OS DITOS CRUZADOS DO SÉCULO XXI:
O BRASIL E A IDEALIZAÇÃO CONSERVADORA ACERCA DA PRIMEIRA CRUZADA
“Esta cruzada... esta guerra ao terrorismo
demorará um pouco. E o povo americano deve ser paciente. Eu serei paciente.”
[Bush, 2001], foi o que proferiu o presidente George W. Bush, de forma
resoluta, numa entrevista memorável diante o verdor do Gramado Sul da Casa
Branca, em Washington D.C. no dia dezesseis de setembro do ano de dois mil e
um, cinco dias após os atentados responsáveis pelas mortes de quase três mil
cidadãos norte-americanos em solo estadunidense. A resposta foi imediata,
apesar de sua retórica questionável ter sido pouco debatida frente ao impacto
carregado por aquelas mesmas palavras. As distintas reações correram o mundo de
maneira tão significativa, que tempos mais tardes o próprio Bush se desculparia
pela irresponsável alusão ao movimento bélico-religioso. Sua desculpa, no
entanto, ocorreu tardiamente.
Em sua colocação,
o presidente Bush evocava o sangrento conflito ocorrido durante Idade Média
entre a cristandade e os adeptos do islã. Esse conhecido momento histórico
ganhou força a partir do apelo feito pelo papa Urbano II no Concílio de Clermont em 1095:
“Depois de ter
descrito os sofrimentos por que passavam os cristãos do Oriente, o papa [Urbano
II] exortou os cristãos do Ocidente a que cessassem suas guerras fratricidas,
esquecessem seus ódios e se unissem para combater os pagãos e libertar seus
irmãos do Oriente. Sem esconder os desconfortos que encontrariam os peregrinos
em sua estrada, o papa apelou para a renúncia e o sacrifício, empregando as
palavras do evangelho segundo São Mateus (16:24): ‘Quem quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’. Perante tal apelo, a multidão
entusiasmada [...] decidiu-se, na mesma hora, de acordo com o bispo de
Puy-en-Velay, Adhémar de Monteil, nomeado legado papal e chefe da expedição, a
‘tomar sua cruz’ e fazer o voto de partir para Jerusalém. Como símbolo do voto
que haviam feito, os primeiros voluntários mandaram costurar nas costas de suas
vestes uma cruz de pano, o que fez com que fossem denominados os cruce signati.”[Morrison, 1984]
Coincidência ou
não, a fala do Chefe do Estado estadunidense marcaria apenas um primeiro
movimento estrategicamente bem tomado pelo seu lado da mesa. Estabelecido o
inimigo externo na mentalidade estadunidense, o país não tardou em lançar-se em
uma longa e violenta campanha militar contra o que os ianques compreendiam ser
o grande mal do novo século: a tirania de um Oriente Médio anti-liberdade; e,
quase como consequência, da própria religião que os moldava àquela forma: o
Islã. Assim a questão foi posta diante do Mundo Ocidental, uma distorção
perigosa, uma visão preconceituosa acerca de uma cultura que a nós era
geograficamente distante e culturalmente pouco conhecida. A nova leva de
preconceitos islamofóbicos nascidos daí seriam enraizados no senso comum de um
povo tomado pelo medo e pelo ódio. Nota-se o campo perfeito para um futuro
inundado de violência. Rapidamente, um cenário capaz de transformar Samuel P.
Huntington em um novo Nostradamus foi forçadamente definido. Ainda no dia
dezesseis de setembro de dois mil e um, Bush afirmou assertivamente: “É hora de
vencermos a primeira guerra do século XXI de forma decisiva, para que nossos filhos
e netos possam viver pacificamente [...]” [Bush, 2001]. Ironicamente, os passos
seguintes dados pela maior potência do mundo Ocidental culminariam em
resultados contrários àqueles prometidos pelas palavras problemáticas do senhor
Presidente. A guerra instigada por Bush reverberaria por um longo tempo, sendo
ela responsável por fortalecer células terroristas em território inimigo e,
acima de tudo, de incutir na mente islâmica um forte sentimento antiamericano
[O’Connor, 2004].
Deus Vult no Brasil: a expressão como símbolo da
idealização histórica
Pouco além de uma
década seguinte à entrevista do ex-líder norte-americano, os ecos de suas
palavras ainda ressoariam por todo sistema global de redes de computadores: a
internet ainda encontra-se atulhada de conservadores travestidos de inofensivos
criadores de conteúdos humorísticos; ávidos por alçarem uma bandeira cujo lema
atribuído às Cruzadas, “Deus Vult” (isto é, “Deus [o] Quer”), continua hasteado
num sinal quase sempre velado de uma nada cômica ameaça.
É no mínimo
paradoxal perceber como estas narrativas aparentemente supérfluas difundiram-se
por tanto tempo mesmo em mundos cujas realidades imigratórias possuem grande
dessemelhança com aquela sobre a qual ainda vivem os Estados Unidos da América
e seus antigos aliados das guerras travadas no Oriente Médio. Um fenômeno que
observamos não só surgir e sobreviver, mas também encontrar solo fértil em
terras tupiniquins [Delcourt, 2013]. No Brasil, país que atravessa uma séria
crise identitária, econômica e política desde o início da atual década, as
respostas velozes e imprudentemente práticas do conservadorismo verde-e-amarelo
serviram muito bem como respostas simples e prontas às indagações de uma massa
desnorteada em busca de um direcionamento que a guiasse diretamente ao sucesso
na resolução dos muitos impasses nacionais. Esta foi uma das razões pela qual o
ex-deputado federal Jair Messias Bolsonaro conseguiu ser eleito ao cargo mais
importante do país, mesmo submerso em declarações polêmicas contra grupos constantemente
marginalizados.
Sua eleição
devolveu-nos um antigo conhecido: “Está decretada a nova cruzada! Deus vult!”
[Martins, 2018], como publicou Filipe Garcia Martins Pereira, um influente
bolsonarista, em seu twitter pessoal
22 de Outubro de 2018, diante da vitória nas urnas do atual Presidente do
Brasil. Seu comentário serviu quase como um vitral ilustrativo (ou um espelho
distorcido) de uma realidade já vivida ao redor de todo o globo: a apropriação
de uma grave interpretação maniqueísta e superficial acerca das Cruzadas por uma direita conservadora.
Ora, no mundo em
que a cultura pop vende aos montes
produtos de teor pseudomedievalistas, não é de se espantar a fervorosa
afinidade da massa para com a Idade Média. O
Senhor dos Anéis, Vikings, Game of Thrones e até mesmo a saga Harry Potter usam e abusam de
representações que se distanciam, pela licença poética que carregam como obras
ficcionais, pelo desconhecimento ou pela simples liberdade, da realidade
histórica. As idealizações ultrarromânticas/neoromânticas carregadas nestas
inverdades, no entanto, descambam para um relevante problema público quando se
há um déficit claro no que diz respeito à compreensão nacional (e
internacional) acerca da Idade Média. Sobre isso, Richard Utz recobrou com
pesar que:
“Talvez nós temos
que começar admitindo que, ao gozar de um esplêndido isolamento –que nos
permitiu aprender muito sobre a cultura medieval –,falhamos ao compartilhar tal
conhecimento com o público. Como resultado, um filme de 178 minutos, Coração Valente (Braveheart) foi capaz de apagar aquilo que 150 anos de erudição
tinha estabelecido quanto à Primeira Noite do Senhor (um rumor de direito
feudal do senhor para tomar a virgindade das filhas recém-casadas de seus
servos).” [Utz, 2015]
O retrato desta
carência se faz presente não somente nos centros universitários, mas
transpassam mesmo a grossa muralha situada entre a pomposa técnica academicista
e a distante realidade educacional do Ensino Fundamental e Médio do país. Uma
parcela considerável das pesquisas brasileiras mais criteriosas (no sentido da
profundidade em seu conteúdo analisado) sobre a Idade Média mostram-se
incapazes de resvalarem no ensino escolar há muito engessado [Pachá, 2019].
Assim sendo, estas mesmas escolas continuam a reprisar uma historiografia
medieval embolorada e que, por diversas razões, apresenta os já conhecidos
cenários unilaterais, simplistas e acríticos.
O chamado pela cruzada: o breve período de
tentativa de desmarginalização das minorias
Quando a
ignorância é utilizada como ferramenta de manutenção de poder, espera-se certa
facilidade de manipulação massiva. Durante a última década, numerosos grupos
socialmente marginalizados assistiram, no Brasil e no mundo, a passagem fugaz
do lampejo de esperança ante os seus olhos. Com direitos conquistados ao redor
do globo através de históricos de longas e árduas lutas, pretos, mulheres,
indígenas e LGBTQIAP+
puderam fazer uso, em larga escala, de suas vozes roucas de clamarem por
igualdade e respeito. As políticas de inclusão tornaram-se, rapidamente,
elementos fundamentais para a vivência dignamente humana daqueles inseridos no
contexto das chamadas “minorias”. Assim, estes, que continuadamente eram
lançados à margem, puderam respirar aliviados por um breve momento [Andrighetto;
Olsson, 2014].
A dita maioria relutou, no entanto, para compreender a
importância desta onda de inclusão social no país. Não demorou até que os
conservadores tomassem a dianteira, pois, da estimulação de uma desavença que
seria transformada, no futuro, em espetáculo político. Logo uma lógica
execrável foi traçada e difundida: “se vejo mais marginalizado na rua hoje,
isso ocorre porque a esquerda promove a sua existência!”. Inflados de
preconceitos, os cristãos mais fervorosos logo iniciariam um período
conflituoso com a gente que havia, finalmente, adquirido o devido protagonismo.
O ápice deste conflito, conclui-se, deu-se durante a eleição presidencial de
2018.
Vivenciando um período do que, para a extrema-direita
nacional, é a demonstração clara da promiscuidade e da devassidão humana, o
conservadorismo brasileiro entende um risco (irreal) corrido pela moral e os
bons costumes cristãos. Assim, não é de se espantar que as Cruzadas
tenham servido como um dos
modelos norteadores de referência.
Entre a cruz e a espada: uma busca identitária
Concomitantemente
do anseio conservador-cristão, correu a busca por uma identidade perdida
através de um amontoado de retalhos da História. Mais: esta busca não se deu às
escuras, para encontrar algo em meio ao desconhecido, mas de conhecer a si
mesmo, sua pátria e sua gente, sem receios das peças que a própria História
poderia pregar. Não. Quando a empresa de produção cinematográfica encabeçada
por liberais, intitulada Brasil Paralelo,
publicou gratuitamente uma série de seis vídeos que propõe difundir a verdade
acerca da identidade brasileira, cujo conteúdo cabal do primeiro episódio é um
vasto panorama reducionista de uma “Europa medieval” somada à intensa campanha
em prol ao movimento cruzadista, sua intenção foi clara: não promover a
demonstração da verdade identitária – algo que buscam com avidez –, mas a
pretensão de ligá-la, de alguma forma, ao evento concluído por eles próprios
como a faceta bondosa de pretensas lutas maniqueístas na Idade Média; ao agir
assim, fizeram uso do condenável artifício de negacionismo histórico.
Deste modo, a
idealização da Primeira Cruzada,
tradicionalmente encerrada com a conquista cristã de Jerusalém em 1099,
respondeu à necessidade atual de estabelecer um modelo a ser seguido. Este
modelo está ligado à exclusão social do negro, do pardo e do mulçumano, o
apreço à virilidade masculina ante a fragilidade de características atribuídas
ao que é feminino e aos padrões nobres da justiça, da ética e da moral cristã,
fundamentos que dialogam assustadoramente bem com as exigências de um
conservadorismo atuante. Assim, proclamar “Deus vult” hoje é fazer parte de um
processo de readequação da História, sem se importar em de fato compreendê-la
em suas múltiplas interpretações (mas sem promover falseamentos).
Não obstante, não
é a primeira vez que estas readequações são feitas no sentido de
estabelecimento de um imaginário próprio acerca das cruzadas. Durante o período
de forjadura das identidades nacionais na Europa, a partir do final do século
XVIII, algo semelhante ganhou forma e força. É exatamente devido a isso, pois,
que a historiografia europeia menos recente é tão marcada pela valorização dos
homens que travaram contra os adeptos do islamismo uma sangrenta guerra santa.
Confrontando um conflito: a primeira cruzada
Mais de uma vez,
o entendimento das Cruzadas – e aqui vale um adendo: o termo “Cruzada”, tal
como utilizado em nossa contemporaneidade, tem seu uso datado a partir de uma
historiografia posterior a Idade Média. Durante o período medieval, as
expedições militares/religiosas eram muitas vezes referidas como “o caminho do
Santo Sepulcro” ou “a viagem de Jerusalém” [Morrison, 1984] – isto é, a ideia
de uma simples resposta defensiva da Cristandade diante da expansão violenta do
islamismo foi refutada. Desde os estudos do historiador inglês Jonathan
Riley-Smith (1938-2016), cuja vida foi dedicada à busca pela compreensão mais
crítica acerca evento, até uma visitação aos escritos mais tradicionais deste
lado do Atlântico a cabo do Jean Flori (1936-2018), é possível traçar uma
lógica que nos leve a perceber o fenômeno em suas múltiplas realidades.
Assim, podemos
afirmar que Concílio de Clermont
(1095), responsável por dar início à campanha em direção à Jerusalém, estava
longe de ser apenas um movimento de teor protetivo a uma cultura religiosa
ameaçada, como pregam os negacionistas que a nós são contemporâneos. O próprio
Papa Urbano II tinha interesses inegáveis nos benefícios que um evento daquele
porte poderia trazer, visto a perda recente dos domínios da Igreja com a cisma
da instituição quase meio século antes [Falbel, 2001].
De fato, um
receio pairava pelo território que hoje é compreendido como a Europa. As
tradições escatológicas em voga naquele período de austeridade advindas por
inúmeras guerras produziam um ambiente de supersticiosas e constantes
incertezas em torno do ano mil [Duby, 1967]. A intepretação literal de trechos
do livro bíblico do Apocalipse fazia o homem medieval repensar seus momentos de
depravação e conceber, de fato, partir numa luta em nome de Deus. Assim,
afinal, ele poderia ser agraciado pela redenção de sua alma concebida pela
autoridade divina do Papa. Além disso, a Conquista mulçumana da Península
Ibérica quase quatrocentos anos antes do chamado de Urbano II havia criado um
histórico no qual eles poderiam se fiar e, assim, buscar proteção.
Estes meros
fatos, no entanto, não foram suficientes razões para movimentar as tropas de
Balduíno, Boemundo, Eustácio III de Bolonha, Godofredo de Bulhão, Raimundo IV
de Toulouse e Roberto II da Normandia. Havia concomitantemente um desejo pela
possibilidade de novas riquezas e domínios. Esses anseios mostram-se claros nas
ocorrências de saques ao redor de Constantinopla por parte da força militar
popular da Cristandade, liderada por Pedro de Amiens, dada à longa espera pelo
auxílio logístico do Império Bizantino [Morrison, 1984]. Está exposto também na
retomada, pelas forças de Boemundo, de uma importante cidade bizantina:
Antioquia (conquistada por forças mulçumanas no 1085). Ora, este não tardou em
proclamar-se Boemundo I, príncipe de Antioquia, algo que desagradou
profundamente o Imperador.
Além das
pilhagens, a exagerada violência física também era uma realidade vivenciada por
aqueles que eram postos na posição de alvos da Cristandade. O que pode se tirar
como resquício da nobreza cristã de alguém como, por exemplo, Emico de
Flonhein? O líder cruzado, que tinha sob sua custódia um poderoso exército,
massacrou a população judaica das cidades de Spira, Mogúncia, Colônia, Trier e
Worms, mesmo quando seus senhores demostravam resistência [Falbel, 2001].
Existia, também, um esforço considerável da Igreja na tentativa de impedir a
proliferação de atos como estes, mas nem mesmo as ameaças de excomunhão
surtiram efeito, como mostra, por exemplo, outro assassinato em massa de judeus
em Praga por ordens do padre Volkmar.
Diante disso, fui
levado a crer que em época foi preciso produzir um inimigo externo que
materializasse a batalha entre as hostes celestiais e os verdugos do inferno.
Entrementes, devemos compreender que não havia razões para que o papa
endossasse genocídios apenas em nome da fé, da virilidade ou de riquezas. Para
não avançar em questões de cunho teológico, é possível avançar na ideia que as
Cruzadas não ilustravam uma batalha entre bons e maus, como têm se apressado a
colocarem os revisionistas conservadores. O presente trabalho, desta forma, não
tem a intenção de subverter ou inverter concepções heróicas ou vilanescas, mas
demonstrar que esses parâmetros foram muitas vezes idealizados e
instrumentalizados em prol de certos fins. O que havia, sem qualquer dúvida,
era um evento complexo que envolvia não somente questões de fé, mas também
tópicos culturais e, acima de tudo, políticos.
Considerações finais
A Idade Média,
mesmo em um cenário de retomada romântica e idealizada, apresenta, em seu
sentido mais historiográfico, um forte estigma ligado ao princípio de
distanciamento da realidade contemporânea. Este problema, amplificado devido
aos questionamentos de uma massa leiga acerca das razões práticas do estudo e
ensino da História, concede ao período uma imensa possibilidade de ser moldado
às necessidades de um tempo presente, sem que suas falácias sejam amplamente
denunciadas.
Resta-nos, posto
isto, expandir a compreensão geral com relação ao período para que, assim,
possamos demonstrar como seus elementos implicam constante e diretamente nas
múltiplas vivências que nos rodeiam.
Vivemos talvez o
momento ideal para que a Idade Média, em sua percepção diversificada, ganhe
espaço na compreensão pública: a popularidade, mesmo que de imaginários e
representações ficcionais, somadas a uma ampla nova historiografia que abrange
diálogos múltiplos, garante-nos inúmeras ferramentas para que possamos
demonstrar o período em seus aspectos mais complexamente reais, além das
possibilidades de diálogo com outros campos e problemas.
Referências
Juan Stephanié
Leal Araújo é graduando em Licenciatura Plena em História Universidade de
Pernambuco – UPE (Campus Mata Norte).
ANDRIGHETTO,
Aline; OLSSON, Gustavo André. Igualdade e proteção aos direitos das minorias no
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Acesso em 11 abr. 2020.
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ResponderExcluirOlá, primeiramente gostaria de ressaltar a importância de textos como este frente à tempos obscuros e incertos que vivemos, bravo! Observando o até então um ano e meio no cargo como presidente da república de Jair Messias Bolsonaro, podemos notar a constante criação de inimigos e sua necessidade de sempre estar "em combate" (uma hora contra o STF, outra contra seu antigo partido político, o PSL, por vezes contra a mídia e em outras contra todos ao mesmo tempo), isso para uma suposta manutenção de seu governo e do eleitorado. Na história estadunidense também pode-se dizer que, entre seus 200 e poucos anos, poucos destes foi vivido sem o país estar envolvido em nenhum conflito. Em seu texto você pontua que foi levado a crer que havia na época uma necessidade de criar um inimigo externo a ser combatido. Você acha que pode-se traçar um paralelo (lógico, de forma não anacrônica) entre essa necessidade constante de haver sempre um oponente a ser combatido em prol de uma nação, movimento, religião e afins?
ResponderExcluir(perdão o spamm, havia esquecido de me identificar)
-Guilherme Meneghetti Xavier da Silva
Oi, Guilherme. Como vai? Agradeço imensamente sua contribuição.
ExcluirAcerca de seu questionamento, acredito que o interesse em inimigos externos tem sido uma tendência comum à líderes demagogos ao longo de toda História, visto o seu uso recorrente por parte de personalidades com esta característica. De maneira geral, ao meu ver, a utilização desta estratégia parte de um anseio dos detentores de poder em unir massivamente o povo sob um estandarte comum, dirigindo, assim, quaisquer tendências agressivas para fora de sua zona de controle direto, suavizando possíveis conflitos internos e até mesmo criando cenários para a tomada de medidas políticas tiranas. Os objetivos específicos das campanhas que se utilizam desta ferramenta, no entanto, possuem singularidades históricas responsáveis por dificultar e, em certos casos, até impossibilitar o traçado de paralelos.
Falando especificamente daquilo que é mencionado em seu comentário, imagino que no caso dos Estados Unidos da América esta relação tem uma possibilidade mais deliberada de estabelecimento, principalmente levando em consideração seu histórico nas últimas duas décadas. O inimigo está em constante mudança, mas não ousa a desaparecer nem por um breve instante: num momento o perigo espreita sobre os muçulmanos, n’outro ele se avizinha e decai sobre os mexicanos, quando bem entende, salta para longe e se apresenta como chineses. Além deste tópico, entretanto, não consigo visualizar outros paralelos.
O governo Bolsonaro, por outro lado, se perde neste objetivo porque, ao longo do caminho, se ver submerso em problemas internos. As brigas constantes com STF, com partidos políticos e a imprensa, como você bem recordou, demanda tanto esforço de seus seguidores, que não sobra mais fôlego para grandes intrigas com Cuba ou mesmo com a Venezuela (como assistíamos durante sua ascensão). Mesmo na presente data, note, a pandemia de Covid-19 (potencial inimigo externo), tem sua proporção muitas vezes minimizadas, na medida em que o antagonismo é posto sobre os ombros de elementos brasileiros. Como resultado completamente distinto, vemos a manutenção de um país não alinhado em um ideal em comum, mas completamente polarizado.
Espero ter te respondido!
Juan S. Leal
Olá. Belo texto para tempos hodiernos estranhos, para dizer o mínimo. Lembro que outro momento da história contemporânea em que se evocou uma "Cruzada" foi o discurso de Dwight Eisenhower, então Comandante Supremo das Forças Aliadas, em seu discurso de 06/06/1944, para a Operação Overlord. Em se falando da terra brasilis, como é possível explicar esta visão canhestra de parte da sociedade? Má-fé? Ignorância história? Revisionismo malicioso-doloso? Qual a sua opinião? Congratulações. Willian Spengler
ResponderExcluirTudo bem, William? Fico grato não somente pelo questionamento, mas também por nos recordar da fala de Eisenhower; afinal, o termo não ficou restrito somente a sua utilização oral por parte do Comandante Supremo da OTAN durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi por ele também cristalizado no livro Cruzada na Europa, de 1948.
ExcluirRespondendo a sua questão: tratando de parte da sociedade brasileira, acredito que o mais sensato é percebê-la, de fato, como vítima da ignorância advinda do, como posto no texto, ensino engessado. Nosso sistema educacional público, em sua recusa por reformas significantemente positivas, cria uma base tão "anêmica", que torna o país um campo extremamente fértil para o plantio de ideias problemáticas. Em se tratar da Idade Média, devido as fontes bibliográficas reprisadas até hoje, a dimensão do problema se expande. Sobre esta última afirmativa: perceba que os livros didáticos de História do ensino fundamental e médio, ao trazer debates sobre um tema como o Golpe Civil Militar de 1964, conclui - na imensa maioria das vezes - o evento como um momento de violenta repreensão, censura artística e incertezas popular. O negacionismo, assim, existe com o sentido de desmantelar aquilo que foi aprendido. Ora, quando o tópico são as Cruzadas esta necessidade simplesmente não existe, já que os livros são os responsáveis por embarcar o discente numa viagem a um evento maniqueísta e tendenciosamente pró-cristãos. O negacionismo, neste último caso, se dá muito mais como uma ferramenta reacionária para se negar o acesso a informação correta, do que para revisionar o que foi aprendido na escola.
Espero que a resposta tenha sido útil à questão!
Juan S. Leal
Prezado Juan, gostei muito de suas reflexões, indispensáveis para o atual cenário político e cultural brasileiro. No fim de seu texto, você afirma que este talvez seja o momento ideal para a Idade Média ganhar espaço na compreensão pública. Recuperando aqui a citação de Utz, que diz que, apesar de aprendermos muito, falhamos em compartilhar tal conhecimento com o público, pergunto se os historiadores, e em especial os dedicados à História Medieval, deveriam ocupar novos espaços de publicação, distantes do qualis da CAPES e mais próximos de um público mais amplo e diversificado, como vídeos, entrevistas, podcasts. Em outras palavras, para que esse conhecimento busque um público maior, visto que o grande público pouco busca nos estudos historiográficos mais qualificados e acadêmicos.
ResponderExcluirOi, Renato! Tudo certo? Agradeço pelas considerações e fico feliz que tenha gostado.
ExcluirSobre sua indagação, penso que sequer existem espaços para dúvidas! Aos montes, temos perdido local de fala para pessoas cujo conhecimento histórico é deturpado e, por consequência, perigoso. Não temos qualquer tipo de controle sobre conteúdos publicados pelos ditos "influenciadores digitais", como resultado, por exemplo, ao anúncio de um jogo como o Assassin's Creed: Ragnarok, assistimos a uma série de compreensões errôneas acerca dos nórdicos sendo proliferadas como verdades absolutas. Neste sentido, entendo a ocupação de locais mais populares, cujo acesso seja mais democrático, não somente como uma necessidade latente, mas também como um dever acadêmico (e aqui vale lembrar, ainda mais no momento em que nos encontramos, que não somente a História é atacada por hordas anti-científicas). Cruzar os braços e nos levantar o queixo, visando sempre o que há dentro da Academia, fez surgir imensas problemáticas que agora viram-se contra nós. Dialogar com o povo, pois, me parece a única solução. E que maneira melhor de o fazer, senão se utilizando das ferramentas responsáveis pela criação dos monstros que subvertem a História (isto é, a internet como um todo)?
Fico feliz em notar um aumento considerável no número de podcasts históricos, no entanto, não devemos nos dá por satisfeitos.
Espero que lhe tenha sido claro, Renato!
Juan S. Leal
Opa Juan, primeiramente queria dizer que sua comunicação foi importantíssima para algumas reflexões que eu já possuía quanto à apropriação da Idade Media pela extrema direita brasileira. Um episódio que volte e meia é incorporado pela extrema direita, embora não tão "famoso" quanto as cruzadas, é a Conquista de Constantinopla (1453) pelos Turcos que volte e meia aparece em grupos de Facebook e páginas de memes de extrema direita. Quando me deparei com esses usos e abusos do episódio histórico referido, refleti bastante sobre o papel que talvez o ensino de História na escola tem na representação destes momentos históricos. No caso da conquista de Constantinopla, inclusive meu próprio livro do Ensino Médio, delineava uma certa importância desta conquista para as Grandes Navegações uma vez que as rotas comerciais de especiarias estariam "fechadas" pelo poder muçulmano. Estes parecem ser incapazes de tirar proveito do comércio, ao menos é o que os livros didáticos que consultei e que citam o episódio deixam transparecer, uma interpretação histórica que relembra o orientalismo de Said. Com seu texto acabei expandido um pouco os horizontes e vendo que, na verdade, há muito além de um "problema de ensino", como você citou, a indústria midiática, o academicismo também influem para esta incompreensão histórica.
ResponderExcluirMinha pergunta é quanto a representação das cruzadas em livros didáticos. Há uma interpretação das cruzadas nos moldes mais aprofundados como você explicitou no seu texto ou as interpretações estão "defasadas" como no caso que citei? Poderíamos dizer que, em parte, a ausência ou a forma que as cruzadas são apresentadas em sala de aula tem influência na apropriação da extrema direita deste momento histórico?
A segunda pergunta dialoga com esta primeira. Apenas quero saber uma opinião sua. Como nós da academia podemos nos afastar deste academicismo e como lidar com estas apropriações da história com narrativas cheias de meia-verdade e distorções históricas.
Obrigado,
Igor Oliveira de Souza
Oi, Igor! Como vai? Fico feliz que o texto tenha contribuído positivamente para a expansão de seus horizontes! Agradeço sua contribuição.
ExcluirIgor, sobre seu questionamento a respeito de como a Cruzada é exposta em livros didáticos, me baseando numa análise que iniciei recentemente (cuja continuidade fora prejudicada devido a pandemia de Covid-19), posso te dizer que nadamos à amplas braçadas num campo completamente defasado. Em pouquíssimos casos pude notar a tentativa de um esboço mais crítico, mas, no final, não passam disso: meros esboços pseudo-críticos.
Assim, te afirmo categoricamente que, de fato, o problema de compreensão histórico sobre o tema contribui diretamente para sua apropriação e readequação. Cria-se, desde a escola, uma visão romântica e cristã, um cenário em que, frente ao perigo eminente, a fé levantou-se e superou as maléficas adversidades. O resultado é o que vemos hoje: a utilização desta narrativa tanto para memes baseados numa interpretação irreal, quanto para a criação de um traçado identitária entre o povo brasileiro e os Templários, para nos justificar como nação cristã.
Acerca do seu segundo ponto, penso que, dentro da Academia somos constantemente levados a pensar na linguagem popular como algo de menor valor. Assim a gente se restringe ao nosso próprio círculo e, ironicamente, produzimos para nós mesmos. Quando o povo saiu a rua para defender contingenciamento e cortes de verba voltada a educação, por exemplo, não deveríamos nos irar com a exibição da mais genuína ignorância, mas nos questionar sobre a razão pela qual nossas publicações tem apelo quase nulo entre a massa. Se algum elemento falhou nesta equação, não foi o povo que não consume o que produzimos, mas nós, que não produzimos para o povo. Assim, Igor, acredito que a solução, como já esbocei no comentário em resposta ao Renato Viana Boy, acima, está em nos apropriarmos daquilo que tem consumo massivo: seja vídeos, ou podcast,
sejam entrevistas ou monólogos menos "esnobes", se me permite o uso da palavra. Até mesmo dentro de sala de aula podemos tomar atitudes, veja só. Ora, por que não levar para o ensino médio alguma pesquisa mais densa e dilui-la para a compreensão do público? E por que não estimular que aquele exercício seja feito em casa, por parte dos próprios discentes? Esta é minha visão.
Espero que a resposta tenha sido satisfatória!
Juan S. Leal
Olá Juan. Gostaria de parabenizá-lo pelo excelente texto. Muito pertinente ao contexto social e político que vivenciamos no Brasil. Juan, em dado momento de seu texto você cita sobre como o ensino de Idade Média no âmbito escolar se engessou, no tange a manutenção de um conhecimento unilateral, simplista e acrítico; além disto, cita também que vivemos em um momento ideal para a propagação de um medievo, no espaço e na compressão pública, mais diversificado. Considerando isso, vem minha pergunta: levando em conta o contexto de distanciamento do discente, da sala de aula, por contado da pandemia do coronavírus; do aumento do uso de recursos digitais para o ensino a distancia desses alunos - que muitas vezes se torna inacessível para outros; e considerando que muito dos veículos de propagação do pensamento relativista, romantizado e idealizado sobre a Idade Média hoje, tomarem amplo espaço nos meios digitais, como é que podemos aliar esses recursos digitais na tentativa de descontruir esse imaginário medieval relativista? em um futuro, pós-pandemia, como trazer esse recursos para a sala de aula? e se é possível traçar um visão teórica desse processo crítico, para que possamos retornar esse assunto ao meio acadêmico?
ResponderExcluirGustavo Afonso Bennato Teodosio
Oi, Gustavo! Tudo bem? Agradeço imensamente seu comentário. Fico feliz que tenha gostado do texto.
ExcluirRespondendo às questões que você me trouxe, penso que a melhor maneira para desconstruir o imaginário deturpado sobre a Idade Média é, antes de tudo, compreender de que forma ele é formado. Devemos observar o comportamento do público que toma estas inverdades como bandeiras, procurar entender porque o faz e quais são as implicações públicas de suas ideias. A partir disto, e aí já salto para uma breve pincelada nas perguntas seguintes, podemos, de início, evitar a perpetuação destas fraudes históricas utilizando a melhor ferramenta que possuímos à disposição: a sala de aula. Vendar-se e fingir que não existem relativizações, é esquecer que os discentes logo estarão frente a elas e que, se não devidamente instruído, poderão toma-las como a realidade as quais nós lhes ocultamos.
É também tempo de contra-atacar, Gustavo. Por que somente aceitar a supremacia relativista nos meios digitais? Se o discurso acadêmico soa pedante ao grande público, então que o readequemos nos meios em que se pede, sem que haja perdas no que diz respeito à passagem do conteúdo.. Sendo abrangente: se séries de TV como Vikings, jogos como a franquia Assassin’s Creed (cujo a temática é, desde sempre, histórica), filmes como a trilogia O Senhor dos Anéis e livros como a saga Percy Jackson atrai o interesse voraz dos mais jovens, por que descarta-los do ambiente escolar? Somente em razão das idealizações ultrarromânticas que contêm? Não parece muito mais oportuno levar à cabo a leitura, ou exibição de, por exemplo, as Crônicas de Nárnia para que, em seguida, se faça um despedaçamento das muitas camadas da obra, com a finalidade se separar a fantasia abstrata dos elementos históricos observados e, ainda, tratar em aula acerca destes mesmos elementos resgatados no cerne da obra?
No mais, em se tratar da questão teórica, aproveito para fazer indicação de um livro que introduz bem o tema do uso de ferramentas tecnológicas em sala de aula, chamado Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação (2015), dos professores Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Fernando de Mello Trevisani. Com esse gancho, finalizo lhe apontando que na Academia, mesmo inseridos em ambientes ligados à didática, algumas vezes esbarramos em obstáculos de um tradicionalismo problemático que acaba tangendo para longe debates como este, em questão. A criação, manutenção e expansão de espaços em que se possibilita um desenvolvimento mais crítico sobre o tema – como o espaço que temos nesse Simpósio, por exemplo – é, além de louvável, necessário.
Espero que minha resposta tenha lhe sido satisfatória, Gustavo. Peço perdão pelos muitos questionamentos, por mais que eles tenham sido retóricos. Faço-os, obviamente, no intuito de levantar novas reflexões.
Cometi um erro replicando ao seu comentário num campo indevido, então me perdoe se eu lhe tiver feito ler novamente a mesma resposta.
Juan S. Leal
Oi, Gustavo! Tudo bem? Agradeço imensamente seu comentário. Fico feliz que tenha gostado do texto.
ResponderExcluirRespondendo às questões que você me trouxe, penso que a melhor maneira para desconstruir o imaginário deturpado sobre a Idade Média é, antes de tudo, compreender de que forma ele é formado. Devemos observar o comportamento do público que toma estas inverdades como bandeiras, procurar entender porque o faz e quais são as implicações públicas de suas ideias. A partir disto, e aí já salto para uma breve pincelada nas perguntas seguintes, podemos, de início, evitar a perpetuação destas fraudes históricas utilizando a melhor ferramenta que possuímos à disposição: a sala de aula. Vendar-se e fingir que não existem relativizações, é esquecer que os discentes logo estarão frente a elas e que, se não devidamente instruído, poderão toma-las como a realidade as quais nós lhes ocultamos.
É também tempo de contra-atacar, Gustavo. Por que somente aceitar a supremacia relativista nos meios digitais? Se o discurso acadêmico soa pedante ao grande público, então que o readequemos nos meios em que se pede, sem que haja perdas no que diz respeito à passagem do conteúdo.. Sendo abrangente: se séries de TV como Vikings, jogos como a franquia Assassin’s Creed (cujo a temática é, desde sempre, histórica), filmes como a trilogia O Senhor dos Anéis e livros como a saga Percy Jackson atrai o interesse voraz dos mais jovens, por que descarta-los do ambiente escolar? Somente em razão das idealizações ultrarromânticas que contêm? Não parece muito mais oportuno levar à cabo a leitura, ou exibição de, por exemplo, as Crônicas de Nárnia para que, em seguida, se faça um despedaçamento das muitas camadas da obra, com a finalidade se separar a fantasia abstrata dos elementos históricos observados e, ainda, tratar em aula acerca destes mesmos elementos resgatados no cerne da obra?
No mais, em se tratar da questão teórica, aproveito para fazer indicação de um livro que introduz bem o tema do uso de ferramentas tecnológicas em sala de aula, chamado Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação (2015), dos professores Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Fernando de Mello Trevisani. Com esse gancho, finalizo lhe apontando que na Academia, mesmo inseridos em ambientes ligados à didática, algumas vezes esbarramos em obstáculos de um tradicionalismo problemático que acaba tangendo para longe debates como este, em questão. A criação, manutenção e expansão de espaços em que se possibilita um desenvolvimento mais crítico sobre o tema – como o espaço que temos nesse Simpósio, por exemplo – é, além de louvável, necessário.
Espero que minha resposta tenha lhe sido satisfatória, Gustavo. Peço perdão pelos muitos questionamentos, por mais que eles tenham sido retóricos. Faço-os, obviamente, no intuito de levantar novas reflexões.
Juan S. Leal