Renan Marques Birro


ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL, EUROCENTRISMO E BNCC (2015-2018): UM DEBATE RECENTE?



Esta comunicação tem como objetivos: 1) propor uma reflexão transversal sobre a institucionalização dos estudos históricos no Brasil do ponto de vista acadêmico; 2) a manutenção da disciplina “História Medieval” nas grades curriculares universitárias e, por último; 3) a discussão em torno do eurocentrismo, que extrapola as universidades até alcançar as escolas. Esta questão foi retomada com particular vigor nos últimos anos diante da institucionalização da Base Nacional Comum Curricular [Lima, 2019; Miatello, 2016; Teixeira & Pereira, 2016].

Como eu tentarei demonstrar no transcorrer do texto, a discussão me parece fora do lugar. Em primeiro lugar, pela forma de ensino que ainda remonta a modelos europeus; em segundo lugar, pelos riscos nem sempre discutidos da imposição de um novo paradigma em termos temáticos e espaço-temporais; terceiro, pela adoção de premissas conceituais e historiográficas nitidamente conectadas ao mundo intelectual europeu, sobretudo da esfera francesa.

Da institucionalização dos Estudos Históricos universitários até a BNCC: um breve panorama
No início do século XXI, Patrick Geary [2002] apresentou como vários países europeus empregaram o passado medieval para legitimar suas pretensões territoriais, populacionais e ideológicas. O texto rememora posições clássicas e consolidadas por nomes como Eric Hobsbawm [2002] e Miroslav Hroch [1985], e pode ser sumarizado nos seguintes parâmetros: a necessidade de formação de um grupo de intelectuais engajado em uma empresa nacional; a adoção de uma forma de língua oficial e de um conjunto cultural comum (folclore, literatura e tradições); a ampliação desses parâmetros sobre um determinado território; a evocação de um passado comum (não raro medieval e “inventado”) que conectava comunidades culturais e linguísticas; a transmissão dessas ideias em massa, sobretudo na esfera escolar (e de preferência pública). Ademais, os três historiadores citados manifestaram que este modelo teve início no contexto prussiano; outrossim, que a intelectualidade europeia teria atribuído a vitória germânica na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) como uma consequência da adoção desses parâmetros político-ideológicos, que teriam encorajado os soldados, produzindo uma ideia de unidade e de defesa da mãe-pátria. Não por acaso, muitas nações logo adotaram medidas similares que promoviam o discurso nacionalista, a identidade nacional e parâmetros históricos e linguísticos com validade para todo o país.

As obras dos dois primeiros autores alcançaram certo destaque entre os historiadores do Brasil. Porém, chama atenção como outra produção de Geary [1996] recebeu pouquíssima importância e que será basilar neste trabalho. Ela versa sobre o impacto dessa tradição intelectual germânica no ambiente universitário estadunidense do final do século XIX e início do XX. Em época, as universidades dos EUA adotaram o “modelo de seminário germânico” (com reflexos generalizados em praticamente todo o mundo e em voga até hoje). Entrementes, pesquisadores estadunidenses foram estudar em instituições germânicas, enquanto professores germânicos lecionaram nos EUA. Consequentemente, os arquétipos explicativos da história europeia germânica foram adaptados para consolidar as bases da historiografia nacional estadunidense [1996] – incluindo, notadamente, um discurso de superioridade racial e a noção de destino manifesto - ambos com ampla repercussão social, política e religiosa [Birro, 2016a; Birro, 2016b].

Diante desse cenário, é preciso pensar se o mesmo fenômeno ocorreu no Brasil e sob quais bases. Logo, fica perceptível a influência principal francesa, que foi apoiada por políticos e pensadores brasileiros. Para tratar do assunto de modo célere, recobro o cenário de instituição das universidades brasileiras a partir do breve retrato do cenário paulistano (com ênfase na Universidade de São Paulo), mas que pode ser também notado no cenário fluminense, ainda que de forma mais tímida (principalmente da Universidade do Rio de Janeiro/Universidade do Brasil) na primeira metade do século XX. Desde o século XIX, havia uma nítida intenção da intelectualidade tupiniquim de estreitar as conexões do passado nacional com o europeu [Ferreira, 1999], seja a partir de construções fantasiosas (vinda de sociedades européias da Antiguidade ou do Medievo para o país), seja a partir dos europeus colonizadores [cf. Malheiro Dias, 1921-1926]. Esta pretensão foi apoiada pelos franceses, visto que outras nações europeias aparentemente pretendiam fazê-lo, como os alemães e italianos [Ferreira, 1999].

Ato contínuo, ressalto a contribuição de Eurípedes Simões de Paula e de seu orientando e posterior colega na Universidade de São Paulo, Eduardo de Oliveira França – respectivamente, o catedrático de Civilização Antiga e Medieval e de Civilização Moderna da referida instituição. Sob influência da “missão francesa”, fomentada por grandes nomes como Fernand Braudel e Jean Gagé, esses autores perpetuaram, de modo consciente ou não, a empresa francesa em solo brasileiro. Alguns sinais parecem claros nesse sentido: a preferência e adoção do termo “civilização” nas cátedras uspianas, termo provindo da esfera intelectual francófona [Cardoso, 1997]; além disso, cito a adoção do “modelo quadripartite francês” (períodos Antigo, Medieval, Moderno e Contemporâneo), com as devidas adaptações, a saber, considerando a inclusão das cátedras/recortes como “Civilização Brasileira”, “Civilização Ibérica” e “Civilização Americana” [Ferreira, 2012].

Em caráter sintético, Paula, Oliveira França e outros docentes uspianos mantiveram intensa correspondência com colegas franceses, visitaram a França sempre que possível, utilizaram eminentemente textos em francês e aprenderam francês. Notadamente, a Universidade de São Paulo contou com a colaboração de intelectuais franceses, que moldaram em grande parte seu modelo "espiritual" e funcional; o contato dos estudantes com a França era iniciado precocemente e provinha do Ensino Secundário, visto que o aprendizado da Língua Francesa era obrigatório [D'Alessio, 1998].

Como último argumento neste sentido, é preciso mencionar a forte influência de Eurípedes Simões de Paula nos rumos do curso de História da Universidade de São Paulo: ele foi um importante ator na indicação de Sérgio Buarque de Holanda para a cátedra de “Civilização Brasileira” em 1956 [Furtado, 2015], além de ter participado ativamente na formação de muitos de seus pares (um bom exemplo é o já mencionado Oliveira França) [Theodoro, 2009].

Como é possível perceber, havia uma reprodução curricular Brasil daquilo que se praticava e como se praticava nos EUA e na França principalmente, mas com um razoável atraso - mudanças ocorreram nos EUA e na Bélgica pouco antes ou depois da Primeira Guerra Mundial como reação aos alemães no conflito [cf. Geary, 1996; Wood, 2013], mas permaneceram no Brasil até ao menos o fim da Segunda Grande Guerra. A tônica discursiva entre docentes e discentes de História notadamente mudou na transição das décadas de 1950 e 1960, graças às intervenções nacionalistas da União Nacional dos Estudantes (UNE) e por ocasião da criação da Associação Nacional de Professores Universitários de História (ANPUH): em suma, essas instituições e seus membros criticavam a perspectiva colonialista do Ensino de História universitário, que impunha impactos diretos na Educação Básica do país [Ferreira, 2012].

Apesar do descontentamento, as críticas não impactaram diretamente na produção e aplicação ampla do Parecer nr. 377/1962 do Conselho Federal de Educação (Precursor do Conselho Nacional de Educação ou CNE), sob o título de Introdução aos Estudos Históricos. Este documento determinava as disciplinas dos cursos de História a serem aplicadas no país, divisão dos acontecimentos históricos em quatro períodos, a saber, Antigo, Medieval, Moderno e Contemporâneo – o famoso e já mencionado “modelo quadripartite francês” [Lima, 2019] – com as devidas adaptações nos moldes uspianos, como exposto previamente.

Com a ditadura, o debate curricular aparentemente permaneceu inalterado até meados da década de 1980 [Ferreira, 2012]. Dali em diante, as grandes mudanças estruturais nos cursos de História no Brasil envolveram quase exclusivamente as exigências da esfera pedagógica e/ou a inclusão de disciplinas específicas de História da África, História Afrobrasileira, História Indígena, Educação étnico-racial etc. Porém, em termos rigorosos, o “modelo quatripartite francês” manteve-se incólume (para verificar sua estabilidade, basta comparar as grades curriculares dos cursos país afora), tal como a influência da historiografia francesa em nosso ofício cotidiano e nos conteúdos ensinados nas escolas. O debate alimentado nos últimos cinco anos, portanto, remonta a meados do século passado, ou seja, nada tem de novo. Deste modo, seria pertinente e um verdadeiro ato historiográfico retomar as razões que levaram os nossos precursores a preservar tal ossatura curricular por tanto tempo.

Recortes espaço-temporais e alguns problemas de uma produção histórica paroquial
Após a reflexão da francofilia e francofonia entre historiadores nacionais, parece paradoxal empregar um francês para afirmar que a adoção de recortes espaço-temporais não abarca o terreno da neutralidade. Seja como for, conforme Jacques Le Goff [2014], esse exercício demanda esforços artificiais, didáticos e parciais empregados pelos historiadores e eivados de uma panóplia de razões (culturais, ideológicas, intelectuais, políticas etc.). Portanto, enquanto construções, os recortes espaço-temporais são opções e podem e devem ser relativizados. Diante disso, não se deve demonizar a tentativa de mudança em prol de um saber menos eurocêntrico, como pretendia a primeira versão da Base Nacional Comum Curricular [2015], visto que se trata de algo constante no exercício da História; doutra feita, é preciso verificar até que ponto este esforço é possível, legítimo e não carrega consigo lampejos de ingenuidade.

Portanto, as perguntas que ficam são: o que se ganha e se perde com a adoção de um novo paradigma? Quais riscos estão envolvidos? Até que ponto é legítimo estudar e ensinar História Medieval no Brasil? Por fim, até que ponto estudar um objeto/tema/recorte espaço-temporal/abordagem constitui algo mais legítimo do que outro(a), seja ele(a) qual for? A meu ver, Carlo Ginzburg ofereceu uma boa resposta que ajuda a elucidar os problemas em voga:

A história pode nos despertar para a percepção de culturas diferentes, para a ideia de que as pessoas podem ser diferentes e, com isso, contribuir para a ampliação das fronteiras de nossa imaginação. Disso decorreria uma atitude menos provinciana em relação ao passado e ao presente” [GINZBURG, 2002. O grifo é meu].

Assim, a meu ver, caso as (felizmente fracassadas) tentativas de impor uma exclusividade quanto ao objeto, tema, recorte espaço-temporal ou abordagem na história fossem bem sucedidas, produziríamos no mínimo profissionais míopes e incapazes de avançar até mesmo na premissa comparativa da prática histórica mais básica [Veyne, 2008]. Além disso, este exercício é fundamental para reconhecer de modo claro os duradouros impactos da historiografia francesa em nossa base teórica, nos arquétipos da historiografia brasileira, em nossos currículos universitários e escolares e na formatação da nossa cultura histórica escolar [Schmidt, 2012; Rüsen, 1994].

Consequentemente, qualquer movimento em prol deste controle produziria uma História endógena, estagnada, pouco inovadora e desprovida de criatividade, tal como desconectada da realidade vivida. Por conta disso, retomo o supramencionado historiador italiano sobre a necessidade de justificar por que estudar isso ou aquilo (e qual História deve ser produzida):

“O que hoje deve ser enfatizado é que as pesquisas que tratam de tópicos cuja relevância é dada a priori não são nem piores nem melhores do que as que tratam de tópicos cuja relevância é dada a posteriori. O que é melhor é simplesmente pesquisar melhor” [Ginzburg, 2002. O grifo é meu].

Para que aprender e ensinar a História Medieval? Crítica e conclusão
Acredito que um exercício intelectual talvez ajude a esclarecer minhas colocações e apontar os dois argumentos que expus anteriormente, a saber, do impacto dos arquétipos historiográficos franceses na historiografia brasileira (que seriam ignorados caso fosse adotado um pensamento paroquial) e os problemas de nada saber sobre a Idade Média e sobre sua recepção na contemporaneidade.

De modo geral, a cultura histórica escolar brasileira [Schmidt, 2012], os livros didáticos e impressões do senso comum (sem mencionar aquelas manifestas por alguns colegas de ofício) fazem alusão ao período medieval como uma “era das trevas”, que gozou de pouco destaque em termos culturais, econômicos, intelectuais, políticos e sociais, enfatizando a mudança intelectual e tecnológica no contexto das grandes navegações e do ciclo português. Consequentemente, além de ignorar que esses avanços foram consolidados em grande medida no período medieval, trata-se indubitavelmente de um processo de colonização do passado medieval para beneficiar uma errônea compreensão dos Estados Modernos – muito mais ambíguos e eivados de contradições do que a historiografia tradicional nos fez crer [Mello e Souza, 2008].

Creio que uma forma de superar essas dificuldades envolve o medievalismo – ou seja, uma abordagem preocupada com recepção do período medieval na contemporaneidade (uma vez que há um grande interesse popular no período) e com a historiografia sobre o período medieval [Utz, 2015; Pugh & Weisl, 2013; Müller, 2010]. Contudo, as discussões e preocupações acadêmicas muitas das vezes passam ao largo desses interesses e esforços, produzindo não só um isolamento, mas uma reflexão acadêmica que pouco dialoga com a realidade vivida [Birro, 2019]. Obras literárias, games, filmes e séries manifestam ideias e representações [Chartier, 1988] que aludem ao período medieval e são amplamente consumidas de diversas maneiras podem propiciar subsídios para a retomada de argumentos de pureza religiosa/moral, dos nacionalismos, de projetos político-ideológicos de superioridade racial, sejam por plena ingenuidade ou intencionalmente de modo descuidado/inacurado [Eco, 1984]. Tal esforço parece ainda mais trabalhoso ao considerar a esfera da História Pública: o profissional do campo da História enfrenta recorrentemente uma concorrência desleal em termos de veículo, linguagem, acesso, flexibilidade e compreensão daquilo que a sociedade deseja consumir naquele momento, tal como uma limitação formativa e metodológica de como comunicar com a sociedade [Meneses, 2018; Lucchesi & Carvalho, 2016; Almeida & Rovai, 2011].

Para ilustrar ainda melhor ambas as questões, Richard Utz atestou certa vez que:

“Como resultado, um filme de 178 minutos, Coração Valente (Braveheart), foi capaz de apagar aquilo que 150 anos de erudição tinha estabelecido quanto à Primeira Noite do Senhor (um rumor de direito feudal do senhor para tomar a virgindade das filhas recém-casadas de seus servos). O estudo meticuloso das fontes desde o Iluminismo sobre os horríveis crimes cometidos durante as Cruzadas medievais não impediu que os acadêmicos chamassem seus ‘times’ de cruzados. E dezenas de milhares de livros e artigos eruditos sobre a cavalaria medieval não tiveram influência diante da apropriação dos supremacistas brancos das alegadas virtudes cavaleirescas” [Utz, 2015].

De modo concomitante, é preciso considerar as interpretações históricas que alimentam as premissas das “raízes medievais da sociedade brasileira” ou mesmo discussões em termos abordados nos estudos medievais (feudo, feudalismo, servidão, milenarismo medieval, bárbaros e civilizados etc.), presentes em clássicos da historiografia nacional como Carlos Malheiro Dias [1921-1926], Sérgio Buarque de Holanda [1936], Gilberto Freyre e [1933], Caio Prado Júnior [1942] e Nelson Werneck Sodré [1962]. Chamo atenção que todos esses autores e suas obras ainda ecoam em nosso próprio tempo: basta verificar os últimos trabalhos do célebre medievalista brasileiro Hilário Franco Júnior [2008] ou o impacto do manual de Jérôme Baschet [2006] nos cursos de graduação no país para perceber como elementos refinados dessas manifestações medievais no Brasil ainda se fazem presentes em nossa academia.

Parece límpido que os malefícios da manutenção dessa longeva tradição de modo ingênuo e/ou sem um exercício de "reflexividade obsessiva" [Bourdieu, 1999] são consideráveis: de acordo com Nadia Altschul [2015], que analisou um dos textos formadores da identidade nacional (Os Sertões de Euclides da Cunha), percebe-se que a utilização dessas “raízes medievais no Brasil” serviu para afirmar uma pretensa superioridade dos habitantes do centro-sul frente ao sertanejo (um termo deliberadamente amplo que absorvia tanto o nordestino quanto o nortista), que vivia sob um “regime feudal” e afogado pelo milenarismo religioso; além disso, o sertanejo seria um quasi equivalente do bárbaro medieval, isto é, um bruto ignorante, o que explicaria o atraso da região Nordeste quando comparada às plagas do Sudeste e Sul do país. Portanto, de maneira resumida, era preciso extirpar os elementos característicos da cultura nordestina para que o quinhão Setentrional pudesse enfim lograr o desenvolvimento.

Diante desse esforço intelectual de síntese e argumentação, parece-me que a tentativa de exclusão da História Medieval do Ensino Escolar Básico por compor um “conteúdo eurocêntrico” cai por terra ante os elementos presentes em autores e pesquisas basilares da Historiografia Brasileira. Consequentemente, uma base sólida sobre o período medieval e a historiografia medieval mostram-se, por sua vez, menos irracionais e no mínimo salutares na reflexão acerca do passado e do presente brasileiro, tal como da produção historiográfica nacional.

Referências
Renan Marques Birro é professor de História Medieval e Ensino de História Medieval da Licenciatura em História (presencial e EAD) da Universidade de Pernambuco/Campus Mata Norte (UPE/MN), além de professor permanente do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) da UPE/MN. renan.birro@upe.br. Aproveito o espaço para agradecer ao Prof. Dr. Carlile Lanzieri Júnior (UFMT) pela indicação do texto de Carlo Ginzburg.

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36 comentários:

  1. Muito pertinentes as observações do texto. Grato pelo artigo. Sendo iniciante nos estudos e pesquisa do medievo, vejo como um grande obstáculo a inclusão e desenvolvimento dos estudos medievalistas no ensino básico (Fundamental e Médio). O primeiro problema é que os livros trazem uma análise dos países centrais (Inglaterra e França) e esquecem, por exemplo, da Península Ibérica, tão rica quanto e historicamente mais próxima de nossa própria história. Por que desta marginalização do medievo ibérico nesta estrutura de ensino? Há uma solução? Obrigado e parabéns...

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    1. Prezado(a), obrigado pela pergunta.

      É curioso notar isso porque vários historiadores brasileiros, ao tentar pensar nas "permanências medievais no Brasil", avançaram nas relações sobre a Península Ibérica. Porém, nos livros didáticos, fica nítida a adoção dos recortes que você elencou.

      A meu ver, isso avança em certa medida para aquilo que Boaventura de Sousa Santos chamou de "semiperiferia", além das relações de centro-periferia na própria Europa. Enquanto nosso referencial de centro pode ser Portugal, por exemplo, para os europeus, o referencial é outro. Assim, quando os franceses vieram ofertar sua contribuição, por uma miríade de fatores (inclusive essa que eu apresentei), parecia mais pertinente conectar-se ao passado francês em vez do passado português.

      Há outras razões também, mas acho que a apontada já permite refletir mais sobre o assunto.

      Obrigado pela pergunta!

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    2. Interessante. Noto, também, que se torna mais "confortável" à utilização de realidades francesas e inglesas devido ao imaginário que se criou no nosso ensino de história. O que levaria, em termos, à "marginalização" da história medieval ibérica. Observando a produção bibliográfica ibérica, tanto portuguesa e a espanhola (que tenho mais acesso), notamos uma pulgência de temas medievais, com vasto uso de documentação e acessibilidade (muitos títulos online e gratuitos). E esta produção é marginalizada, inclusive, por um grupo expressivo de jovens historiadores e por escritores didáticos. Agradeço o apontamento. E vamos manter o diálogo.

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    3. Olá Fábio,

      Então, eu tenho problemas quanto a substituição da Idade Média Francesa pela Idade Média Peninsular porque, no fundo, o colonialismo intelectual permanece. Enquanto produto de uma mescla de culturas, temos que procurar nossa própria dimensão conceitual para dar conta dos fenômenos históricos latinoamericanos. Lançar mão de arquétipos e conceitos aplicáveis ao contexto europeu pode até ser válido, desde que se faça o devido ajuste, adequação ou adaptação em vez de uma aplicação direta. Mas o ideal é pensar nosso conjunto conceitual no mesmo patamar do europeu e produzindo sua contraparte, ou seja, tentando aplicar arquétipos e conceitos do contexto latinoamericano ao passado europeu, com os devidos ajustes, adequações e adaptações. Nada de fomentar um sentimento de inferioridade.

      Cordialmente,

      Renan Birro

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  2. Perdão, esqueci de me identificar. Fábio Junho Silva. Obrigado

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  3. MANOEL ADIR KISCHENER

    Olá Professor! Olá a todos!
    Destaco este trecho de vosso texto, “[...] as discussões e preocupações acadêmicas muitas das vezes passam ao largo desses interesses e esforços, produzindo não só um isolamento, mas uma reflexão acadêmica que pouco dialoga com a realidade vivida”, o que penso ser, das maiores fraquezas dos historiadores, em seguida informa a respeito do consumo sobre o tema medieval, das várias formas e, chega a História Pública, quando afirma que “[...] o profissional do campo da História enfrenta recorrentemente uma concorrência desleal em termos de veículo, linguagem, acesso, flexibilidade e compreensão daquilo que a sociedade deseja consumir naquele momento, tal como uma limitação formativa e metodológica de como comunicar com a sociedade”, a respeito deste último trecho, se possível, gostaria de ver vossas considerações mais desenvolvidas a respeito da “limitação formativa e metodológica de como comunicar com a sociedade”, sobre as razões desta debilidade formativa, por assim dizer.
    Agradecido!
    Abraços!

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá Manoel, obrigado pela pergunta.

      Basicamente, a forma de interagir com o mundo mudou radicalmente nas últimas duas décadas - com especial atenção para a última, com a utilização cada vez maior de aparelhos touch screen. Por essa razão, a geração nascida de 2010 em diante passou a ser apelidada por alguns como "geração polegar".

      No entanto, os historiadores tem apego a formas de expressão e atuação que remontam ao século XIX: livro impresso, formato da aula, emprego de uma linguagem formal demais etc. Nada disso combina com o cenário atual. Qual o sentido de usar livros impressos (caros, pesados e com tiragens limitadas) se podemos usar ebooks, mapas interativos, vídeos?

      Porém, as grades das Licenciaturas em nada preparam o(a) graduando(a) sobre a utilização de TDIC's em sala de aula. Quando ocorre, salvo raras exceções, o(a) docente pede uma atividade na base do "se vire" (os estudantes que aprendam). Não é algo sistemático e integrado ao curso, e pouco depois esquecido por não ter o uso perpetuado.

      Consequentemente, o alunado tem cada vez menos interesse pela "História tradicional" e mais por aqueles recursos digitais que contam a História a partir de interesses alheios ao ofício do historiador (animações, filmes, games, podcasts, quadrinhos...). Essa é a impressão que tenho.

      Cordialmente,

      Renan Birro

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    3. MANOEL ADIR KISCHENER

      Agradecido, Professor! Concordo. E, basicamente (pensando em todos os professores de História) temos medo de tecnologia, é o que se observa nas escolas de Educação Básica, me parece que há um contraste entre uma geração analógica, nós e, a digital e, extremamente visual, a dos alunos. Quando um aluno puxa o celular se instaura um problema, quando poderia ser a solução para trazê-lo a aula, formar uma parceira de aprendizagem (até se poderá ter colega que discorde disso, mas é a realidade de muitas escolas) e, estimular o professor à busca pelo improviso (mas para improvisar é preciso se preparar, ler) e, achego às perguntas dos alunos que, quase sempre deixam o professor (se desprevenido) de certa forma amedrontado e, apavorado.
      E se pensarmos a docência no Ensino Superior mesmo, o mais progressista (diria populista) é fazer roda e, ler cópias e fragmentos de livros, impressos, notadamente girando entre o saber pretensamente centralizado do professor (que muitas vezes sequer leva a sério a ementa da disciplina, pelo que observo na própria vivência como aluno).
      Abraços!

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    4. Ah um debate controverso sobre isso que envolve os pretensos "nativos digitais" e os "migrantes digitais". De qualquer forma, a pandemia está aí para mostrar o resultado de dar aulas no formato instituído no século XIX. E agora?

      Abraços,

      Renan Birro

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  4. Boa tarde, Prof. Renan tudo bem?
    Gostei muito de seu texto, achei bastante reflexivo, e que espelha bastante a realidade de muitos medievalistas que se veem em meio a esses debates.
    Tenho alguns questionamentos em relação a temática abordada por você, mas ao invés da BNCC, gostaria de saber como você observa a avanço desses estereótipos nos periódicos, uma vez que, não temos no Brasil nenhuma revista brasileira especializada em História Medieval com qualificação máxima no Qualis Capes, que inclusive, é o próprio órgão que regulamenta a dita 'excelência' dos artigos que são publicados, através dos extratos avaliativos.
    Assim, é possível considerar que essas avaliações impactam o campo de medieval no Brasil? Já que os pesquisadores e professores universitários são praticamente compelidos a publicarem seus trabalhos em revistas não especializadas no assunto, e que nem sempre privilegiam a área com dossiês temáticos. Para você, esse problema das avaliações com os periódicos medievalistas, e a falta de dossiês para nossa área, acabam também incorporando esses estereótipos, e ajudam a reproduzir essas perspectivas de que o Ensino de História Medieval ainda está muito atrelado a perspectivas eurocêntricas?

    Um abraço.
    Geraldo Rosolen Junior

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    1. Olá Geraldo, tudo bem? Obrigado pela pergunta. Fico feliz que tenha gostado do texto.

      De fato, a Signum (Revista da Associação Brasileira de Estudos Medievais - ABREM) é a melhor qualificada no Capes/Periódicos - salvo engano, ela estava estimada como B1 (até o Qualis anterior). Mas convenhamos que os critérios ali adotados são uma piada: se eu publicasse em uma revista renomadíssima da minha área de formação no exterior, nem pontuação eu receberia porque provavelmente ela não estaria no ranking.

      Sobre os dossiês em revistas nacionais, tenho uma opinião distinta: espaços tem sido abertos com relativa frequência em periódicos com boa avaliação.

      A meu ver, o problema principal é a concentração/dependência excessiva nos enquadramentos conceitual e epistemológico da historiografia francesa. Além disso, nossos colegas de outras áreas nem se dão ao trabalho de saber o que produzimos e vice-versa. O diálogo é pouco consistente e pontual. Consequentemente, perdemos espaço em eventos, publicações e outras iniciativas.

      Cordialmente,

      Renan Birro.

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    2. Para evitar confusão: quando menciono os critérios, trato do Qualis Periódicos, não da referida revista.

      Cordialmente,

      Renan Birro

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  5. Caro professor Renan Birro, parabéns pelo texto, extremamente reflexivo, certamente somou/somará muito em minhas leituras.

    Gostaria primeiramente de pedir qual é o livro do Carlo Ginzburg utilizado, pois, apesar de mencionado no texto e nos agradecimentos, não aparece na bibliografia.

    A pergunta está em relação aos filmes e jogos, que conforme a citação Richard Utz são avassaladores contra o campo erudito. Filmes que aludem pontos mais próximos das fontes, devidamente passadas pela crítica historiográfica, não causam destaque no meio aos alunos da educação básica, reflexo dos pontos já elencados em seu texto. Mas eu lhe pergunto,como lidar com isso? Desconstruir os filmes em sala de aula, fazer textos sucintos explicando os nacionalismos e anacronismo presentes nessas produções? Qual caminho o professor acredita que deve ser seguido?

    Espero ter me feito entender; um abraço fraterno.

    At.te Gabriel Covalchuk

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    1. Obrigado, Gabriel. Espero que esteja tudo bem contigo.

      A entrevista de Carlo Ginzburg está na obra PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. As muitas faces da história. Nove entrevistas. São Paulo: EdUNESP, 2004.

      Creio que tudo pode ser feito. Mas para fomentar a agência estudantil (tratei um pouco sobre isso no evento do ano passado), talvez seja o caso dos historiadores abrirem suas grades e o ferrolho das grades das licenciaturas para habilitar os futuros professores a produzirem instrumentos educacionais (animações, games, HQ's, mapas interativos ...). A quantidade de possibilidades e ferramentas é enorme!

      Em suma, é preciso capacitar os professores para que eles repliquem a experiência com seus alunos, que tem um maior engajamento e atualização na utilização das novas TDIC's.

      Espero ter respondido a contento.

      Renan Birro

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    2. Estou ótimo professor, obrigado. A recíproca é verdadeira.

      Grato pela resposta; abraços fraternos.

      At.te Gabriel Covalchuk

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  6. Bom dia, o texto é excelente e levanta uma discussão muito pertinente acerca das bases curriculares do ensino de história no Brasil, meu comentário se direciona a última parte do texto, sobre as influências medievais na sociedade brasileira, até que ponto está de fato superada, ou pacificada na Academia a tese da "particularidade ibérica", de autores como Raymundo Faoro, que defende ter havido na região um feudalismo distinto do que se observa na região da frança e partes da Alemanha, geralmente o 'feudalismo clássico' estudado nas aulas de história medieval no ensino básico? Não seria legitimo desviar o eixo do medievo anglo-francês para o ibérico, muito mais influenciador do processos de formação nacional, sem no entanto negligenciar outras regiões?
    Pâmella Holanda Marra.

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    3. Pâmella, a perpetuação do uso do conceito "feudalismo" no Brasil vale uma pesquisa por si só. O texto da Ana e Ygor nesta(e) mesa/simpósio temático ajudam nesse sentido: a aplicabilidade do termo é circunscrita no tempo e no espaço, além de eivada de problemas. Há um intenso debate sobre o que seria entendido como senhorio, feudalismo e assim por diante. E se considerarmos as fontes, a variação sempre foi imensa!

      Além disso, particularmente eu encaro a aplicação do conceito "feudalismo" tal como ocorreu em boa parte do século XX como uma tentativa francesa longeva de colonização do passado alheio - algo que aqui encontrou terra fértil e perdura, por sinal.

      Consequentemente, pensar em "feudalismo ibérico" poderia ser uma saída; mas não incorreríamos em um colonialismo derivativo da perspectiva francesa, mas com um breve estágio na Península Ibérica (aquilo que foi chamado durante décadas de "feudalismo de exportação", por não se enquadrar no "feudalismo clássico")? Em suma, acredito que Eurípedes Simões de Paula e Ciro Flamarion Cardoso estavam certos: nunca houve feudalismo no Brasil.

      Cordialmente,

      Renan Birro

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  8. Olá professor! Boa noite. Queria te parabenizar pela sua pesquisa, que é bem pertinente e tem alguns pontos bem interessante e que estão ai no nosso dia a dia nas escolas.

    Essa questão eurocêntrica é um problema principalmente ao falarmos de história Antiga e Medieval, pois é vergonhoso que ainda não se tem uma história da Ásia (o qual saiu diversas civilizações de igual importância no nosso crescimento enquanto sociedade) ou uma história que a contemple de forma mais justa. Visto isso tenho duas questões:

    A primeira é que como falado pelo colega ali atrás, “os livros trazem uma análise dos países centrais (Inglaterra e França) e esquecem, por exemplo, da Península Ibérica”. Acrescento junto isso o mundo persa (Sassânida), viking/russo e turco-mongol que tiveram muita importância dentro desse período e que me parece ser ignorado. Nesse sentido, seria possível o estudo desses povos, mesmo que de uma forma geral? Se sim, como poderia ser feito ou pensado? Afim, de mostrar para o estudante tanto da graduação, quanto do ensino básico que existe algo bem mais amplo no mundo medieval do que feudalismo, Império Carolíngio, Igreja Católica, inquisição, etc.

    A outra questão, ainda vai em cima disso. Essa eurocentrização do ensino da Idade Média de certa forma fortalece o discurso de que mundo medieval em “Idade das Trevas”? Levando em consideração os focos de estudos já mencionados na pergunta anterior, as falas equivocadas de alguns colegas de profissão e de como a mesma são abordadas aqui no Brasil.

    Atenciosamente!

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    1. Olá Anderson,

      O problema é real. Por questões complexas, criamos a cadeira de História da África e História Indígena, mas não temos uma cadeira de História da Ásia (salvo em instituições enormes como a USP). Por outro lado, sou contrário a pensar em "História Medieval Oriental" ou "África Medieval". O termo Idade Média é aplicável apenas ao contexto europeu ocidental e a partir de uma reflexão densa.

      A questão da Idade Média como "Idade das Trevas" envolve os reflexos deixados pelo Renascimento e Iluminismo. Sobre isso já dispomos no Brasil de reflexões que sintetizam tais parâmetros desde os anos 90.

      Abraços,

      Renan Birro

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  9. Oi Professor...Parabenizo pelo vosso artigo e que nos faz pensar a respeito do futuro do ensino de história e ainda mais na importancia da história medieval e de seus elementos que não só permeiam a Europa, mas que é notável a sua influência aqui no nosso continente, o que nos faz pensar em uma história global e conectada.. Eu gostaria de saber primeiro se é possível então com as mudanças da BNCC serem postergadas? E uma outra pergunta é se outros países latino americanos ou até mesmo países como Japão ou do oriente possuírem em suas "BNCC" algo semelhante como essas mudanças?

    Edilson Bernardo de Oliveira

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    1. Edilson, o problema com a BNCC esteve mais presente na primeira versão. As versões seguintes, incluindo a ratificada em 2018, tiveram tal problema atenuado. Porém, a percepção de muitos colegas especialistas em outros recortes permanece. É um misto de cegueira, desconhecimento, falta de diálogo, pensamento provinciano e pobreza intelectual.

      Confesso que não sei como operam as universidades asiáticas em termos curriculares. Poderia ser uma boa pesquisa, mas foge daquilo que trabalho no momento.

      Abraços,

      Renan Birro

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  10. Prezado professor Renan Birro, parabéns pelo seu texto, ele me fez pensar...
    Acredito que a crítica eurocêntrica precisa ser discutida, refletida e também questionada, principalmente quando se trata do ensino de História Medieval no Brasil. Lembro-me do primeiro texto proposto pela BNCC e a polêmica em relação a exclusão dos conteúdos da Antiguidade e do medievo Europeu do ensino fundamental e médio, a reação dos instituto e associações em defesa dessa periodicidade histórica foi muito importante, porém, acredito que ainda falta-nos uma reflexão que extrapole a academia e ela chega efetivamente as nossas salas de aula. Digo sempre aos meus alunos (interior de Goiás), moramos em cidades que estão repletas de igrejas católicas (construções) onde os sinos ainda badalam, coisa que era comum no medievo, sem falar nas procissões e feriados religiosos que fazem parte de nosso cotidiano. Tudo isso, não nos permiti fugir dos temas/assuntos medievais, pois eles ainda estão presentes em nossa cultura. Foi muito bom ler seu texto.

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    1. Olá Max, tudo bem?

      Meu problema com a crítica dirigida aos estudos da Antiguidade e Medievo é que ela foi produzida por especialistas de outras áreas - não houve diálogo. E parece até que essas áreas não dependem, em termos teóricos e metodológicos, da História produzida na França. Crítica desavergonhada, digo eu!

      Seja como for, não elimina o eurocentrismo do debate. Creio que o debate decolonial está aí para pensarmos (e igualarmos) uma episteme tipicamente latinoamericana aos pressupostos científicos europeus, longamente usados para justificar nosso atraso e o desenvolvimento alhures.

      Cordialmente,

      Renan Birro

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  11. Olá, Renan. Sempre um prazer ler seus textos no evento. Não possuo perguntas, apenas venho fazer um convite para que, caso possível, dê uma olhada em minha comunicação (especialmente no item "Breves linhas sobre o medievalismo no Brasil"). Acho que nossos escritos se complementam em certo nível. Abraços!

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    1. Oi Eduardo,

      Li todos e gostei muito; inclusive citarei seu texto em um artigo que estou fechando esse mês. Certamente são complementares.

      Cordialmente,

      Renan Birro

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  12. Boa noite Renan, o teu texto é muito instigante e provocador. Mas ele nos deixa sem respostas. Existe uma? Quais as tuas hipóteses. Deixaste isso solto ao final. Abandonar a IM por ser eurocêntrica é ingenuidade, pois a fundo, a historiografia brasileira o é. Mas qual o caminho? À colega Isabella eu provoquei na mesma direção. Seria a antropofagia, ou uma historiografia pau-brasil? Temos aí um exemplo que, por um lado tentou ser original e brasileiro, mas não deixou de ser fruto da elite paulistana francófila. E que cara teria uma historiografia e um ensino de história "macunaímico"? Seria esse o grande desafio desse começo de século, em que pares opostos como eurocêntrico-decolonial se tornaram jargões onipresentes na academia, sem de fato arranhar mais que o verniz do fazer histórico?

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    1. Oi Lukas,

      A pergunta é boa. Meu problema não é a influência europeia, mas o sentimento de "vira-latas". Não sou a favor de um decolonialismo radical, nem do eurocentrismo inescapável. A saída é considerar ambos sem princípios hierárquicos e contribuir para o debate sem sentimento de inferioridade.

      Abraços,

      R

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  13. Olá, Renan Marques.
    Parabéns pelo texto.


    Muito se tem escrito sobre a necessidade de se estudar e pesquisar a Idade Média, por conta de uma perspectiva de comparação histórica entre tempos e espaços distintos. Faz-se necessário pensar outras culturas, povos, experiências e lutas de sujeitos em temporalidades múltiplas, no que eu concordo plenamente.

    Esta crítica simplista de que estudar a Idade Média é reproduzir uma visão eurocêntrica e colonialista não estaria vinculada à necessidade de valorizar - com justiça - o ensino de "realidades" mais próximas para a História do Brasil, como a História da África?
    Numa linguagem rasteira faríamos uma substituição dos estudos da Europa pela África? me parece que esta é uma direção e escolha militante e não-acadêmica. O que o senhor acha?

    Márcia Maria da Silva Barreiros

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    1. Olá Márcia, obrigado pela pergunta.

      Em parte, como tentei explicar, a crítica ao eurocentrismo é absurda, pois a História produzida no Brasil é fundamentalmente eurocêntrica, independentemente do recorte espaço-temporal.

      Em segundo lugar, não vejo qualquer prejuízo na ênfase em estudos brasileiros, regionais e locais; mas discordarei até o fim contra qualquer tentativa de exclusividade. A universidade é em essência um espaço da diversidade.

      Cordialmente,

      Renan Birro

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  14. Olá, Renam Marques.

    Uma segunda questão: Como professora de História Medieval, acredito que as críticas sobre o estudo desta espacialidade e temporalidade, advêm de preconceitos e muita falta de informação, ou melhor, informação deturpada acerca de um contexto de experiências culturais singulares e importantes para se fazer uma História comparada nos dias de hoje.
    pensando na perspectiva do professor Noberto Guarinello, o que você acha sobre o estudo e ensino da História medieval a partir da análise da
    História Global/Integrada e da História Comparativa?.


    Márcia Maria da Silva Barreiros

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    1. Márcia, bom dia.

      Sem dúvidas há falta de conhecimento e sua contribuição para os estudos de outros campos, abordagens e reflexões.

      Sobre a História Global/Conectada: acho que é um esforço muito válido para demover o eurocentrismo. Porém, como tentei explicar no texto, tudo vai depender da premissa epistemológica que servirá de esteio do esforço. Vejo pouco esforço por parte dos historiadores nacionais em avançar na discussão decolonial, por exemplo; mas quando é para garantir seu quinhão (História do Brasil, História Regional), vale até acusar o outro daquilo que você faz...

      Cordialmente,

      Renan Birro

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  15. Boa noite, muito obrigado pelo artigo! De fato um tema pertinente e que precisamos debater para melhorarmos o ensino, tanto pela prática do professor, quanto pelo envolvimento e interesse do aluno.

    Minha questão é relacionada a utilização de pesquisas literárias no ramo da história, como abrange-las nos conteúdos medievais passados para o ensino fundamental e médio?

    Friedrich Moraes de Oliveira

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