fazer a discussão a respeito do estudo do período
medieval e esclarecimento aos alunos a respeito da relação do Brasil com este,
mesmo que não o tenha vivido de forma direta, como posto no canto “Céus de
Castilla y León”, de Vasconcellos e César [2017]:
“[...] Reinos
lendários da Ibéria
Fronteiras da
cristandade
Se eu não vivi
neste tempo
Como é que eu
sinto saudade? [...]”.
Por outro lado,
Guaracy [2015] afirma que o Brasil português foi organizado a partir de métodos
de administração da Idade Média.
Pode-se, então,
buscar mais sentido com a relação com a Península Ibérica, como será revelado
mais adiante no texto. Mas, antes talvez se deva valorizar o exposto por Caimi
[2006], que é outro dilema, que também é próprio dos professores da Educação
Básica, pois
“[...] é paradoxal verificar como persiste,
nos meios acadêmicos, a concepção de que, para ensinar História, basta a
apropriação, nos cursos de formação, pelo futuro professor, dos conhecimentos
históricos produzidos e sistematizados pela historiografia e pela pesquisa
histórica, negligenciando-se a preocupação com estudos sobre a aprendizagem, ou
seja, com a construção das noções e dos conceitos no pensamento da criança ou
do jovem” [Caimi, 2006, p. 21].
Como a concordar
com a estratégia teleológica e com a busca e o privilégio do esquematismo a
respeito do período medieval em sala, o professor que não manifestar
preocupação com a afirmação de Caimi [2006], estará, entrega-se, alheio ao que
a historiografia nacional tem se proposto em se tratando do período.
Nesse sentido, a
respeito da Idade Média, de acordo com Oliveira [2010, p. 107], “[...] há muito
tempo tem despertado o interesse dos brasileiros, mas só recentemente é que
esse campo tem alçado uma maior atenção no que diz respeito à realização de estudos”.
Por outro lado,
conforme Vieira [2013, p. 28] “[...] ainda existe em nossa sociedade um grande
preconceito em relação à Idade Média”.
Em concordância a
existência, talvez caberia ao professor de História refletir, ponderar a
respeito do que afirma o medievalista consagrado, “[...] como quase todas as
épocas, a Idade Média foi uma mistura de êxitos e de derrotas, de felicidades e
de dramas” [Le Goff, 2008, p. 53].
E quando este
professor passar a considerar que “Negligenciando a formação do sentido
histórico, esquecendo que a história é a memória dos povos, o ensino forma
amnésicos” [Pernoud, 1989, p. 158], talvez a sugestão de Macedo [2007] quanto
ao trato da obra de Rucquoi [1995] ao se pensar sobre a origem do Brasil, tenha
mais sentido.
No entender desta
autora, são as conexões estabelecidas pelos portugueses antes da “descoberta”
com muçulmanos e judeus, dentre outros aspectos que podem levar a produção de
sentido para o estudo de Idade Média a estudantes brasileiros, pois a “[...]
diversidade é a principal característica da história da Península Ibérica”
[Rucquoi, 1995, p. 11].
Nesse sentido,
afirma que “Longe de constituir uma ‘margem’ da cristandade do Mediterrâneo, a
Península Ibérica situa-se então no próprio coração do mundo medieval na medida
em que é a herdeira do Império Romano” [Rucquoi, 1995, p. 15].
Por outro lado, a
autora reconhece que “A história medieval da Península Ibérica e,
efectivamente, mal conhecida” [Rucquoi, 1995, p. 312].
Se assim
corroborar o professor de História e, de tal modo se valer deste uso equivocado
e esquemático, este acabará por praticar o exposto por Almeida e Silva [2011]
quanto ao período medieval. Afirmam os autores que,
“No campo do
saber histórico tem cabido à Idade Média o papel não confessado de tabula rasa sobre a qual conteúdos
vários podem ser adaptados. Torna-se, assim, de forma mais marcada que outros
períodos históricos, terreno livre para a apropriação ou a transposição
oportunista de sentido histórico, porque excluído da zona de continuidade
histórica. [...] como uma zona de sombras aparece em sua negação como Idade das
Trevas, mas igualmente em sua hiperidealização como ‘lenda dourada’” [Almeida;
Silva, 2011, p. 13, ênfase no original]
Para além da
perspectiva extremista, o professor deverá lembrar ou ler mais a respeito se
ainda não o saiba, e se com interesse em passar adiante uma ideia diversa do
que se têm feito a respeito do período, expor que
“O período
medieval é marcado em Portugal por dois períodos de urbanização distintos: a
ocupação muçulmana dos séculos VIII a XIII, e o período cristão a partir de
meados do século XIII, após a conquista definitiva do Algarve” [Teixeira, 2005,
p. 129].
Apenas dentro
desta linha interpretativa, se o professor se atentar, abrem-se possibilidades
de interdisciplinaridade com o ensino de Artes e Literatura, áreas que ajudam a
dar sentido visual e cognitivo, se aproveitadas, ao ensino de História.
Se forem pensar
neste trabalho conjunto, talvez estes professores devam ter em ideia que,
“Quando uma cidade era conquistada pelos cristãos, a sua função defensiva
mantinha-se e as cidades não modificavam a sua estrutura, nem a sua
arquitectura. [...] A mesquita maior era habitualmente convertida em igreja
matriz” [Teixeira, 2005, p. 135].
E talvez possam
considerar a escrita de Toro Vial [2015]. Este autor expõe que “Ao longo de
toda a Idade Média constatamos a existência de um tipo particular de crônicas.
[...] são relatos que pretendem abarcar toda a história da humanidade, desde a
criação do mundo até a época do seu autor” [Toro Vial, 2015, p. 158].
Mas que também,
para além das proximidades possíveis, das possibilidades que o intercâmbio
entre as áreas sugere, deve-se considerar que
“As sociedades
portuguesa moderna e a brasileira colonial [...] não formavam um corpo orgânico
e único, mas debaixo das aparências que precisavam ser mantidas afloravam
clandestinamente expressões de descontentamento, revolta, incompreensão, medo e
dúvidas. Não formavam uma unidade religiosa, como se pregou. Havia manifestações
adaptadas do Judaísmo, de Protestantismo e de Islamismo, como do próprio
ceticismo” [Ribeiro, 2015, p. 48].
A autora acresce,
neste sentido, que
“O Brasil não foi
de fato uma terra de ninguém que pouco interesse despertou nos europeus. Ao
contrário, para alguns portugueses de origem judaica, era a própria ‘terra
prometida’, vista, como um lugar de maiores possibilidades de ascensão social”
[Ribeiro, 2015, p. 61].
Vieram para cá
porque perseguidos por lá. Muitos outros não o eram e vieram também, e dela não
queriam voltar, tal como exposto na canção “Notícias da Terra Brasilis” de
Vasconcellos e César [2017]:
“Trago notícias
de uma terra muito boa
[...]
Termino assim de
lhe contar as novidades
E, por favor, me
mande mais alguns cabrais
É por El Rey que
iniciarei a mestiçagem
E me perdoe,
majestade,
mas eu não volto
nunca mais!”.
E se assim foi, a
respeito da centralização precoce da política em Portugal, processo que pode
ter ajudado a desencadear, “[...] a Península Ibérica surge como uma espécie de
vanguarda política na Idade Média” [Coelho, 2014, p. 41].
Comparato [2018]
compreende que esta centralização precoce se deu com o aumento do poder do rei
e a consequente diminuição de poderes de nobres e clérigos.
Para o autor, o
confisco de terras dos nobres, que antes as haviam recebido do monarca como
recompensa pelos feitos militares, desde a Lei
Mental de D. Duarte, os tornou como clientes do rei “[...] beneficiando-se
de empregos e rendas públicas” e, com a instituição do padroado desde o século
XIII, “[...] formou-se uma sociedade cujo equilíbrio orgânico pendia
inteiramente da cúpula, em vez de se fundar na base” (Comparato, 2018, p.
37-38)].
De outro ponto de
vista, apesar da centralização triunfalista exposta a partir do entendimento do
autor anterior, Coelho [2014] entende que este
“[...] monarca
não dispunha de instrumentos de repressão e de punição realmente eficazes para
impor a sua lei. [...] embora a recorrente impunidade enfraquecesse o poder
régio, por outro lado, chama a atenção a frequência com que as pessoas recorrem
às instâncias da justiça do rei para solucionar seus conflitos” [Coelho, 2014,
p. 47].
Quanto a estas
interpretações, dentre outras, que abrem brechas nas ideias monolíticas a
respeito do período medieval que vêm sendo criticadas, a busca de sentido no
ensino a respeito da Idade Média em Portugal, do que pode se valer o professor
de História em seu contraponto aos esquematismos que o induzem ao reducionismo
e relacionar ao Brasil, este talvez possa beneficiar-se, além de Rucquoi
[1995], dos textos de uma mesma coletânea: Mattoso [2000], Coelho [2000] e
Moreno [2000].
A respeito da
renovação dos estudos medievalísticos, Tengarrinha [1999] afirma que foi “[...]
na década de 80 que os trabalhos sobre a história rural da Idade Média começam
a ter maior desenvolvimento” (Tengarrinha, 1999, p. 117].
Na mesma obra,
quanto aos estudos no Brasil, Arruda [1999, p. 81] afirma que estes têm se
originado especialmente a partir da temática “[...] das relações entre a
Metrópole e a Colônia”.
Considerações finais
O intento foi
mostrar, a partir de algumas obras que há, que talvez tenham contribuído
sobremaneira aos professores da Educação Básica, para o uso de esquematismo e
teleologia no ensino de História sobre a Idade Média.
Por outro lado,
enquanto alternativa a este costume, buscou-se mostrar que há renovação,
constante e significativa na temática. Que a historiografia tem adentrado mais
na relação entre Brasil e Portugal, da metrópole e a colônia, o que traz
possibilidades de significar e aproximar mais o ensino aos alunos.
Ao entrar a esse
imaginário, sugere-se o trato completo da obra “Doze cantos ibéricos e uma
canção brasileira” de Vasconcellos e César [2017]. Poderá ser uma forma de
possibilitar aproximações, em busca do sentido do ensino de História Medieval
na Educação Básica, a partir da audição e dos caminhos que se abrem para serem
trilhados com outros colegas professores.
Se antes era lema
“navegar é preciso” como disse o general romano Pompeu [UC.PT, s./d.], agora
experimentar novas formas, reinventar, é necessário, ainda mais no ensino de
História Medieval!
Referências
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Prezados, gostei muito do texto.
ResponderExcluirApesar das proximidades, considerando o esforço da decolonialidade, voltar-se para a Península Ibérica não arriscaria substituir um ídolo com pés de barro por outro?
Renan Birro
MANOEL ADIR KISCHENER
ExcluirAgradecido, Professor!
Até pode ser. Mas na busca de sentido e proximidade no ensino, que o aluno se encontre em meio ao mar de produções que buscam se achegar e mesmo disputar o imaginário medieval (que em algumas escolas até chega, em produções, livros e revistas, jogos), penso que ao se aproximar da Península Ibérica pode ser uma boa estratégia, da diversidade desta como expõe Adeline Rucquoi, e mesmo proximidade formativa, por assim dizer, já que fizemos parte desta história, mas com a ressalva de não se ficar na negação do período como “idade das trevas”, ou com a hiperidealização como “lenda dourada”, como sugerem Néri de B. Almeida e Marcelo C. da Silva.
Abraços!
EVERTON MARCOS BATISTELA
ExcluirBuscando responder às colocações do Renan e também às do Renato. O interessante é que estamos vivendo, em múltiplos setores da vida social, uma espécie de descoberta da alteridade, da diversidade. Diante do declínio da civilização ocidental, iniciamos uma era de atenção à outras formas de vida social, que o ocidente relegou em nome de uma padronização cultural, civilizacional. Essa tendência de abertura pode permitir novas visões e incursões na História Medieval.
Prezados,
ResponderExcluirConcordo com a questão colocada por Renan Birro e a resposta me faz pensar em outra reflexão: A Península Ibérica tem sua diversidade na Idade Média. Mas não seria possível ver diversidade em muitos outros espaços europeus medievais? Penso, por exemplo, no mundo anglo-saxão e nórdico, na península italiana (de contato intenso com o mundo bizantino, grego e africano, além das migrações recebidas no Baixo Império Roomano e Alta Idade Média), ou mesmo no espaço franco-germânico, local do feudalismo clássico, onde se vê muito mais que oratores (não oradores), bellatores e laboratores, mas também comerciantes, artesãos, mulheres com funções sociais distintas em níveis sociais distintos... Concordo com o olhar pela diversidade. Mas essa ligação com a Peninsula Ibérica, pelas ligações históricas com o Brasil, não seria também teleológica?
MANOEL ADIR KISCHENER
ExcluirAgradecido, Professor!
Concordo quanto a diversidade, tudo depende, em nossos dias (com mais acessos e possibilidades) do que o professor definir como trato ideal em suas aulas, como defendo em outro texto, neste mesmo seminário, talvez seja o momento deste professor (de nosso tempo, da Educação Básica) se rebelar e, teria as melhores condições, penso, contra o livro didático (e mesmo da teleologia herdada de graduação), ao buscar dar novo rumo as suas aulas.
Não se nega que exista diversidade como nos espaços citados por vós, mesmo que isso não apareça nas obras denunciadas como teleológicas na escrita, depende, como escrevi, da estratégia que o professor se valer (mas eu mesmo não tive oportunidade de ver isso, essa diversidade que o Sr. consegue ver, e sei que é possível, nem com os professores da Educação Básica, nem com o de graduação).
Não vejo como teleológica essa ligação com a Península Ibérica, ao contrário, a vejo como uma, entre tantas possibilidades como vós defende em seus exemplos, entre outras, mas talvez a que permite mais o achego a questões presentes em nós, na forma como nos constituímos, daquilo que permanece em algumas regiões, os laços culturais, os costumes e, mesmo as estratégias de vida se pensar naquelas comunidades, do Brasil profundo, que mantém essa medievalidade mais lusa, por assim dizer. Bem ao contrário, seria uso da teleologia os esquemas que são costumeiros, mesmo em cursos de pós-graduação, de olhar redutor sobre o período medieval (permanece, infelizmente, uma perspectiva empobrecida dentre nós, muitos dos colegas que temas mais contemporâneos falam e estereotipam a Idade Média, como fosse possível comparar períodos históricos) em categorias e períodos como se fossem únicos, onde não há mostra alguma de diversidade, de tensão, de relações de dominação e resistência, por exemplo, independendo do local a que se refere.
Abraços!
Correção:
Excluir* muitos dos colegas que tratam de temas mais contemporâneos...